Girls.

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Millie

Tudo aconteceu muito rápido.

Medo.

Raiva.

Indignação.

A exatos dois anos atrás me descobri, eu era lésbica, gostava de garotas e não sentia nenhuma atração por garotos, me assumi apenas para o meu melhor amigo de toda vida. Caleb, ele me entendia e me aceitou como eles deveriam ter aceitado, eu sempre soube que não iria ser fácil me assumir para a família que pregava qualquer tipo de ódio por uma pessoa homossexual.

Mas eu não imaginava que poderia ser assim.

Eu estava na sala vendo um filme, eu nunca tinha visto então não imaginava que poderia ter uma cena em que duas garotas se beijassem e maldita hora para meu pai passar na frente e ver a cena, os gritos dele mandando eu desligar a TV e ir para o quarto, minhas lágrimas caindo enquanto ele berrava nos meus ouvidos dizendo "Isso é uma vergonha". Minha mãe entrará na sala no mesmo momento em que eu gritei com ele.

-- UMA VERGONHA É ESSAS PORCARIAS QUE VOCÊ FALA! EU JAMAIS QUERO SER IGUAL A VOCÊ

Não sei se era possível, mas os olhos do meu querido pai ficaram ainda mais arregalados, o tapa ardente que levei no rosto e os gritos alvoraçados da minha mãe era tudo que eu ouvia.

-- APOSTO QUE VOCÊ É UMA MERDINHA IGUAL A ELES! SE FOR NA MINHA CASA VOCÊ NÃO VIVE MAIS!! - Meu pai gritou -

E aqui estou eu, com minhas coisas dentro de uma mala e sentada no mesmo lugar aonde toda merda começou, meu rosto estava inchado e meus olhos vermelhos por conta dos choros e a garganta doía pelos berros. Meu cabelo estava uma bagunça e eu ainda estava vestida com o pijama de ursinho.

Meu pai estava lá fora fumando e minha mãe no quarto, com todo esse silêncio era possível se ouvir os soluços dela. Meu semblante era neutro, mas por dentro a raiva me queimava.

-- Ele chegou - Disse meu pai ao abrir a porta -

Peguei as malas na mão e passei por ele me mantendo forte, cheguei no jardin e Charlie (meu irmão) pegou as malas colocando elas dentro do porta malas, ele olhou para mim e negou com a cabeça mas eu não reagi.

-- Você é uma péssima filha. - Meu pai disse -

Tirei coragem do fundo da minha alma e fiz algo que prometi jamais fazer, mostrei o dedo do meio para o meu pai antes de dar as costas e entrar no carro junto com Charlie. Quando Charlie ligou o carro olhei de relance para o retrovisor e vi a cara de indignação do meu pai, aquilo me fez dar o primeiro sorriso do dia.

O caminho para o tal internato foi tranquilo, peguei meus fones de ouvido e ignorei Charlie que dizia sobre o quão eu magoei meus pais. Quando chegamos em um portão grande e meio rústico, consegui ver uma construção com vários prédios e árvores em volta, deveria ter mais de mil janelas naquele lugar e também tinha um pequeno "parque" do lado de fora.

Descemos do carro e Charlie pegou minhas coisas, só agora consegui reparar que ainda estava com a minha regata do pijama e a bermuda conjunto, ouvi passos se aproximando e levantei meu olhar para ver duas moças paradas na minha frente. Seus cabelos morenos soltos e usavam uma camisa branca e uma saia xadrez preta.

-- Boa tarde, somos as monitoras do internato - A mais alta disse -

-- Vamos te apresentar as regras, os locais e seu quarto - Disse a baixinha

Elas se viraram e começaram a andar, olhei para os lados e vi que Charlie tinha sumido e já que eu não poderia fugir desse lugar, resolvi seguir as duas "monitoras".

Assim que entramos vi um pátio grande e uma escadaria enorme, várias garotas com o mesmo uniforme desciam e subiam rapidamente, algumas estavam sentadas com livros ou no celular, outras paradas conversando. Apenas garotas.

-- Não tem nenhum menino? - Perguntei -

As duas moças se encararam e riram como se eu tivesse acabado de contar uma piada.

-- Esse internato é só para garotas - A mais alta sorriu -

Meus pais... Eles não pensavam direito.

Voltamos a andar e pude perceber que algumas meninas me olhavam e deveria ser o fato de eu estar apenas de pijama e descabelada, mas eu estava tão enfurecida na hora que nem pensei em trocar de roupa. As monitoras subiram as escadas e eu fui obrigada a acompanhar.

-- Meu nome é Natalia Dyer, pode me chamar de Natty ou apenas Dyer - A mais baixa se apresentou -

-- E eu sou a Francesca, pode me chamar de Fran apenas - A mais alta disse -

Pelo menos agora as estranhas tinham nome. Depois de subirmos a escadaria chegamos em outro pátio com várias mesas separadas e algumas garotas estavam sentadas no banco formando grupinhos.

-- Esse é o refeitório, você pode vir sempre aqui desde que limpe seu lugar - Natalia falou autoritária -

Passamos por uma porta grande aonde tinha alguns sofás e puffs e havia também grandes prateleiras com livros.

-- Aqui é a biblioteca, é proibido vir comer aqui e todos os livros que pegar vai ter que devolver no prazo - Francesca disse -

Demos a volta e subimos mais escadas que tinham ali, pelo visto eu me perderia facilmente naquele lugar só pelo tamanho e eu estava certa, havia muitas e muitas janelas naquele internato. Eu já estava ficando cansada daquelas escadas até pararmos em outro corredor com imensas portas.

-- Esse é os dormitórios, você vai ter duas colegas de quarto e terá que acordar as 6:00 em ponto da manhã - Fran contou -

Paramos em uma porta, mas antes de entrarmos as garotas se viraram e me olharam nos olhos.

-- Este lugar tem o objetivo de tornar garotas em mulheres, se você está aqui concerteza tem um motivo - Natty disse -

E que motivo.

-- Você só poderá sair apenas quando seus pais permitirem e verem que você mudou o "motivo" da sua vinda - Fran disse -

Ok, vou passar o resto da minha vida nesse inferno.

-- É proibido bebidas e drogas, se você fuma é permitido apenas se seus pais liberarem para a diretoria - Fran disse -

-- Use sempre o uniforme, não temos horários exatos para dormir mas você deve acordar no horário marcado e participar de todas as aulas - Natty sorriu -

Francesca abriu a porta e elas entraram na frente parando diante uma cama, o quarto era bem espaçoso e tinha vários pôsteres e três camas, duas arrumadas e uma perto da janela toda bagunçada. Olhei para a janela e vi uma garota de cabelos ruivos e longos de costas.

-- Suas colegas de quarto são Lilia Buckingham e Sadie Sink - Fran disse -

A garota ruiva se virou e tudo derrepente ficou em câmera lenta, os cabelos soltos foram jogados para trás e ela soltou uma fumaça até eu perceber que a mesma segurava um cigarro, sua pele pálida era linda e aquela garota... Aquela garota era simplesmente uma deusa.

boarding school for girls, sillieOnde histórias criam vida. Descubra agora