Como se os raios pudessem lhe ouvir

Capítulo único

— Alô, você pode vir me buscar? - a voz levemente embargada da garota quase não se fazia entender em meio à multidão.

— O que? Seulgi, o que aconteceu? - disse a garota mais velha do outro lado da linha, enquanto largava a delicada massa de pão que acabara de fazer, em cima da mesa.

— Você...só venha me buscar logo! - choramingou a mais nova, sentando-se no meio fio da calçada que ficava em frente a cafeteria onde estivera minutos atrás.

 A noite estava amena, apesar de ser verão. A lua brilhava timidamente já que não fazia muito tempo que havia escurecido naquela região. A garota que estava em um belo traje casual suspirava cansada, sentindo culpa e arrependimento.

"Porque eu sou tão desastrada?" pensou enquanto uma brisa fria brincava com alguns dos seus fios de cabelo.

— E por quê eu não trouxe um casaco? Argh! - pensou alto, cruzando os braços na tentativa de esquentar seu próprio corpo.

 A verdade era que Kang Seulgi, apesar de já possuir 21 anos de vida, nunca fora do tipo prevenida. Definitivamente a garota não entendia como algumas pessoas, como sua melhor amiga, Joohyun, são capazes de planejar tão bem as próprias coisas, a ponto de pensar em tudo e ainda no que pode vir a acontecer. Seulgi não era assim. Era uma improvisadora nata, vivia os momentos no presente, apesar da falta de tato com a realidade e estava sempre atrás de alguma novidade.

— Com licença, gatinha, será que você gostaria de entrar no meu carro? - ela ouviu a voz familiar vindo do lado esquerdo de onde se encontrava sentada, quase no meio fio. Percebeu que ficara tão distraída em seus pensamentos que nem se quer notara a chegada de sua melhor amiga.

— Besta, você demorou um pouco! - disse a mais nova fazendo bico, logo levantando em direção a porta do carro.

— Tem um pouco de trânsito no nosso bairro, estão comentando que aconteceu um acidente. Um carro bateu em uma moto, os dois motoristas se feriram. - a mais velha comentou casualmente, vendo sua amiga adentrar o carro. Começou a dirigir. - Seul? – Havia percebido Seulgi muito quieta. Ela não era assim. - Você teve um encontro ruim? Ela não te tratou bem? 
Remexendo-se na cadeira ao lado, a mais alta ajeitou sua postura e brincou com os próprios dedos antes de falar.

— Não, ela foi bem legal, eu é que estraguei tudo...como sempre. - disse, por fim, voltando o olhar para as luzes dos postes que ficavam cada vez mais distantes, estavam saindo daquele bairro.

— Aigoo, não fale assim! Vamos, me conte essa história direito, eu dirigi da nossa casa até aqui porque você me chamou. Eu mereço saber. - deu um leve sorriso olhando rapidamente para a amiga, já esperando ouvir mais uma das muitas histórias de amor frustradas da outra. A mais alta suspirou em uma silenciosa concordância, antes de começar a falar.

— Bem...

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