Capítulo 2- Queda de confiança.

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A porta estava travada firmemente, tornando a janela a única saída junto a uma bela queda de 40 metros. Além da fechadura estar chaveada, havia também uma grande trava de madeira e, após grandes esforços de Jones, agora uma pesada cômoda havia sido instalada junto à porta. Arthur suspirou de seu lugar na cama, pernas para fora do móvel e um de seus braços repousando sobre os olhos, as chamas das velas balançaram com a brisa da noite que entrava pela janela.

Um segundo peso afundou ao seu lado, Kirkland não se moveu os mantendo em silêncio por longo momento:-Como você chegou no salão?-hum? Arthur afastou o braço dos olhos somente o suficiente para conseguir enxergar o seu rei. Alfred não estava olhando para si, suas sobrancelhas estavam franzidas, seus olhos encaravam a parede e a mistura de luz e sombras produzida pelas velas deixava suas feições muito mais duras e sombrias do que deveriam ser:-Eu tranquei a porta e deixei um guarda em frente a ela, não deveria ser possível que você chega-se no salão.-Eu tentei derrubar a porta, quando não consegui pulei pela janela e dei a volta pelo jardim até a porta externa. Alfred não se moveu de sua posição, mas suas íris azuis se voltaram para Arthur enquanto sua rainha falava. O silêncio se estendeu novamente como se não houvessem dúvidas e questões a serem discutidas, como se não houvesse manchas de sangue no puro azul de espadas:-Por que você matou aquelas pessoas? As palavras fugiram em um sussurro pelo lábios de Arthur. Alfred voltou seu rosto em sua direção e suspirou, seu corpo caiu e afundou no colchão, os cabelos loiros se estendiam bagunçados pela superfície e algumas mechas caiam sobre sua face. Nenhum fio ficou sobre seus olhos, azuis como o oceano, um redemoinho cansado e triste perturbando as águas profundas que suas íris eram alguns momentos atrás:-Você não deveria ter saído do quarto, você estava seguro lá. Kirkland franziu as sobrancelhas quando sua pergunta foi ignorada:-Por que você matou aquelas pessoas, Alfred? A pergunta foi mais dura dessa. Seu rei havia prometido explicações e ele não o deixaria escapar tão facilmente do confronto:-Eu não tive escolha. Arthur ferveu:-Você não teve escolha? VOCÊ não teve escolha?! VOCÊ MATOU UM GRUPO INTEIRO DE NOBRES PUBLICAMENTE LÁ EMBAIXO, ALFRED, COMO ASSIM VOCÊ NÃO TEVE ESCOLHA??! Arthur se ergueu, de pé ele sentiu seu corpo tenso e sua temperatura começando a aquecer, a adrenalina que antes havia deixado seus sentidos dormentes passou a bombear por sua corrente sanguínea, um reflexo de luta se preparando para um confronto. Alfred se sentou no colchão, suas mãos apertando os lençóis e seus olhos arregalados pareciam refletir seus pensamentos tentando decidir se ia atrás de seu marido ou mantinha suas mãos para si:-HAVIAM CRIANÇAS NAQUELA FESTA, JONES, HAVIAM PESSOAS QUE ACREDITAVAM EM SEU REINADO E VOCÊ RESOLVEU USAR SEUS CRÂNIOS PARA TIRO AO ALVO?? VOCÊ MATOU TODAS AQUELAS PESSOAS COM ESSA DESCULPA DE QUE NÃO TINHA ESCOLHA! EU ESTAVA MAIS SEGURO NO QUARTO?! MAIS SEGURO DE QUEM? DE VOCÊ?-NÃO! Alfred se levantou em um pulo agarrando os pulsos de Arthur e se aproximando em um único impulso, com um sobressalto pela ação repentina, Arthur se desvencilhou das mãos:-Não! Arthur! Eu...! Eu...! Alfred deus dois passos para a frente, Arthur deu quatro para trás se afastando das mãos estendidas de seu rei e seu rosto pálido de expressão assombrada:-Você o que Alfred? Você não queria? Essa era a única saída? VOCÊ O QUE?! VOCÊ NÃO QUERIA MATAR TODAS AQUELAS PESSOAS NA NOSSA FESTA ENQUANTO ME MANTINHA TRANCADO NO QUARTO?? VOCÊ NÃO PLANEJOU ISSO?? Ou você planejou...? Arthur continuou se afastando quanto mais seus corpos se aproximavam e Jones parecia cada vez mais aterrorizado. Com suas últimas palavras, Kirkland sentiu sua raiva afundar no estômago enquanto um sentimento frio se arrastava por sua espinha. Seus movimentos colocaram uma mesa entre ambos, sua antiga escrivaninha agora servindo para manter distância entre ele e a pessoa com quem se casou de bom grado e que até aquela tarde o regava de amor. Atualmente, entre a escrivaninha e a parede fria as suas costas, a garganta de Arthur se apertava com uma ânsia de vômito causada pelo pânico frio e mórbido diante do rosto branco e consternado de Alfred:-Não, Arthur, me escute! Eu não queria fazer, eu realmente não queria! Mas não tinha outra saída! Eu já havia tentado antes, mas nada deu certo!