Backyard

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— Ei — James Sirius chamou, como sempre, debruçado sobre o baixo muro de tijolos à vista que demarcava o quintal da casa de Rose. Ele estava com os seus amados cachos molhados, camiseta roxa de um time de basquete cujo nome sempre fugia à mente da garota, indo para sua casa após o costumeiro treino de quinta-feira.

— Dois minutos fora do horário — ela resmungou, esticando os braços para cima num alongamento; o rosto contorcido numa careta de cansaço.

— Dois minutos distraído pensando em você.

— Ou se esquecendo de como amarra o tênis.

— Ou lembrando que você está com os meus fones de ouvido — sorriu, assistindo-a pegar os fios cor de rosa que ela mesmo lhe dera no Natal. Rose jogou os fones na direção dele.

— O lado direito está mais fraco do que o esquerdo.

— Talvez eu tenha deixado cair uma vez.

— Algumas vezes.

— Isso significa que pode me dar um novo.

— Ou que você tem que ser mais cuidadoso.

— Sou cuidadoso — concordando num murmúrio, pegou o rádio que há poucos minutos ainda tocava a música da sua nova coreografia para deixá-lo em cima da mesa da varanda coberta. — Quer dar uma volta?

— Uma ou duas?

— Duas — ela riu, negando com a cabeça. Calçou os sapatos com o auxílio do dedo indicador, e soltou o cabelo do rabo de cavalo enquanto passava pelo portão que James mantinha aberto. Recebeu um beijo na bochecha antes de iniciarem a rotineira volta.

Às terças e quintas Rose sempre ensaiava no quintal as coreografias do clube de dança; perto das seis e trinta parava, e saía para dar algumas voltas no quarteirão de sua casa junto com James Sirius, que morava no quarteirão seguinte. Por isso sempre davam duas voltas: uma em cada quadra, e se despediam no meio da rua.

— E aí? Você parece estar mais chata hoje — constatou ao tirar o celular do bolso. Conectou o fone de ouvido, abriu o spotify na playlist de músicas "Rose".

— Eu e a Domi discutimos, tirei oito na prova de Biologia, meu irmão pediu para o meu pai fazer beterraba para o jantar e-

— E...? — gentilmente, pôs o fone no ouvido dela.

— E você se atrasou dois minutos. Está tudo dando errado hoje.

— Ah, sim, quem é que pede beterraba para o jantar, afinal? — era a única coisa no mundo que não agradava o dragão que morava no estômago de Rose.

— Exatamente. Poderia ser uma pizza, hoje é quinta!

— É, hoje é quinta — repetiu, bocejando. Rose riu, as orbes verdes cintilando num alvo imaginário naquela rua vazia.

James sorriu de canto, fitando-a de soslaio durante os minutos sem conversa. Não era como se ele não tivesse consciência de que poderia passar o resto da semana andando sem rumo com ela, e não era como se ela não sentisse ele lhe observando, as batidas descompassadas de seu coração surrado e bem adaptado à doses precisamente exatas e homeopáticas de adrenalina não deixavam nada encoberto.

A brisa de primavera, gelada no grau certo, parecia querer vê-la flutuando com as asas que aquela coisa estranha, que fazia seu ar faltar, parecia lhe dar — coincidentemente, todas terças e quintas-feira.

— E como foi o seu treino?

— Normal — deu ombros. — Quer dizer, acho que o Fred vai ter que engessar o braço e, pelo o que eu ouvi, a Roxanne terminou mesmo com o Lorcan.

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