Saindo da bolha

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Mark Lee não era a pessoa mais romântica do mundo, ele sempre repetia isso para si mesmo, mas algo mudou quando conheceu Lee Donghyuck. É clichê falar assim, mas a partir da primeira troca de olhares, Mark já sabia que e apaixonaria.

Donghyuck, por sua vez, era um menino introvertido até demais para notar que Mark lhe lançava olhares que nenhum de seus colegas jamais lançou. Veja bem, a personalidade do Lee mais novo era instável; na escola, se fazia de divertido e brincalhão, mas era só colocar os pés pra fora dela que voltava a viver em seu próprio mundinho. Seu e de Huang Renjun.

Renjun era o amigo perfeito, o único que Donghyuck teve desde muito novo. Não lembrava-se de quando o conheceu, muito menos o porquê de serem tão grudados – talvez fosse a intimidade que ganharam ao longo dos anos, mas também não se lembrava de uma época onde não eram assim. Era estranho, mas parecia certo o suficiente para que Donghyuck não questionasse.

Houve certa retaliação quando Mark tentou se aproximar pela primeira vez. Ele não demorou a perceber que o garoto da escola e o garoto que o acompanhava até o ponto de ônibus não eram os mesmos, e se surpreendia por ter sido o primeiro, afinal, havia um grande contraste entre os dois. Era bem óbvio, para falar a verdade. Renjun, como o amigo fiel de sempre, se preocupava em ser a única companhia de Donghyuck para sempre. Não achava isso saudável e nem recomendável, mas não conseguia simplesmente dizer para o amigo se livrar dele logo e deixá-lo ir. Era difícil, afinal, o único de Renjun também era o Lee. Não queria perdê-lo.

As coisas começaram a mudar de figura perto do Natal daquele ano. Mark se transferiu para a escola após as férias de julho, faziam apenas seis meses que conhecia Donghyuck, mas mesmo assim pediu para passar a ceia com sua família. O mais novo não soube como negar o pedido, afinal, o outro estava sozinho em seu país Natal, sem qualquer parente e por puros fins de estudo. Era estranho como um adolescente conseguia se manter sozinho, Donghyuck pensava, mas talvez Mark não fosse tão só assim. Não como ele.

Durante a ceia, Mark percebeu algo ligeiramente estranho. A família toda conversava sorridente, trocaram presentes às 00:00, mas parecia que tinha alguém à mais alí – ou talvez faltando, já que Mark parecia ser o único que não o via. Todos conversavam abertamente com um tal "Renjun", menos Mark, porque ele não estava alí. Pensou que seria melhor não perguntar sobre isso diretamente à Donghyuck, então fez o que parecia mais certo e perguntou para a mãe do Lee se seu novo amigo tinha algum tipo de doença que o fazia acreditar em coisas que não existiam, e a família apenas incentivava porque os médicos diziam ser melhor do que retaliar. Com um sorriso doce e melancólico ao mesmo tempo, a matriarca da família respondeu:

– Ele é assim desde pequeno, não tem um motivo específico, mas eu tenho certeza que é efeito das nossas várias mudanças durante sua infância. – ela fez uma pausa, olhando por cima do ombro de Mark para enxergar melhor o filho sentado próximo à árvore de Natal, conversando com o pai. – Donghyuck não conseguia fazer amigos porque ficávamos pouco tempo em cada lugar, por causa do trabalho do pai dele, e quando finalmente paramos em um lugar, ele já tinha criado o Renjun.

– Criado? – Mark levantou uma sobrancelha, incentivando a mulher a continuar a falar. Não tinha certeza se seu pensamento sobre aquilo estava certo. – Como um amigo imaginário?

– Sim… um amigo imaginário. – a mais velha concordou, voltando a sorrir de forma triste ao encarar a sobremesa que preparou mais cedo com o filho. – Nós não tivemos coragem de contar a ele sobre isso. Passamos um longo tempo incentivando ele a tentar fazer amigos na escola, mas parece que isso só fez com que ele ficasse mais grudado ainda na imagem que criou.

Mark não perguntou mais nada. Sentia-se com o estômago embrulhado, como se tivesse perguntado algo que não deveria saber sem ter um nível altíssimo de intimidade com Donghyuck, algo que ele mesmo deveria ter lhe contado. Se sentia errado. Naquela noite, Mark não dormiu, mas passou a madrugada sonhando acordado em como Renjun deveria ser na mente de Donghyuck.

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