1698 palavras ( Esse conto foi escrito unicamente para o desafio21 do perfil @RomanceLP - Vencedor em terceiro lugar )
Amor. Seres humanos buscam durante toda as suas vidas palavras que expliquem o que sentem, como agem e o que são. Sentimentos são palavras de uma língua. Um conceito abstrato. Não se pode tocar, não se pode ver e às vezes nem mesmo sentir. Ainda que seja o mais abstrato e imaleável de todas as emoções humanas, continuam em uma constante busca por ele. Esta busca, até que ponto pode se estender?
Nicholas andava pelas ruelas do festival. Em parte, estava convencido de que até parecia com os festivais que vira nos animes. Já em outra parte, não enxergava tanta semelhança, o que destruía um pouco da sua expectativa. Esse desapontamento não influenciava em nada sua experiência. Nicholas não era mais uma criança. Com seus 27 anos, bem-sucedido em sua profissão e satisfeito com sua vida, aproveitava as suas curtas férias em uma visita ao Japão. Considerava-se um cidadão do mundo, pois sempre que podia embarcava no avião rumo a um novo destino. Nunca parecia bastar para ele.
Desta vez, escolhera o Japão com muito gosto e durante os dias que antecederam a viagem não pôde conter sua ansiedade. Sempre teve uma atração especial por esse país e toda sua cultura. Na realidade, imaginava que ia muito além disso. Sentia-se em casa. A estranha sensação de familiaridade.
Naquela noite tinha sido forçadamente obrigado a usar Yukata, um tipo de quimono, ou melhor, uma vestimenta bastante tradicional e comum em festivais como aquele. Só que ele era um turista ocidental, com cabelos loiros e olhos verdes. Ainda que tivesse outros turistas embarcando na experiência, Nicholas não gostava de atrair atenção para ele. Contudo, tinha sido coagido, já que seus amigos de viagem não iriam deixá-lo ser o único com roupas normais.
Sua Yukata era em um azul marinho escuro e muito mais confortável do que imaginava. Depois da vergonha de andar daquele jeito e dos olhares de muitas pessoas, logo estava distraído demais com a beleza do festival para dar importância. Andava de barraca em barraca, experimentando diferentes tipos de comida, comprando algumas coisas que achava interessante. Nem sequer dera por conta de como o movimento havia aumentado e que se desencontrara dos seus amigos. Decidiu se afastar um pouco da multidão e ligar para eles.
— Droga! — Exprimiu em voz alta ao perceber que não tinha sinal no celular.
O canto das cigarras e as tradicionais músicas do festival de verão, fundiam-se como um único som. Enquanto ele se distanciava para uma tentativa inútil de obter rede. Suspirou conformado. Olhou ao seu redor em busca do caminho de volta, mas assim que ergueu seus olhos notou uma barraca afastada. Uma senhora já de certa idade organizava vários porta-retratos. Naquele momento pensou que ela tencionava em vendê-los, mas estranhou o fato deles ainda estarem com fotos. Curiosamente, possuíam fotos antigas e de épocas diferentes.
A senhora não demorou tanto para notar a atenção do jovem rapaz em seu tabuleiro e perguntou:
— Ei, rapaz! Estás interessado?
Sendo ele o único ali e percebendo que aquela barraca estava tão distante de qualquer outra, questionou-se nos milissegundos antes de respondê-la como ela pretendia vender em uma zona não tão movimentada. Aproximou-se da senhora e buscou as palavras em japonês. Nicholas tinha estudado a língua e podia dizer que era bastante fluente, mas estava um pouco enferrujado.
— Obrigado, mas não preciso de porta-retratos.
— Oh não, meu jovem. Eu não vendo porta-retratos. Eu sou vendedora de memórias.
— Memórias?! — Retrucou, arqueando as sobrancelhas entre curiosidade e incerteza.
— Sim, meu jovem. Eu posso lhe vender uma memória muito antiga. Algo que tu esqueceste nessa vida.