"'Cause you said foreverNow I drive alone past your street"
Drivers License - Olivia Rodrigo
Certa vez, quando eu estava viajando para a cidade vizinha, presenciei um acidente de carro. Por pouco não atingiu a BMW do meu pai. Fiquei tão assustada ao ver o montante de lata capotando pela estrada escura que eu poderia jurar que de alguma forma havia nos atingido. A freada brusca que o motorista deu me levou à frente e me tirou com força a respiração por causa da pressão do cinto de segurança em meu peito. Todo o meu corpo tremia pelo susto. Eu ergui a cabeça, tentando recuperar o fôlego, quando pude ver outros carros parando do nosso lado. A carcaça do que havia capotado estava virada com os pneus para cima. Uma mulher ensanguentada se arrastou para fora pelo buraco sem porta que havia se tornado a lateral do seu automóvel.Percebi nesse dia que os meus reflexos em situações urgentes são bastante lentos. Enquanto várias pessoas haviam ido prestar ajuda e ligavam para uma ambulância, eu continuei ali encarando a estrada molhada da chuva, esperando meus batimentos voltarem ao normal. Minha mente não trabalhava e de alguma forma eu me sentia dormente. Porém não durou tanto. Em poucos minutos a ambulância chegou, junto ao reboque que tirou a carcaça de lata do caminho para que todos pudessem continuar sua jornada. Tomei quase toda a água da minha garrafa, seguindo depois de alguns quilômetros como se nada tivesse acontecido.
O que me traz a esse dia é como percebo agora que realmente você nunca prevê algo assim acontecendo em sua vida. Esse é o maior problema dos acidentes: não tem como saber quando e como vão acontecer. Isso nos impede de prevenir que aquilo não venha a se realizar. Tenho certeza que se aquela mulher no volante daquele carro soubesse que a curva brusca que iria fazer lhe ocasionaria aquela circunstância, ela provavelmente teria ido mais devagar. Ou até mesmo teria evitado aquele caminho...
E essa foi a minha ruína. Não ter dado ouvidos a quem previu o que iria acontecer foi meu erro. Inúmeras vezes ouvi que Hunter iria partir meu coração. Eu também sabia, só não imaginava que o golpe seria tão brutal. Eu sabia do perigo, só que me pus a acreditar que ele valeria a pena. Foi o que ele me fez acreditar. Que valeria a pena.
"Se apaixonar é como dar a alguém uma arma carregada e apontada para o seu coração e ficar torcendo para que essa pessoa não atire". Li isso em algum lugar uma vez, porém nunca achei que iria realmente me pôr nessa posição com alguma pessoa quando li. Soa engraçado até. Eu, Arabella Bullock, com o coração totalmente entregue a alguém. Mas ele tomou para si sem eu nem perceber. Só me dei conta da minha posição quando senti o tiro da arma carregada em meu peito.
E então eu voltei ao dia do acidente na estrada. Meu corpo dormente, minhas reações lentas e coração acelerado. Vi nos olhos de Hunter o desespero que vi no olhar da mulher ensanguentada, mas eu sentia como se o sangue escorresse de mim. A verdade venenosa e pesada sobre tudo o que havíamos vivido corria por minhas veias, saindo pelo buraco profundo em meu peito.
Assim que vi quem eu achava ser enfim o amor da minha vida atravessar aquela porta entendi como acidentes são imprevisíveis e ao mesmo tempo podem ser tão prováveis. Repassando cada detalhe, desde o primeiro sorriso, consigo notar que a verdade estava bem debaixo do meu nariz esse tempo. Me deixei levar pela aventura e por promessas de um amor, até que a realidade acidental me acordou.
Me apaixonei perdidamente por Hunter Scahill sem saber o que havia depois da curva. A pista molhada desse amor me fez capotar e agora tudo o que sobrou de mim foi uma carcaça ensanguentada. Só me basta esperar que alguém chame o reboque...
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ʀᴜɴᴀᴡᴀʏ
RomanceParece uma clássica história de opostos se atraindo, mas a verdade é que Arabella e Hunter são mais parecidos do que imaginam. A única filha do maior CEO do país. Um motorista de fuga. Uma vida perfeita que se choca com outra completamente conturbad...