scars

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Respirei fundo enquanto subia os degraus até o meu dormitório. A aula de trato das criaturas mágicas havia sido extremamente exaustiva, com todos aqueles conteúdos novos para aprender sobre, e tudo que eu queria era me jogar na cama e dormir um pouco.

Eu já esperava que o último ano em Hogwarts seria cansativo, mas minhas expectativas foram superadas. Os últimos dias haviam sido um borrão de pergaminhos, livros e noites mal dormidas, com os professores nos enchendo de trabalhos e tarefas. Além disso, tivemos a lua cheia, que passava despercebida por quase todos em Hogwarts, exceto a mim, Peter, James, e é claro, Remus.

Talvez por estar pensando nele mesmo é que eu tenha ficado tão surpreso quando abri a porta do nosso dormitório e me deparei com Remus, sozinho. Como não fiz barulho ao girar a maçaneta, ele não se deu conta da minha presença.

Remus estava sem camisa, encarando o próprio corpo em um espelho que provavelmente havia conjurado de algum lugar, já que eu nunca o havia visto ali. Seu abdome e seus braços estavam, como sempre, cheios de cicatrizes, tanto as mais antigas quanto as mais recentes. Algumas, extremamente avermelhadas e inchadas, pareciam ser da última lua cheia.

Ele costumava ser uma pessoa muito calma, mas não era difícil perceber que estava tenso e com raiva. Seus punhos estavam fechados, sua mandíbula trincada. Como ele estava de costas para mim, pude encarar seu rosto no espelho. Seus olhos estavam tristes como ele raramente se permitia demonstrar.

Me senti como um intruso, como se estivesse vendo algo muito íntimo, muito particular. Eu não deveria estar presenciando aquilo e sabia, mas o que deveria fazer? Não poderia, em sã consciência, sair do quarto como se nunca tivesse ido até lá e deixar Remus sozinho em um momento onde claramente precisava de alguém. Talvez Peter fizesse isso, com sua mania de fugir de assuntos tensos ou emocionais demais. Mas não eu. Remus sempre havia tentado esconder sua mágoa e tristeza com aquela situação por ser muito grato por tudo que havíamos feito para ajudá-lo a suportar melhor; no entanto, era idiotice fingir que aquilo não afetava a vida dele.

E isso era só enquanto seu segredo estava a salvo com Dumbledore... E com Severus também, graças a mim. Sacudi a cabeça, tentando não pensar naquilo. Acho que nunca me perdoaria completamente por ter sido tão cabeça quente e por ter colocado tudo por um fio. Se James não tivesse chegado a tempo, um escândalo provavelmente teria envolvido a escola inteira. Dumbledore seria condenado por todos os pais de alunos por ter exposto eles à tamanho “perigo”, Severus teria sua vida completamente virada do avesso (não que ele não merecesse, mas enfim) e Remus... Remus se culparia até o fim de sua vida.

Graças a mim.

Aquelas memórias mexiam com a minha cabeça, e não percebi que tinha chutado de leve a porta até Remus sentir minha presença e se virar para mim.

- Ah, Sirius. Estava aí há muito tempo?
Adentrei no quarto, engolindo em seco e negando com a cabeça.

- Na verdade não, acabei de chegar.
Não sei se Remus acreditou, mas ele assentiu, e um silêncio um tanto constrangedor se instalou no dormitório. Como tínhamos acabado sozinhos em um quarto que estava sempre cheio? Engoli em seco novamente.

- Remus?

- O que foi? – Ele perguntou, o rosto ainda tenso.

- Sabe que nada disso – apontei para suas cicatrizes -  é culpa sua, certo?

Remus suspirou, mas não disse nada. Ele deveria estar realmente mal, porque toda vez que alguém puxava esse assunto ele interrompia e desconversava, dizendo que “tudo bem” e que “já fazíamos demais por ele”. Talvez ele enganasse Peter e James, mas não a mim.

scars • wolfstarOnde histórias criam vida. Descubra agora