Amanhecera, o dia estava lindo, o céu azul pálido sem nenhuma nuvem me encarava de volta como se fosse cair e engolir toda a terra. Esses são os melhores dias, dias em que me dão força de vontade pra viver e pra sonhar. Já não bastava o dia estar lindo, Nino logo veio ao meu encontro trazendo consigo uma lagartixa presa em sua boca. As pessoas costumam dizer que quando os gatos nos trazem algo pode significar carinho ou amor em forma de presente, e eu amei. Obviamente soltei a lagartixa de sua boca, ela ainda por incrível que pareça se encontrava viva, fraca porém viva, coloquei a mesma no parapeito da janela e assim, a vi correr como se não houvesse amanhã, dando a si mais uma chance para viver. Nino se aninhou em minhas pernas e logo se esquivou, como se acabasse de perceber o que eu havia feito com seu generoso presente. Eu estava inerte e preso demais em toda aquela imensidão de azul quando meu celular tocou. Era ele.
Não sei se você, caro leitor, já sentiu como se o mundo te abraçasse, como se o vento cantasse em seus ouvidos sentimentos do quão bom e maravilhoso era tudo aquilo. O sentimento já não me pegava de surpresa mais, claro que eu sempre sorria sem querer por simplesmente ler qualquer coisa boba ou idiota que Arthur me dissesse.-Oi, Bom dia, dormiu bem?
-Bom dia, sim e você? Já conseguiu levantar e sair da caverna que você chama de quarto pra ver o quanto o dia está bonito?
-Estou bem, e não, não quero me dar o trabalho de ter que sair da minha cama pra observar pássaros sem rumo ou um céu sem nem mesmo uma nuvem pra contar história.
-Você definitivamente é um senhor de idade num corpo de 18 anos... Pelo menos ainda tem força o suficiente pra levantar o braço, pegar o celular e me mandar uma mensagem, haha.
-Não vá se gabando, tive que responder meu pai e aproveitei pra saber como você havia passado a noite.
-Esperto porém não previsível, te conheço e sei que você daria de tudo pra estar comigo.
-Literalmente.
-Arthur já são 9:00 horas da manhã, faça-me o favor de se levantar pra tomar pelo menos um café da manhã digno de um domingo chato e lindo.
-Tá bom, tá bom... Aliás, não vá se esquecer de alimentar o Nino, da última vez ele quase desapareceu simplesmente porque você não havia se lembrado se o gato estava ou não alimentado.
-Tudo bem, espero que quando você o veja ele te dê uma mordida pra me trazer de presente assim como faz com os animais que ele pega na rua.
Arthur era assim, as coisas funcionavam pra ele desde que ele tivesse muito interesse ou fosse obrigado a fazer algo. Me apaixonei quando vi o mundo por sua perspectiva. Aos olhos de Arthur, o céu era chato, mas as estrelas e seus astros, não. Tudo como se apenas importasse o que de fato as coisas te trazem, e não o que elas são. Suas mãos transformam tudo em ingredientes para receitas belas e bonitas que você só saberia degustar se entendesse de quem veio. E assim ele fez, pegou meu coração, apoiou em seu peito e ali, guardou com o maior carinho do mundo.
Outra mensagem me desperta quando vejo que Arthur estava querendo saber se poderia me ver hoje. Eu queria gritar e dizer que sim, mas obviamente dei um de difícil só pra provocar o menino que eu sabia que seria meu pelo resto do dia e da noite, então só respondi que sim e que ele deveria trazer algo para nos divertir, eu sabia que ele teria entendido o que eu estava querendo dizer.
Convenhamos que na minha idade meus hormônios gritam cada vez mais para serem derramados sobre outro corpo, porém nunca toquei o corpo de Arthur, não em suas partes íntimas. Mas eu iria, e sabia que ele queria isso mais do que nunca.Alguém bate à porta, Nino logo se aninha em algum canto da casa preparado pra ignorar totalmente qualquer visita que tenha chegado. Era Arthur.
Antes que algum de nós pudéssemos falar qualquer coisa, nos aproximamos. Seus lábios tocam os meus lentamente e tenho a certeza de que enterrei esse momento no lugar mais especial que encontrei dentro de meu coração, pra nunca me esquecer do toque, do gosto e da sensação que inalava de nossas bocas. Parecia como se o tempo tivesse parado e estava totalmente disposto a voltar apenas quando quiséssemos. Ele era meu, e eu era dele.-Oi pra você também.
Disse Arthur.-Oi... Estava esperando a semana toda pra sentir isso.
-Então espere até sentir mais.
-Você fala como se soubesse fazer algo, como se já tivéssemos feito algo, mas admito, não duvido de que você saiba conduzir qualquer coisa que começa a fazer.
-Posso te mostrar... Mas antes, poderia ao menos me oferecer algo pra comer ou tomar?
-Prazer.
-Haha, muito engraçado, mas vou passar essa.
-Você diz como se nunca tivesse vindo e comido toda a casa em menos de 1 hora né Arthur. Pois abra a geladeira e se sirva, não sou escravo de ninguém!
-Amo como somos tão educados um com o outro. Aha achei você.
Arthur encontra Nino emaranhado em cima da almofada que minha avó fizera, e de algum modo, Nino retribui o carinho da forma mais pura e sensata que encontra, o que me choca pois geralmente ele arranca pedaços das visitas e até mesmo de mim quando tento lhe acariciar, mas ninguém, nem mesmo Nino, resiste ao amor e a fofura de Arthur.
-Parece que não é só você que queria minha companhia aqui Victor.
-Muito engraçado, mas ele só está te dando atenção porque eu disse que não iria dar mais petiscos pra ele caso ele continuasse mordendo as pessoas.
O que obviamente era mentira.Preferi por deixar Nino brincando com Arthur depois que coloquei a comida na mesa. Fui tomar um banho e no caminho, não havia até então percebido que estava sentindo tanta saudades dele como vi que sentia, amo sua presença e amo saber que fomos feitos um pro outro.
Um presente entregue pelos deuses para que eu pudesse me apoderar, amar e obviamente, experimentar dos melhores jeitos possíveis.
Hoje, ele seria meu, e eu seria dele, totalmente.
