Único

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okay isso não ficou nem de longe tão bom quanto eu gostaria, mas enfim, senti vontade de postar mesmo assim

aproveitem ((:

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Akutagawa encarou o frasco de comprimidos sobre a pia, o som da torneira pingando ecoando pelo banheiro e fazendo sua cabeça doer. Ele despejou as cápsulas coloridas na mão, encarando-as com os olhos nublados, perdido. Havia um copo de água em cima da prateleira que ficava logo abaixo do espelho; engoliu as pílulas com um gole só da água quente. Apoiou as mãos na pia, o rosto abaixado desviando o olhar do reflexo. Não queria se ver, não naquelas condições.

Voltou para o quarto em passos um tanto tortos, encontrando Chuuya deitado na cama, os cabelos ruivos e embraçados espalhados no travesseiro. Ryunosuke caiu sobre o colchão de qualquer jeito, cansado. Sentiu, então, os braços finos do rapaz ruivo enlaçarem sua cintura, e logo em seguida Nakahara estava sentado atrás de si, o queixo apoiado em seu ombro. Akutagawa se recostou no torso alheio, colocando as mãos sobre as coxas de Chuuya, batucando com os dedos na pele coberta pela calça moletom.

— E aí? Como 'cê 'tá?

— A minha cabeça dói. — Ryunosuke murmurou. — Muito. Parece que vai explodir.

— Fecha os olhos. — Mandou, e então deixou um selinho no pescoço alheio, sentindo a pele do mais novo estremecer. — Vem, deita comigo.

— 'Cê 'num devia ir embora? O Mori vai ficar puto.

— Foda-se o Mori, esquece ele por um minuto. Só relaxa um pouquinho e deita comigo, vai.

— Mas...

— Mas porra nenhuma, só deita logo de uma vez.

Rendendo-se as palavras (nada) doces de Nakahara, Akutagawa deixou-se ser arrastado de uma vez por todas e cedeu às vontades alheias, deitando-se enfim ao lado dele. Chuuya era extremamente insistente e nunca abria mão do que queria, além de estar sempre preocupado demais com a saúde dos outros. Foi só Ryunosuke alegar uma dor de cabeça que o temido Chuuya Nakahara, subordinado do maior mafioso da cidade de Yokohama, parou tudo o que estava fazendo para cuidar de si.

Akutagawa nunca compreendeu direito aquele lado superprotetor dele; supunha, porém, que tinha a ver com traumas passados. Nakahara tinha essa mania de dizer que se recusava a perder mais alguém, mas nunca falava mais do que isso. Apesar de tudo, era um sujeito estranhamente fechado.

Estavam naquela de dormirem juntos fazia poucos meses, e tudo ocorria no sigilo total. Ambos tinham uma reputação a manter, de modo que tornar aquela relação, ou qualquer outro nome melhor, pública não era de maneira alguma uma opção. Ryunosuke não se importava com essa questão, para ser bem sincero, mas admitia que era um tanto frustrante ver Chuuya diariamente e não poder falar tudo o que queria com o medo de serem pegos no flagra. Sem falar que Nakahara ficava deveras atraente coberto de sangue inimigo, e era um tremendo martírio engolir todos os elogios que gostaria de proferir só porque estavam na frente de seus subordinados.

De qualquer forma, nada daquilo importava no momento, uma vez que estavam em seu apartamento. Assim, deixou-se ser acolhido pelo abraço estranho de Chuuya, sendo confortado pelo calor e segurança que o corpo menor lhe dava. Não sabia colocar em palavras o sentimento agradável que Nakahara transmitia, mas era bom e ele não reclamaria. Havia desistido de compreender os solavancos que seu coração dava quando estava na presença do outro mafioso — principalmente quando estavam apenas de boa, conversando juntos de maneira descompromissada.

Ele adorava se encontrar com Chuuya por aí, puxá-lo para um canto qualquer e beijá-lo até seus lábios ficarem dormentes, da maneira mais silenciosa possível. E adorava quando ele o convidava para ir visitar seu apartamento, alegando que Yumeno estaria fora pelas próximas horas. Mas também gostava de quando ele meramente o chamava para tomar uma cerveja no bar em que costumavam ir, e gostava de quando ele se soltava e ria. Gostava de como Nakahara não se importava que o acompanhasse pelas ruas enquanto ele ia buscar Yumeno no colégio; ele mantinha a conversa de forma tranquila, oferecia um cigarro, reclamava do chefe.

