Ato III

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Quando o alçapão abriu, revelou uma escada que dava acesso ao subsolo. Maria desceu sem muita cautela e logo notou se tratar de uma adega. Um corredor formado por estruturas de madeira, similares a estantes, emparelhavam barris pequenos e grandes. Todos estavam lacrados, possuíam o brasão da família Ivanovith e uma numeração de quatro números na ordem crescente. De início, Maria pensou ser uma data, mas depois notou que os números não correspondiam a nenhuma. O corredor frio e húmido levou Maria até uma outra sala, onde tubos de vários cilindros saiam da parede, como uma tabulação hidráulica. Maria sentiu uma estranha familiaridade com aquele padrão de tabulação, como se já tivesse visto algo similar, embora não se lembrava. No centro da sala, que era estranhamente iluminada por lanternas de fogo azul, havia uma máquina que aparentemente estava desligada. Maria parou de examinar o local quando sua atenção se voltou para um caixão de ferro, belo e ornamentado. Estava em um ângulo de 45º em relação ao chão, sustentado por engrenagens e um suporte de ferro. Alguns tubos ligavam a máquina ao caixão por trás. Sua observação foi interrompida por um barulho vindo da adega. Ela virou segurando seu chicote preso na cintura e ficou encarando o corredor. Depois de um tempo voltou a olhar para o caixão, que agora estava aberto.

- Por essa indelicadeza eu não esperava, maldita seja a curiosidade dos humanos - A voz aveludada de Edgar soou por suas costas.

Maria se moveu bruscamente, mas antes que pudesse fazer algo, Edgar a atacou com as costas da mão. O ataque a fez voar até a parede como uma boneca, caindo ao chão. Ele era muito forte, como esperado de um vampiro. A belo rosto de Edgar se contorceu em um terrivelmente monstruoso. Seus olhos se tingiram de carmesim e agora suas orelhas podiam ser vistas por entre os cachos, eram deformadas e pontuadas. Maria esperou um segundo ataque, não teve resposta, Edgar apenas estava parado esperando sua ação. Sacou seu chicote que zumbiu no ar atingindo o peito do vampiro que deslizou no chão pela força do ataque. Não teve tempo nem de cuspir um comentário ácido, quando viu os giros do chicote no ar, o couro lambeu a lateral do seu rosto rasgando como uma lâmina. Maria lançou outro ataque, mas Edgar foi mais rápido. Maria foi incapaz de ver sua ação, apenas um rastro vermelho, o vampiro segurou ao chicote e o puxou, trazendo-a para próximo de si. Com a outra mão agarrou o pescoço de Maria e a levantou, enquanto suas férias curavam. Maria não esboçava nenhuma reação, nem mesmo de dor ou desconforto por estar sendo sufocada. Edgar então a largou, deixando-a cair. 

– Isso que me perturba – Sua feição retornou ao normal – Não sinto seu sangue, você não cheira como Anna ou como qualquer humano, você não expressa reação, nem mesmo quando sufocada. No início quando nos vimos pela primeira vez, achei que você era uma de nós. Mas não, você não possui garras ou presas, nem tão pouco consegue mudar de forma física ou defletir a luz como uma cria. Que diabos é você Maria Haniselvyn?

- Nunca se tratou de acreditar ou não – Maria se recompôs sem esboçar nenhuma dor ou dificuldade – Sempre se tratou de livrar seu pescoço da morte por envenenamento.

- A crença que lobisomens podem matar um vampiro com uma mordida, é uma falácia criada pelos humanos. Os únicos vampiros capazes de morrer dessa forma são crias, ou seja os vampiros inferiores. Isso porque não passam de humanos com mutações, que entram em colapso genético ocasionado pelo contado de dois vírus altamente mutagênicos.

Edgar tocou a ferida cicatrizada e então continuou:

- Um vampiro superior como eu não morre, nunca, o máximo que pode acontecer é passar para uma forma de vida incompreendida pelos humanos. Mesmo que meu corpo seja destruído e se torne uma massa liquida, sou capaz de me reestruturar, mesmo que isso leve séculos. Até mesmo se isso me for negado, ainda estarei vivo de uma forma. Por esse motivo alguns de nós, considerados como ameaça a nossa própria espécie, são sentenciados a viver sem forma física. Já que a morte não é uma opção.

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