Capitulo Um

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Inglaterra, 1838

O oceano estava furioso. O céu escuro apagava o entusiasmo dos marinheiros e o vento forte assustava suas esposas, trêmulas, com medo de naufrágio. A viajem que fariam não seria apenas uma transportação de mercadorias, mas também levariam pessoas que almejavam uma nova vida em outras terras.

Ondas pesadas batiam no caíz e começou a garoar. Harry se questionava se seria uma boa ideia partir hoje para a America. Seria sua primeira viajem para o novo mundo, estava ansioso, é claro, mas prezava por sua vida acima de tudo.

"Capitão, acho melhor esperarmos o mar acalmar."

"E quem levará essas mercadorias? Nadando elas não vão." riu o capitão. "Não se preocupe Harry, já naveguei em mares mais perigosos que esse."

"Se o Senhor diz... vou avisar a tripulação e pedir que preparem o navio."

O céu trovejou e o barulho se estendeu por um tempo maior que o de costume. Talvez fosse esse um aviso do mar para que não navegassem naquele dia, e Harry sentiu isso.

Porém eles partiram. Mar a dentro, rumo ao desconhecido.

Por mais perigoso que fosse, Harry adorava a sensação de estar em alto mar. O vento fazia com que seu cabelo castanho, que não era nem claro e nem escuro, voasse e as gotas da água salgada molhassem seu rosto.

"Alfred! Ajeite a vela superior! Harry assuma o comando, preciso mijar."

Ele riu com a atitude de seu comandante, "Não acredito que ele esta indo ao banheiro justo agora." pensou.

Ele assume a liderança e comanda a navegação da melhor forma que pode. "Vai ser uma longa viagem." disse ao observar a fúria do mar.

Após três dias e meio o mar se acalmou e a tripulação agradeceu a isso, poderiam finalmente navegar em paz. A viajem duraria em torno de oitenta dias, calculou o capitão, mas se pegassem outra tempestade, com certeza duraria muito mais tempo. Navegações além de caras, eram extremamente exaustivas. Tinham que ficar alertas o tempo todo porque a chance de sofrerem um ataque de um navio pirata, era alta. Os alojamentos eram péssimos, a tripulação fedia sem banhos e a comida escassa. Dentro do navio, tudo era muito quente e úmido, um verdadeiro terror. Muitos contraiam doenças e infelizmente, até mesmo morriam.

Foi em torno do dia trinta e sete que tudo mudou. Já havia anoitecido, a escuridão tomava conta da noite e Harry estava esgotado. Sua âncora nessas viagens, era a lua, que brilhava incrivelmente forte hoje. Tirou seu caderno de desenhos do bolso e a desenhou.

Antes de se tornar um homem adulto, o sonho de Harry era ser um famoso pintor. Estudou e dedicou-se durante anos a arte, porém teve que abandonar seu sonho ao crescer. Se tornar um navegador, comerciante foi a única forma que achou para sustentar seus pais, que na época, eram velhos e precisavam de cuidados médicos.

Seu polegar contornou o medalhão que carregava em seu pescoço. Era uma ilustração que ele mesmo fizera de sua família. Sorriu ao lembrar-se deles, que hoje, já haviam falecido. Após beijar o medalhão, o guardou no bolso e voltou a olhar a lua.

Quando se levantou para ir às cabines, ele escutou um barulho nas águas.

Um pouco longe dali, Katrina o observava, se perguntando como seria conversar com um humano.
Pela primeira vez em milênios, ela se viu interessada em alguém, não porque havia se apaixonado, mas porque ele era um amante da lua também.

SIRENOnde histórias criam vida. Descubra agora