Capítulo 1- Inicio da noite.

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"Would you love me more if i killed someone for you?

Would you hold my hand? They're the same ones that i used

When i killed someone for you"

A música tocava suave ao fundo e Alfred embalava sua rainha com calma. Foi somente durante o final da tarde que ele a havia convencido de dançar ao pôr-do-sol.
Os últimos raios solares daquele dia entravam pelas janelas abertas e tocavam os cabelos dourados da rainha de espadas, seu rosto descansava em paz contra o peito de seu marido: cílios negros e grossos estavam pressionados levemente contra as bochechas pálidas e seus lábios tinham os cantos puxados para cima em um sorriso dócil quase imperceptível.
A música aos poucos ia parando deixando o cômodo em silêncio, mesmo após cessar o casal real se manteve balançando suavemente pelo quarto, absortos demais em seu afeto para se importar com algo tão tolo quanto o silêncio reconfortante que os abraçava.
Canhões dispararam ao fundo em uma saudação já programada: estavam comemorando o aniversário da coroa. Haveria um grande jantar seguido de uma festa aonde todos os nobres do reino foram devidamente convidados, no dia seguinte haveria um grande festival para comemorar mais um ano de união estável entre os monarcas.
Apesar de tudo, por mais inesperado que fosse, nenhum dos dois governantes demonstraram interesse em sair de sua dança solitário e ir para as festividades, mesmo o rei que sempre parecia animado com eventos sociais parecia relutante em ir para o salão do evento:
-Meu rei, devemos ir receber os convidados.
Arthur finalmente parou o balançar, mas se manteve próximo o suficiente permitindo que as mãos de seu marido descansarem nos lados de sua cintura:
-Nós precisamos mesmo ir, Artie? Podíamos cancelar a festa e comemorarmos a sós, você nem sequer gosta de metade daquelas pessoas!
Alfred disse apertando ainda mais o corpo de Arthur contra o seu, Arthur sorriu para o grande rei de espadas que no momento mais se assemelhava a uma criança birrenta com seus grandes olhos azuis e sua expressão de filhote de cão chutado do caminhão de mudança:
-Eu adoraria fazer isso, Alfred, mas seria extremamente rude da nossa parte, além de que essa festa será importante para melhorar a minha imagem.
O rei lançou um olhar choroso a sua rainha tentando derreter seu coração e fazê-la mudar de ideia, porém a risada de Kirkland deixou claro que não havia surtido efeito.
Com um último suspiro, Alfred cedeu abraçando penosamente sua rainha. Mesmo após se passar um ano de reinado, o povo não via Arthur como sua rainha e muitos sussurravam pelos cantos como ele não passava de um desgraçado sortudo que viveria com todos os privilégios e riquezas ao seu dispor em troca de somente dar um sucessor ao rei.
Nenhum deles viam o quão trabalhoso era ser rainha de espadas, ter que assumir o trabalho que o rei deixava de lado, lidar com documentos e necessidades do reino mesmo que não fossem sua obrigação só para tentar aliviar o peso para Alfred, nem que fosse somente para dar a ele alguns minutos de descanso. Nenhum deles viam como a aliança tão almejada em seu dedo havia arrancado sua liberdade o mantendo preso no castelo ou como a marca real impressa em sua pele havia o obrigado a desistir de tudo o que era.
Nenhum deles via as discussões acaloradas entre os monarcas, seu rastro de corações feridos e mágoas, mantido pelo orgulho de ambos. Nenhum deles via como mesmo que eles não se falassem durante um dia inteiro por causa de palavras cruéis e sem sentido, a noite eles ainda procurassem o calor dos braços um do outro, a respiração quente atingindo os rostos e fios loiros de cabelo, olhares silenciosos em meio à escuridão que transmitiam tudo que era necessário e as batidas do coração da pessoa amada trazendo a segurança que ela estava viva e isso era tudo o que realmente importava de qualquer forma.
As brigas se resolveriam com o tempo, mesmo que as vezes eles enlouquecessem um ao outro e acabassem aos gritos por futilidades o amor ainda era mais forte. Depois de toda a tempestade e mar revolto vinha a calmaria e o céu límpido e valia a pena enfrentar tudo isso por um único beijo e palavras aveludadas ao anoitecer.
Nenhum deles viam Arthur pelos olhos de Alfred. Alfred e sua paixão jovem e agitada que o fazia acordar antes do sol só para velar o despertar de seu amado todas as manhãs em troca de um olhar e sorriso sonolento, beijos de bom dia pelo rosto e afagos em meio aos fios da nuca.
Não passavam de velhos tolos e ovelhas manipuladas que só ligavam para seus desejos egoísta:
-Eu vou me arrumar e nós vamos ir encontrar nossos convidados, está bem?
-Yes, my queen.

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