Capítulo 1

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Alguns momentos na vida marcam nossa trajetória, ou pelo menos moldam algumas de nossas escolhas. Bem, e aquele momento definitivamente decidiu toda minha vida.

Eu tinha 13 anos quando vi minha mãe assistindo um filme na televisão, sabe, aqueles bem antigos que vemos em preto e branco. Ela estava tão concentrada que decidi me sentar ao seu lado, instintivamente esticou seu braço para que eu me aninhasse. Por ser filha única da casa, tinha toda a atenção para mim, o que não era nada mal, mas às vezes me sentia muito sozinha, talvez um irmão ou irmã tivessem amenizado isso.

Olhei para o rosto ainda jovem da minha mãe, pois se casara cedo e logo em seguida nasci, e vi uma lágrima descendo que ela enxugou e sorrindo para mim. Curiosa me virei para a tela e simplesmente fiquei pasma, a figura no filme era o homem mais bonito que já vi na vida. Estava encostado na porta com um cigarro na boca observando uma moça se afastando. Em cada expressão, via-se cada sentimento que passava por seu corpo, mostrando que além de lindo, era um ótimo ator.

- É uma pena, disse minha mãe, ele era tão talentoso, mas morreu cedo demais, alguns anos depois desse filme. Ninguém sabe ao certo o que aconteceu, uns dizem que foi drogas, outros que ele foi assassinado.

Ainda o olhava quando uma dor horrível me invadiu o peito quando ouvi isso, foi como realmente perder alguém conhecido e querido.

- Como ele se chamava? Perguntei.

- Patrick Owens, respondeu minha mãe.

- Patrick..., repeti.

E a partir dai fiquei obcecada, cada pensamento que surgia era destinado a ele. Assisti milhões de vezes todos os seus filmes, li cada reportagem, sabia de cada detalhe da sua vida, sabia que gostava do seu café com duas colheres de açúcar, que preferia gatos a cachorros, que a cicatriz que tinha na sobrancelha esquerda era de uma queda que sofreu aos dez anos, tudo, cada pequena coisa. Meus amigos sempre me atormentavam por isso, mas nunca me importei, para o meu coração juvenil, ainda nos encontraríamos. Nenhum garoto era bom o suficiente para mim, e só dei meu primeiro beijo aos 16 anos, porque minhas amigas me pressionaram, e como previ, foi horrível.

Entrei para a faculdade de Artes a fim de seguir seus passos e ser uma atriz. Porém, a vida ainda não estava satisfeita em marcar páginas na minha vida e no meu segundo ano, meus pais morreram em um acidente de carro, e assim meu mundo ficou completamente destruído, tive que chorar e sofrer sozinha minha perda, pois sempre fomos apenas nós três.

Queria trancar a faculdade e dar um tempo, mas pensei em meus pais e o quanto se sacrificaram para que eu estivesse ali, então continuei, porém sem o mesmo entusiasmo. Consegui um emprego de meio período em um café chique próximo a faculdade e me mudei para o alojamento dos estudantes, assim me garanti, já que nunca tivemos muito dinheiro e o seguro de vida deles, me permitiria continuar a pagar a faculdade e a comprar um pequeno apartamento na capital quando terminasse os estudos.

E assim o fiz, dentro do possível fui me virando, correndo, deixando que a vida apenas passasse por mim, sem vivê-la realmente, e o pior era que eu achava que estava bom assim, que nada precisava mudar.

Assim que me formei, comprei um apartamento na capital e me mudei imediatamente. Vendi a casa dos meus pais, não conseguiria morar mais ali, eram lembranças demais, e comprei uma moto, minha garotinha.

Minha casa era meu lugar favorito no mundo, ali pude construir lembranças novas. Trouxe algumas coisas dos meus pais, a colcha de cama preferida dela, o quadro favorito dele. Aquela dor ainda estava ali, presente, como um machucado que fica latejando, mas que você consegue suportar e aos poucos se transformaria em saudades.

Em seguida consegui um trabalho em um restaurante legal no centro. O salário era bom e como garçonete conseguia algumas boas gorjetas. 

A mercê do destino - DEGUSTAÇÃO 'DISPONÍVEL NA AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora