Eu acidentalmente apago uma cidade do mapa

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Se naquela manhã tivessem me dito que eu ia apagar uma cidade histórica do mapa, e entrar num tipo de seita/sociedade super secreta que protege o mundo de seres malignos vindos de outra dimensão, eu provavelmente iria rir da cara da pessoa e depois dar o número de um centro psiquiátrico. Mas talvez um aviso teria sido bom, eu não sei vocês, mas gostaria de ter me preparado para essas coisas, dar um último abraço na minha mãe, levar umas roupas extras, me despedir dos meus mangás e etc... Mas NÃOOOO aquele cara estranho tinha que aparecer no meio do passeio e estragar tudo! Seria no mínimo educado mandar um bilhete dizendo: "Ei, Simon. Então, hoje eu vou te atacar com um cachorro do capiroto gigantesco, beijos."
Mas é melhor eu contar tudo desde o começo...

23/11/2020, 06:42 da manhã.

Talvez juntar 27 adolescentes num ônibus para uma viagem de treze horas para verem ruínas de uma antiga cidade não fosse a melhor idéia que meus professores tiveram. O interior do ônibus era um caos, com música de péssimo gosto sendo tocada no último volume, gritos que fariam inveja aos macacos, peças de roupas sendo atiradas por todo o lado e um cheiro nauseante de salgadinho barato. Os três professores já tinham desistido de controlar o bando de acéfalos da minha sala, e exibiam uma expressão a de alguém que pensava seriamente em suicídio.
Eu liguei o meu celular e coloquei os fones de ouvido ligando minha playlist, já tinha desistido de dormir a muito tempo, era impossível relaxar num ambiente daqueles, muito barulho e coisas demais acontecendo, minha TDAH me deixava surtado nessas horas, o que felizmente não atingia minha melhor amiga que dormia tranquilamente com a cabeça pousada no meu colo. (Ei! Não veja maldade nisso. Somos amigos desde os 10 anos, nenhum dos dois sentia qualquer atração pelo outro, éramos como se fossemos irmãos.)
Eu realmente inveja a capacidade dela de dormir em qualquer canto e sua baixa estatura a permitir dormir em qualquer lugar, as pessoas acham que ser alto é legal, mas duvido que elas fossem gostar do incômodo de se enfiar em lugares apertados como ônibus e carros com as pernas dobradas de trinta modos diferentes e com a coluna curvada tanto que eu quase podia me dar uma mamada.
Faltava apenas uma hora para chegarmos na cidade de Torre Negra, MG. Torre Negra era uma pequena cidade turística no interior de Minas Gerais que ficou bem famosa após encontrarem ruínas de uma pequena vila perdida na época do "descobrimento" do Brasil.
- Pessoal, estamos quase chegando, por favor me escutem! Eu quero...
Meu professor de português, um senhor branco de meia idade já meio careca e usando calça jeans e uma camisa social tentou falar, mas foi interrompido por um aluno que aumentou o volume da caixa de som portátil ao máximo.
Ele até tentou gritar, bater a mão no banco para chamar a atenção, mas suas tentativas eram abafadas pela uma música alta. Com a aparência derrotada ele olha com um olhar suplicante para minha professor de história que estava sentada na fileira do lado a dele, com um suspiro ela se levanta e olha para a turma. Imediatamente todo o barulho e algazarra cessam e a turma toda se vira para prestar atenção nela, que calmamente diz:
- Muito bem. Como vocês obviamente ouviram do meu colega aqui- diz ela apontando para meu professor de português que parecia muito envergonhado. - Nós estamos quase chegando a cidade, acredito que não deve demorar mais de uns cinquenta minutos, então por favor comecem a arrumar suas coisas que logo desembarcaremos no hotel para ajeitarmos nossos quartos e tomarmos o café da manhã. Depois conforme o cronograma iremos passar a manhã nas ruínas da cidade e pela tarde visitaremos os pontos de comércio, e finalmente, na noite teremos apresentações teatrais sobre o misterioso grande incêndio que destruiu a cidade a centenas de anos atrás. Dormiremos no hotel e partiremos no outro dia as 09 horas. Alguma pergunta?
Perante o olhar duro e penetrenta dela ninguém ousou fazer alguma pergunta, e só falaram um não em uníssono. E era por isso que ela era minha professora preferida. Além de ser uma excelente profissional, sendo suas aulas, as melhores da escola, ela tinha a capacidade de controlar todos esses  adolescente com cérebro de macaco somente com um olhar. Apesar de não ser uma professora daquelas ruins, ela passava aquela sensação que era difícil de explicar, mas era quase como se ela olhasse dentro dos seus olhos e lê-se sua alma, ela transmitia uma aura de autoridade e respeito que fazia até os alunos que queriam se pagar de valentões e "bandidos" (que não passavam de adolescentes brancos classe média alta, querendo pagar de fora da lei, postando foto de bebida e fumando narguile nas redes sociais, mas que se fossem realmente viver na realidade das periferias chorariam pedindo pela mamãe) abaixar a cabeça em sinal de respeito.

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⏰ Última atualização: Oct 04, 2020 ⏰

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