Akutagawa não diria que estava apaixonado, apenas que tinha um apego deveras grande por Chuuya. Não queria pensar demais naquele momento, então se encolheu ainda mais nos braços alheios e se concentrou apenas no carinho confortável que Nakahara fazia em seu cabelo.

— Não é só dor de cabeça, né?

— Hum?

— Não é só dor de cabeça, né, Aku? — Chuuya continuou passeando com os dedos por entre os fios negros.

— Talvez. — Ele murmurou, os olhos fechados.

— Que foi?

— Só, sei lá, 'tô cansado. Acordar, ir 'pro trabalho, fazer um monte de coisa só porque o Mori mandou, correr porque a polícia 'tá atrás, e é só sangue, sangue, sangue, morte. É tudo tão cinza e sem sentido.

— 'Cê finalmente descobriu que não passa de um peãozinho insignificante 'num tabuleiro de xadrez, preso 'num jogo que 'cê nunca vai ganhar? — Nakahara deu uma risada sarcástica. — Bem-vindo ao clube.

— Eu queria férias. — Ryunosuke admitiu, de mau humor. — A pior parte disso tudo é que eu não tenho direitos trabalhistas.

Chuuya não conseguiu conter uma risada; aquele moleque era uma comédia, mesmo sendo tão sério. Não entendia o que se passava na cabeça de Akutagawa, não entendia mesmo. Ele era completamente caótico, para ser sincero, e mudava da água para o vinho com uma frequência insana. Na opinião de Nakahara, porém, aquilo era um charme a mais. A falta de lógica em Ryunosuke Akutagawa, que deveria torna-lo uma pessoa incômoda ao ver dos outros, só o deixava mais atraente para Chuuya.

— É, é foda mesmo. Mas, ei, agora não é hora de se esquentar com isso. Vamos dormir um pouquinho, vai. Eu 'tô exausto.

— 'Tá bom.

Ryunosuke se rendeu novamente. Era sempre assim; acabava aceitando e abraçando o jeitão relaxado e descompromissado de Nakahara quando estavam sozinhos. Por algum mistério do mundo, Nakahara era o único capaz de desfazer suas paranoias e o deixar relaxado, mesmo que fosse por pouco tempo.

Encostou a cabeça no peito alheio e estendeu o braço para desligar o abajur que iluminava o cômodo, afundando na escuridão. Aproveitou cada minuto do cafuné que lhe era feito na cabeça, e quando menos esperava já tinha adormecido. Chuuya, porém, se manteve acordado. Não era a primeira vez que Akutagawa aparecia acabado daquele jeito, dizendo que tinha uma dor de cabeça, ou febre, ou gripe. Ele sabia que o rapaz estava mentindo, mas respeitava seu tempo. Só que era difícil não se preocupar com o silêncio de Ryunosuke.

Quando acordou, Akutagawa não tardou a perceber a silhueta de Nakahara na varanda, um cigarro entre os dedos. O olhar estava perdido no além, como se estivesse absorto em reflexões.

Com passos trôpegos, caminhou na direção do mafioso e apoiou-se em suas costas, o queixo se acomodando nos ombros tensos de Chuuya. Esperou até que ele levasse o Lucky Strike — porque Nakahara só fumava Lucky Strike — aos seus lábios e deu um trago longo, soltando a fumaça para longe. Sentia-se mais tranquilo depois de fumar, e detestava estar se rendendo ao vício.

— Dormiu bem?

— Podia ter sido melhor. — Ele resmungou. — Sempre podia.

— Aku.

— Hm?

— Só... — Chuuya engoliu em seco. — Só tenta não guardar tudo aí dentro, 'tá? A gente 'tá juntos nessa, viu? Eu... 'cê é uma pessoa que eu gosto 'pra caralho, Aku. E eu não quero te perder.

— Juntos, é? 'Tá, vou lembrar disso. — O telefone de Nakahara tocou. — Deve ser o Mori, 'cê devia atender.

— Ele que venha até aqui. 'Tô de folga hoje.

— Desde quando? — Ryunosuke falou, com um sorrisinho sarcástico dando o ar da graça.

— É verdade, porra. Mas é claro que o Mori ia vir me encher o saco, o babaca não faz nada sozinho. — Ele apagou o cigarro na grade metálica. — E aí? Quer comida chinesa?

— É, pode ser.

Akutagawa não estava bem, e aquilo era perceptível para qualquer pessoa que o olhasse por alguns segundos. Mas ele tinha Chuuya ao seu lado daquela vez — e mesmo que o "relacionamento" deles não fizesse o menor sentido, era gratificante não estar sozinho.

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