Anos atrás eu conheci um garotinho, ele tinha buchechas fofas, seu cabelo era como uma tigelinha. Eu adorava brincar com ele no parquinho atrás da escola, amava quando íamos um para a casa do outro, assistíamos Bob Esponja até cansarmos.
Crescemos juntos, um ajudando o outro em tudo, desde questões de matemática até amores platônicos. Éramos o lar um do outro, naquele momento você era o meu tudo e o meu nada. Fomos felizes naquela época, fomos muito felizes.
...
- Jisung volta aqui! - Grito para o acastanhado em minha frente. - Você não tem o direito de me deixar aqui.
- Não tenho o direito? - Pergunta irônico. - Então quer dizer que você tem o direito de me deixar horas e mais horas te esperando e no final você nem ir? - Diz o mesmo em um tom mais elevado que antes.
- Você não sabe o que aconteceu, você não sabe. Eu tentei te ligar, mas a porcaria do seu celular estava desligado. - Sinto os meus olhos lacrimejarem, nunca havíamos brigado assim, não dessa forma.
- Não venha com desculpas. - Sua feição era de irritação e o que parecia ser remorso. Eu sei que ele está se machucando, nossas brigas sempre afetam mais a ele do que a mim. Sempre foi assim, não importa quantos xingamentos ele me diga, no final ele é o mais abalado. - Então me diga, me diga o que você estava fazendo, me diga o que era tão importante do que o nosso noivado?
Sim, eu não fui ao nosso próprio noivado.
- Não sei se você percebeu, mas meu avô não compareceu na festa. Você percebeu, Jisung? - Ele não responde e começa encarar o chão. - Achei que não... o meu avô está no hospital, ligado em várias máquinas tentando não... não morrer! - Toda a raiva que estava em sua expressão se foi, agora só havia surpresa e o remorso estava mais nítido.
- Eu não sabia... eu não. - Agora ele me encarava mais profundamente, seus olhos estavam grudados nos meus, e isso foi a gota d'água. E foi ele olhando para mim daquela maneira que me fez desabar.
Ele vem até mim e me põe em seus braços, seus braços que sempre me reconfortaram, foi neles que eu sorri, que eu me protegi, que eu chorei. Foi nos braços daquele garoto que antes tinha um cabelinho de tigela que eu me entreguei, foi ali onde eu recebi todo o tipo de amor e simpatia.
- Me desculpa, Chenle... Me desculpa. - Ele sussurava em meu ouvido enquanto ainda mantinha o abraço. Balanço minha cabeça em compreensão e encaixo meu rosto na curvatura do seu pescoço, chorando e chorando mais ainda.
Sou eu quem estou chorando, eu que estou perto de perder um ente - querido, mas pode ter certeza que é ele que está se matando por dentro.
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Ele Sente a Minha Dor - Chensung
FanficNão importa quantas palavras ofensivas, quantos gritos ele diz para mim, no final, é sempre ele que acaba se machucando.