Neve em lugar nenhum

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A neve caiu na janela de Katlyn e ela sentiu que sua guitarra permanecera fechada  tempo demais em seu estojo.
"Seis dias sem praticar..."- pensou ela.
A garota de vinte e seis anos colocou suas mãos no rosto. Pensou em como sua vida havia se transformado em altos e baixos emocionais, o paraíso e o inferno.
" Ninguém me vê. E eu não quero que me vejam"- sossurrou.
Olhando para sua guitarra, a tirou do estojo e a afinou usando o celular. Tocou alguns acordes e eles até que soaram bem.
O perfeccionismo típico de Katlyn Moreira não parecia a fazer de refém naquele inverno de interludios entre alegria e tristeza, criatividade e confusão
Parecia que ao menos de algo ruim ela havia se libertado.
" O rosto feio do perfeccionismo eu não verei quando olhar para trás e me deparar com os demônios do meu coração."
O fato era que a cabeça da   musicista doía depois de um tempo tocando a guitarra, Katlyn parava, respirava, as vezes até meditava, mas a dor persistia.
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Seu quarto era razoavelmente espaçoso, o armário, cheio de roupas, estava dividido em duas categorias: as coloridas e as negras. A cama era desarrumada, lençóis desdobrados.
Assim vivia Katlyn Moreira naquele momento, e digo naquele momento porque sua mente se ocupava ou do passado ou do futuro, fazendo com que ela não tivesse descanso, não ali, não dentro de si.
Sem delongas, ela se vestiu, colocou o estojo com a guitarra em suas costas e perguntou para sua mãe se poderia ir até a casa do Raposa.
- Nesta neve? Ficou louca?
- Mãe, o Raposa mora no outro quarteirão! Será bem rápido.
Depois de muita insistência a mãe permitiu.
Neve, céus nublados, falta de pessoas na rua. Katlyn gostaria que justamente ali houvesse um espelho para que ela pudesse ver seu rosto solitário e que não expressava emoções. Guardava tudo dentro de si.
O Raposa morava perto, na casa que a garota apilidou de vidraça, devido ao número quase surreal de janelas...Eram mais de cinquenta ao todo. Com luvas pretas  que a aqueciam as mãos  ela tocou na campainha, mas ninguém atendeu
" Ele deve estar praticando no porão - Pensou a garota"
Andando até a garagem a garota chutou sua porta que era ampla e cinza. Não uma, mas várias vezes. Das arestas surgiu  o som de rock pesado.
- Porra- chingou uma voz que vinha de dentro do lugar.
A porta se abriu.
- Katlyn, qual é a fita?
O Raposa estava furioso e não era pra menos, ela havia interrompido sua prática
- Preciso conversar- falou Katlyn- eu estou meio nervosa e angustiada.
O Raposa, um homem alto de cabelos castanhos claros que ficavam amarrados num rabo de cavalo, a olhou com seus olhos azuis.
- Por meio da escuta e da fala? Ou da música?
- Ambas...

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⏰ Última atualização: Sep 16, 2020 ⏰

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