-Como matar todas aquelas pessoas publicamente era a única saída? Nós temos guardas, leis e prisões, devíamos manter a ordem e garantir a segurança dos cidadãos de espadas.-Eu sei! Eu sei querida! Mas eu não sabia se podia confiar nessas coisas! Eu não tinha tempo! Esse era o único plano que eu tinha! E eu--Plano?! Você planejou isso tudo Alfred! Pelos Deuses! Como você pode ter planejado aquele massacre! Todo aquele sofrimento e dor, como você pode--Eu sei! É terrível! Eu não queria envolver pessoas inocentes nisso, mas eu não tinha tempo! Baby, por favor! Eu preciso que você acredite em mim! Eu juro que só atirei em pessoas que eu tinha absoluta certeza que eram culpados, eu não podia deixar ninguém sair porquê tinha que garantir que todos os culpados fossem pegos e eu tinha que te manter longe daquela bagunça lá embaixo por isso eu te tranquei no quarto--Alfred, você parecia estar se divertindo enquanto matava aquelas pessoas...-O que..?! Não! Okey, talvez um pouco, mas é que era tão frustrante que me livrar deles era muito satisfatório, finalmente estava me livrando daquele peso--E eu? Eu também sou um peso? Por que você me trouxe até aqui, Alfred? Nós trancou nesse lugar isolado? Eu sou sua última frustração antes da libertação? Você vai me mat--NÃO! O grito retumbou pelas paredes de pedra e interrompeu o fluxo apressado de palavras, o silêncio se sobrepôs por um momento até os barulhos da noite começarem a se infiltrar em suas audições junto às suas respirações pesadas escapando pelos lábios. Suas gargantas secas não ganharam reconhecimento enquanto buscavam pelo ar perdido e se encaravam em silêncio, seus pensamentos rodavam, seus rostos eram pálidos e assustados como se fossem crianças com medo da tempestade inofensiva que retumbava nos telhados. Dor se retorcia em suas feições e os olhos de ambos estavam à beira das lágrimas. Machucado e com emoções demais em seu sistema, Alfred despencou na cadeira abatido:-Não, eu nunca, em nenhum momento da minha vida, poderia te machucar. Suas palavras foram muito mais baixas do que o grito anterior, mas de alguma maneira foram também mais firmes e profundas como se fosse uma verdade irrefutável do universo. Kirkland abraçou a si mesmo atrás de conforto e se aproximou um pouco mais da mesa e da figura curvada sobre ela, seu rosto escondido pelos braços:-Por que você matou aquelas pessoas? Alfred ergueu seus olhos azuis e úmidos ao som macio da pergunta, ele se sentou corretamente e empurrou a cadeira um pouco para trás, sua mão mergulhou no bolso da frente de suas calças de onde puxou um objeto e o soltou gentilmente sobre a madeira. Era um relógio de bolso, pequeno como todos os outros do seu tipo com uma tampa para proteger os ponteiros e uma corrente para mantê-lo preso em segurança. E se você se concentra-se bem, com o ouvido bem perto e com bastante silêncio, era possível ouvir sobre sua respiração as engrenagens se movendo, rodando e clicando, fazendo tudo funcionar; você podia ouvir junto às batidas de seu coração o tic-tac dos ponteiros, rodando como em uma dança, marcando lentamente a passagem do tempo. Parecia como magia e de fato era, a magia antiga e poderosa emanava contida do objeto e qualquer um poderia dizer só de olhar atentamente, aqueles com os olhos mais treinado e mais conhecimento na área (seja na mágica ou na montagem de relógios) poderia dizer que esse em específico parecia sozinho, como se sentisse falta de algo e Arthur sabia o que era. O relógio a sua frente era uma das relíquias da coroa de espadas, o relógio do rei que servia para auxiliar o mesmo na viagem do tempo e como tal, fazia par com o relógio da rainha atualmente no cofre real onde ambos deveriam estar. Com tudo que havia sido dito e com essa peça em sua frente, só havia uma única resposta que afundou como uma âncora em Arthur. Alfred ergue os