Um borrão entre as Flores

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O orgulhoso colibri, batia as bonitas asas de tons verdes metálicos, sem sair do lugar, reluzia as penas brilhantes à medida que a luz da janela banhava o quarto, as pequenas patas se equilibrando enquanto tentava controlar sua própria agitação. Calma, pequenino! Dizia a menina que abria a janela. Através do vidro, ele estufava o peito esmeraldino nos seus cerca de treze centímetros, enxergou os olhos escuros lhe tocarem com ternura, e voou pelo quarto agitando os longos cabelos castanhos de Rebeca, assim que está lhe permitiu entrar. Rebeca se desfez em alívio, ainda ontem, pensava no passarinho que se tornara sua visita constante nesses últimos dois anos, e que no dia anterior havia lhe faltado, naquele bater de asas e cutucadas no vidro da janela. De pijama a menina correu para as flores da fazenda, pegando a deixa do colibri que após o tour habitual no seu quarto, partira para sua trilha de néctar, lá fora.

Ela o acompanhava de perto, há alguns dias o viu cair no chão. Preocupada o ajudou, arranjou uma caixa antiga de papelão, na qual fez vários furos, colocou o pequeno colibri ali, e tratou de mantê-lo aquecido. Fez um escarcéu quando seu avô se recusou a levá-los a cidade em busca de tratar do passarinho. Esperneou e o seguiu pela casa até convencê-lo.

No consultório veterinário, ouviu do médico que provavelmente a razão para o mal estar do colibri fosse a mais natural, e não menos cruel possível, seria a velhice, seria a idade, seria o tempo irrefreável lhe cobrando a vida.

A menina caminhava entre as flores, vendo o bailar do colibri, refletia sobre as palavras do veterinário. A idade tudo consome, o tempo sempre trata de levar cada segundo de beleza dessas asas que mal podia enxergar. Com aperto no coração, ficou triste.

Como se ouvisse seus pensamentos o colibri voou ao seu redor, tal qual fazia com as flores, pairou perto de seu rosto, até lhe tirar um sorriso.

— Você não combina com tristeza não é pequeno — disse a menina girando com o colibri.

Trataria de tentar aproveitar o máximo possível o tempo com seu pequeno mestre do ar, pensou a menina. Aprenderia com ele a flutuar, conquistaria a leveza da vida, e apreciaria a beleza da flores, sempre com a lembrança do seu amigo das doces manhãs, que ainda que existissem e estivessem a acontecer lhe davam saudade, no mero pensar de perdê-las.

Um borrão entre as FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora