A grama do vizinho realmente é mais verde

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Foi estranho para Sanji acordar no dia seguinte e não reconhecer o quarto em que estava. A cama parecia mais macia do que estava acostumado, a mesa de cabeceira ao lado da cama era outra e havia um quadro na parede adjacente com vários recortes de jornais e revistas colados que ele não conseguiu ler devido a distância e a semiobscuridade. Ficou ainda pior quando olhou para o lado e viu o rosto adormecido de um homem bem próximo a si. Ele sentou-se de súbito na cama, o coração aos pulos. Por um instante achou que alguém havia invadido seu espaço, mas aí lembrou-se de que foi exatamente o contrário que aconteceu.

Procurou o seu celular em cima da mesa de cabeceira, constatando que era seis e meia. O celular já tinha encerrado o toque discreto do despertador e tinha sido isso o que acordara Sanji. Ele voltou a atenção para o homem ainda adormecido debaixo do cobertor grosso.

Certo, era hora de colocar em prática o início do seu treinamento.

Na outra vez que Sanji tentou acordar Zoro precisou usar água para despertá-lo, pois nem um tapa forte em sua perna tinha sido o suficiente para fazer o sujeito acordar. Mas talvez ele estivesse muito cansado e agora, depois de ter passado alguns dias acordando tarde para ir ao trabalho, Zoro tivesse recuperado um pouco da energia e o sono pesado tivesse sido substituído por um mais leve.

Tentou, então, sacudi-lo de leve com a mão em seu ombro, enquanto chamava por seu nome. Parou por alguns segundos esperando por alguma reação dele, mas nada aconteceu. Voltou a sacudi-lo, sendo dessa vez com mais intensidade e também chamando seu nome mais alto perto do ouvido. No entanto, a reação de Zoro foi simplesmente virar para o outro lado e continuar dormindo, dessa vez com o acréscimo de sonoros roncos. Uma veia saltou em sua têmpora. Aquele maldito não estava facilitando as coisas.

Irritado, Sanji o arrastou novamente para o chão e repetiu o processo envolvendo um copo d'água. E como da outra vez, Zoro acordou de repente, levando a mão a cintura de modo automático como se fosse atirar em quem tinha ousado lhe despertar.

O policial franziu o cenho custando a reconhecer o homem a sua frente, mas quando seus neurônios voltaram a funcionar, ele se levantou e marchou para o banheiro sem comentar nada.

Sanji assistiu ele se trancar no banheiro e suspirou, colocando as mãos na cintura. Pelo visto seu adestramento seria mais difícil do que estipulara.

Foi para a cozinha ver o que tinha disponível para comerem de manhã e foi com total desgosto que descobriu a despensa vazia e um único armário cheio de embalagens de comida instantânea. Seu vizinho não podia ter aquele corpo musculoso comendo apenas aquele tipo de comida, podia? Depois de mais alguma procura encontrou um recipiente de vidro com um pouco de um tenebroso café solúvel dentro. Sanji não podia admitir que alguém tomasse aquela nojeira. Sua mera existência ofendia seu paladar!

Por isso voltou ao seu próprio apartamento, tomou um bom banho e depois que fez um café de verdade na cafeteira moderna que havia comprado recentemente, retornou a cozinha bagunçada de Zoro com uma xícara para seu mais recente companheiro de quarto.

Quando Zoro apareceu já vestido com o uniforme de trabalho, que agora Sanji percebia se encaixar muito bem com a imagem dele, recebeu a xícara com um olhar meio desconfiado.

— Isso não é meu café.

Sanji estalou com a língua.

— Aquilo não pode ser chamado de café. É no máximo uma lama aguada com cheiro ruim. Isso que é café de verdade. — disse, ao final apontando para a xícara nas mãos do outro.

Zoro cheirou o café, precisando reconhecer que o cheiro era realmente bem melhor. E ao tomar um gole, constatou que o sabor era melhor também.

— E então, gostou?

Maldito vizinho!Onde histórias criam vida. Descubra agora