Remus estava andando pela rua, tentando se distrair, sabe? Encontrar alguma inspiração naquela vidinha medíocre de apartamento quarto e sala e contas para pagar. Nosso protagonista tinha uma casquinha de sorvete na mão e seu walkman novinho da Sony na outra, uma vez que já tinha quebrado o pequeno prendedor que o fixava na calça jeans e se sentiria idiota com ele pendurado por uma cordinha no pescoço. Foi quando o viu atravessar a rua em sua direção.
Não exatamente em sua direção, para ser sincera, mas para o lado da rua onde Lupin estava. Ele estava ali com seus jeans gastos e manchados de tintas de diversas cores, o rosto com algumas olheiras e a barba por fazer. O cabelo castanho-escuro-quase-preto ficava mais claro sob o sol e os olhos adquiriam um tom menos cinzento e mais azulado.
- Cuidado com o sorvete. - o rapaz, com uma voz zombeteira, alertou Remus que enfim sentiu as gotas derretidas da casquinha em seus dedos.
- Obrigado. - ele murmurou para as costas do rapaz bonito que continuava andando em direção a padaria e confeitaria. - Droga.
Era mais um dia que ele falhava miseravelmente em disfarçar que encarava o cara sem piscar todos os dias que o via na rua – nada sutil nosso protagonista. Vivia se perguntando onde será que ele morava, qual seria o nome dele, como seria a textura daqueles cabelos escuros e se ele gostava que fossem puxados durante... Bem.
Remus Lupin, o personagem principal dessa história, sempre fora um cara nada namorador e galanteador. Era conhecido por meter os pés pelas mãos, gaguejar e pagar mico, como diziam naquela época. Em outros tempos, ele já teria pelo menos tentado perguntar tudo o que gostaria de saber, mesmo que isso lhe custasse toda a sua vergonha na cara. Entretanto, algo naquele rapaz o fazia perder a voz e as palavras, e o fazia se sentir em uma balada romântica a lá Journey.
Don't stop believin', Remus.
Bem, Remus estava desanimado com mais um fracasso em suas jornadas de caminhada de "distração" que ele fazia diariamente após o trabalho para ver o rapaz bonito e, obviamente, com sua falta de talento para o flerte. Entretanto, dessa vez ele não fingiu andar pelo quarteirão como sempre e simplesmente decidiu voltar para a casa e jogar uma água fria na cabeça para parar de ter pensamentos pecaminosos com estranhos escorregadios.
- Droga, onde está a porcaria da minha chave? – murmurou para si mesmo.
- Baunilha. - ouviu a voz do estranho o chamando enquanto ele abria a porta do próprio apartamento. - Eu imaginei que você deveria morar por aqui já que está sempre pela vizinhança com um sorvete de baunilha.
- Ah, eu sou o Baunilha. - Lupin murmurou sem graça. Quem era esse cara e o que ele fez com Remus? Gostava de acreditar que não era tão idiota. - Você anda me seguindo?
- Como? - o rapaz perguntou com a mão direita no bolso e uma sacola de papel pardo, provavelmente contendo pães, na mão esquerda.
- Primeiro eu te vejo todos os dias na rua. - ele encolheu os ombros. - E agora no meu prédio.
- Eu moro aqui. – o rapaz bonito tirou as chaves do bolso pelo chaveiro de tartaruga.
- Eu moro aqui. - Lupin reforçou, como se fosse impossível que eles morassem na mesma cidade, no mesmo bairro, mesmo prédio, no mesmo andar. Devagar, eu sei.
- E eu aqui. - o rapaz apontou para a porta ao lado com os olhos semicerrados. - Você então é o cara dos mantras esquisitos de meditação.
- E você da música alta até tarde. - Lupin estava surpreso demais para dizer algo, mas ainda assim, para o nosso desespero, conseguiu construir uma frase com um grande potencial de destruir suas chances de formar um par com o rapaz gostoso: - Você já ouviu falar de fones de ouvido?
VOCÊ ESTÁ LENDO
BAD LIAR.
FanfictionUm jovem adulto super analítico, nada sutil e um péssimo mentiroso quando se trata em esconder seus sentimentos tem uma queda nada saudável por um cara bonito que ele descobre ser seu vizinho das músicas altas demais. Tintas, sorvetes de baunilha, m...