Nossa primeira conversa aconteceu naquele mesmo dia. Após nos encantarmos um pelas fotos de paisagens e objetos inanimados do outro, decidimos trocar nossos números de telefone para falar um pouco sobre amenidades. Há quem despreze esse tipo de conversa, alegando ser uma perda do precioso tempo que temos em vida, tempo esse que poderia ser gasto com coisas mais relevantes. Não penso assim. É através desse tipo de interação que podemos conhecer melhor as pessoas, nos aproximar e até estabelecer vínculos com elas.
No começo, tudo foi muito amigável. Realmente não tínhamos segundas intenções, então nossa amizade fluiu de uma maneira nunca vista por mim antes. Em pouco menos de um mês, já compartilhávamos de todos os nossos segredos mais íntimos. Acordar e enviar uma mensagem de bom dia para ele era tão comum quanto escovar os dentes antes de dormir. Creio que tenha sido a partir daí que notei as coisas mudarem.
Desde que entrei na adolescência me senti como homossexual. Talvez não entendesse muito bem as coisas, mas quem nessa idade consegue entender? Aos poucos, durante meu crescimento, percebi que possuía vontade de “experimentar” beijar outro menino. Pensava comigo mesmo: “Se eu não gostar, é só esquecer. O que custa tentar?”. Toda minha infância foi baseada em uma tentativa — falha — de tentar ignorar meu lado gay e priorizar minhas relações heterossexuais. Não vou mentir, já namorei meninas também. Mas isso é uma história para outra hora!
Quando me dei conta de que não o queria apenas como meu amigo, mas como meu namorado, surtei. Não sabia como lidar com a situação e cogitei que, se contasse para ele, nossa amizade provavelmente chegaria ao fim. Acho que é a primeira coisa a se pressupor quando você está em uma sociedade altamente machista e preconceituosa, não é mesmo? Passei alguns dias tentando esconder o que se passava dentro de mim, mas sabia que alguma hora aquela frágil bolha chamada ‘sentimento’ iria se romper. Mais algum tempo se passou até que não consegui mais me conter: declarei o meu amor. E de cara recebi um não. Felipe realmente gostava de mim, mas a proposta inusitada e inesperada o fez entrar em choque. Naquela noite, chorei.
