Abandono Celestial

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Suas mãos estão na minha boca, eu estou jogada em colchão velho, numa  casa em construção.
     Quero correr, mas mal consigo ficar de olhos abertos, pois fui dopada. Enquanto luto para ficar acordada, sinto suas mãos percorrerem pelo meu corpo. Sua voz perversa no meu ouvido perguntando-me se estou gostando.  Como posso gostar disso? Tudo que consigo sentir é medo e dor, muita dor.
Com a pouca voz que resta-me, rogo por socorro, mas ninguém parece ouvir-me.
Enquanto meu corpo é penetrado, pergunto a Deus porquê ele não gosta de mim.
O corpo pesado daquele homem em cima do meu ainda tão pequeno e frágil, rouba todo meu ar, a cada segundo que passa, sinto que serei esmagada.  É tão pesado que já não consigo respirar, tudo vai ficando preto... E num rompante de despero, eu acordo.
Está tudo bem! Foi só um pesadelo. -Digo ainda sem fôlego-
Ele não pode mais te machucar, você não tem mais 10 anos de idade, contínuo dizendo essas palavras  como quem entoa um um manto sagrado.
Contudo, a verdade é bem diferente. Ele ainda pode me machucar, e faz isso todos os dias, ainda que não consiga me tocar.

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