Hoje era dia 2 de setembro, um dia muito especial, o aniversário do meu namorado.
Nossa relação não estava mais a mesma há algum tempo e eu esperava melhorá-la com uma surpresa. Fui a uma confeitaria buscar um bolo que eu já havia encomendado com antecedência e, no caminho, conferi em meu celular se ele havia respondido minhas mensagens, mandadas naquela manhã, marcando de encontrá-lo no local citado. Ele havia visualizado e não respondido, algo que já estava se tornando comum.
Cheguei no local, retirei meu bolo e o paguei. Sentei em uma das mesinhas redondas e fiquei esperando ele enquanto olhava para a rua pelas grandes janelas do local. Eu me sentia como se estivesse esperando há horas. Já tinha reparado em todos os detalhes da confeitaria, seja na pequena sujeirinha próxima do balcão ou em como as lâmpadas pareciam ter um brilho meio cor-de-rosa.
Entrou uma garota e eu a analisei como estava fazendo com todas as pessoas até o momento, por conta do tédio. Ela possuía cabelos lisos e escuros que ficavam mais claros nas pontas, era baixinha e parecia ser asiática. Suas roupas e maquiagem eram muito bonitas e ela claramente tinha um estilo próprio. Eu observei ela ir em direção ao balcão e fazer seu pedido à atendente sorrindo gentilmente. Após isso, foi em direção a uma mesinha igual a minha, porém mais afastada, e se sentou cabisbaixa.
Na mesma hora meu celular vibrou e eu o peguei ansiosa. "Acho melhor nós não nos vermos mais". Essa mensagem me deixou triste, claro, eu o estava esperando há quase uma hora. "Aconteceu alguma coisa? Você não vai conseguir chegar?" foi o que eu respondi. "Não digo somente hoje... acho melhor não sairmos mais juntos". Como? Ele estava terminando comigo por mensagem enquanto eu o esperava para uma surpresa de aniversário? Tentei enviar outra mensagem mas ele tinha me bloqueado.
A raiva começou a superar a tristeza. Olhei para o bolo como se ele tivesse alguma culpa disso e tudo que eu queria era jogá-lo fora. Nesse momento lembrei da garota triste que esperava seu pedido. Talvez esse bolo possa pelo menos fazer alguém feliz hoje... Fui ao balcão e entreguei a caixa onde estava o doce para a atendente e ela me encarou confusa.
- Por favor, entregue esse bolo para aquela moça que está sentada bem ali. - disse apontando para a garota.
Andei tristemente até o fim do quarteirão olhando para meus próprios pés, coloquei minha mão no bolso da minha jaqueta e tirei dele duas entradas para o cinema. Tudo bem, ele provavelmente não gostaria de assistir esse filme. Será que eu deveria ter dado eles também para aquela garota?
- Ei! Moça da jaqueta preta! - um grito me tirou dos meus pensamentos.
Me virei para trás e vi a garota da confeitaria correndo na minha direção. Será que ela está falando comigo? Me perguntei olhando para a blusa que eu usava. A jovem parou na minha frente respondendo minha dúvida e se apoiou nos joelhos recuperando o fôlego.
- Como você sabia? - ela falou retomando a postura e me olhando.
- Desculpa... como eu sabia o que?
- Que hoje é meu aniversário.
Eu a olhei surpresa e logo me arrependi imaginando que tipo de careta eu possa ter feito.
- Ah, na verdade eu não sabia. - respondi meio envergonhada.
- Mas me disseram que você me deu aquele bolo... Nele estava claramente escrito "Feliz Aniversário!".
Eu desatei a rir da maneira como ela me olhava. Certamente eu lhe parecia uma bruxa, uma vidente ou um ser extraordinário que lê mentes.
- Foi apenas uma coincidência. - ela riu também percebendo a situação. - Qual é o seu nome?
- Gabriela.. E o seu?
- S/N. - respondi sorrindo.
Ela me parecia uma pessoa muito legal e engraçada. Antes mesmo que eu percebesse já estava falando:
- O que você acha de comemorarmos o seu aniversário juntas?
- Claro. Eu iria passar o dia sozinha mesmo... - ela também sorriu e eu percebi que ainda segurava os dois ingressos.
- O que você acha de ir ao cinema? - perguntei estendendo eles para ela.
...
Nós saímos do filme comentando sobre as melhores cenas e rindo muito. Nunca pensei que pudesse me divertir tanto com alguém que acabei de conhecer.
Andávamos pelos corredores do shopping quando a Gabriela para de repente me fazendo parar também. Ela se vira pra mim com seus olhinhos brilhantes e percebo que vai me pedir alguma coisa.
- Podemos jogar aquilo lá? - ela perguntou gentilmente como que para me persuadir enquanto apontava para uma máquina de bichinhos de pelúcia.
- Claro. - respondi rindo. - Mas já vou avisando que nunca joguei em uma dessas.
- Nem eu. - ela disse rindo também.
Nos aproximamos da máquina colorida que tinha vários bichinhos de pelúcia dentro e uma garra de metal. A Gabriela colocou algumas moedas, garantindo várias tentativas e pegou no bastão parecido com um joystick. Em todas as vezes a garra se encaixou perfeitamente na lhama que ela tentava pegar e, na hora de erguê-la, a deixou deslizar pateticamente. Isso está frouxo não é possível!
Quando a garota foi colocar mais moedas, eu, irritada com a situação, segurei sua mão impedindo-a.
- Esquece isso, essa máquina deve estar com defeito! Não tá vendo como a garra tá fraquinha? Coitadinha... ela não consegue nem levantar uma pelúcia! - Gabriela riu do meu comentário. - Tá faltando feijão... espera aí que eu já volto.
- Vai comprar feijão para a máquina? - ela perguntou e nós rimos da ideia absurda.
- Óbvio que não. - respondi quase passando mal de rir.
Tudo era muito mais engraçado perto dela e eu sentia dor nas bochechas de tanto sorrir. Entrei em uma loja de brinquedos no mesmo corredor que estávamos e pude ouvir ela perguntar mais alto:
- Mentira! Você vai comprar um bichinho pra mim?!
Eu procurei em toda a loja até encontrar o que queria. Paguei e saí com o brinquedo já aberto, o escondendo atrás das costas.
- Finalmente! Achei que tinha me deixado pra ficar brincando lá dentro! - ela falou em uma falsa repreensão.
Estendi para ela o que eu escondia e ouvi ela rir novamente, como ouvi tanto desde o começo do nosso passeio.
- Você me comprou uma lhama?
- Isso é mais que uma lhama... ela mexe a bunda!
- O que!? - ela perguntou confusa rindo mais ainda. Eu não me aguentei e me juntei às risadas.
Coloquei o brinquedo no chão e o liguei. A lhama começou a rodar a cabeça e rebolar fazendo nós rirmos muito mais. O que eu não esperava é que fosse sair uma música extremamente alta, tornando o momento mais cômico, já que todos olhavam para nós. Peguei o brinquedo o desligando e o guardei de volta na caixa.
Nós continuamos andando, comemos, fomos em várias lojas e, claro, passamos muita vergonha chamando a atenção de todos por onde passávamos. Aquele estava sendo um dos melhores dias da minha vida. Eu já não me recordava do meu namorado e a tristeza era uma vaga lembrança que foi coberta por inúmeras risadas.
Já na saída, de noite, no fim do nosso passeio, trocamos nossos números e nos despedimos. Posso ter perdido um relacionamento, mas com certeza ganhei algo mais especial.
Hoje era dia 2 de setembro, um dia muito especial, o aniversário de uma completa estranha.
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2 de Setembro | Honda Imagine
FanfictionHoje era 2 de Setembro, um dia muito especial... ..... História autoral por B-Palk Fanbases