olhos, firmes e elétricos como uma tempestade de raios e sua voz soou no quarto tão poderosa como um trovão:-Essa não é a primeira vez que vivo as últimas horas. Suas mãos tremiam e pela primeira vez Kirkland podia ver o quão ferido e exausto seu marido estava, ele girou lentamente a aliança em seu dedo enquanto tentava botar seus pensamentos em ordem:-Foi por isso que tentou me convencer a cancelar a festa? Os olhos azuis caíram no chão, suas emoções pesadas e a angústia subia por sua garganta, Alfred estava tão cansado e só queria que aquele dia acabasse logo, mas ele não podia descansar enquanto sua rainha estivesse em perigo:-Eu pensei que se os nobres não pudessem entrar no castelo, eles acabariam desistindo de vir atrás de você por tempo suficiente para que eu pudesse pensar em uma maneira eficiente de te proteger, você estava tão convicto da festa e de que isso poderia ajudar em sua imagem uma vez que todos eles aceitaram vir que eu não consegui contar a verdade de que pelo menos mais de um terço daquele salão veio aqui atrás da suas cabeça, mas eu também não podia te perder, eu já deixei sua vida escapar entre meus dedos mais vezes do que achei que meu coração pudesse aguentar. Alfred parecia tão triste, tão machucado e oprimido, ele estava lutando tanto para parecer forte. Arthur afastou os braços dele e se sentou em seu colo, circulando seu pescoço e deixando seu rosto repousar nos fios loiros como o sol, Arthur o abraçou deixando Alfred esconder o rosto em seu peito e sentido as lágrimas quentes molharem sua camisa, braços fortes tremendo enquanto apertavam sua estrutura contra seu corpo e seus polegares esfregavam círculos nas costas largas numa tentativa de conforto:-Você quer me contar? Assim você tira isso do peito e eu já tenho uma ideia de qual era o meu destino. Arthur mais sentiu o suspiro profundo do que o ouviu, o ar parecendo passar por todo o corpo junto ao seu antes de ser expulso pelas narinas de Jones:-A primeira vez que você morreu, foi o começo de um grande pesadelo.[...]"A festa já havia começado e o jantar estava sendo apreciado pelos convidados, Alfred sentia seu corpo quente de felicidade: Havia se passado mais um ano reinando ao lado de Arthur! Os dois estavam juntos não só pelo bem de seu reino, mas também porque o amor havia nascido entre ambos. Arthur estava ali ao seu lado, sua rainha, seu prato havia sido esquecido a favor de uma conversa animada com um nobre próximo, Artie estava feliz. Alfred sentiu seu coração batendo alto em seus ouvidos conforme observava seu marido: o canto de seus lábios estava virado para cima enquanto falava, havia pequenas rugas bem humoradas no canto de seus olhos causadas pelo seu sorriso e seu rosto estava levemente rosado pelo vinho que ele estava ingerindo na comemoração, Arthur era tão bonito naquela noite quanto quando eles se viram pela primeira vez. Kirkland virou a cabeça em sua direção, verde colidindo com azul, ele manteve o olhar por um momento como se tentasse descobrir porque era observado e então seus lábios se curvaram em um pequeno sorriso tão doce, mas tão doce que Jones poderia jurar que sentiu a dor quando seu coração deu uma batida errada antes de disparar perante tal expressão. Seus olhos de longos cílios eram quentes e emitiam tanto amor que fez o grande rei de espadas corar. Pelos deuses, ele amava aquele homem ao ponto da adoração. Alfred voltou sua atenção para uma conversa amigável com os convidados ao lado contrário de Arthur, ele tinha que tentar manter um pouco de sanidade para aquela noite. Antes de descerem para o salão eles resolveram aproveitar um pouco de tempo que tinham para uma "recarga de energia", era aniversário da sua coroação afinal de contas, eles deveriam poder comemorar ao seu modo e Arthur havia sido bastante convincente sobre um momento íntimo antes de Jones se jogar na festança. Agora que ele parava para pensar, talvez ele estivesse o provocando, dando um gostinho do que eles poderiam estar fazendo a noite toda ao invés de ficar entretendo um bando de nobres mimados e colocando um impedimento para que não pudessem fazer isso, algo como sua maldita reputação. Pff, reputação! Quem não gostasse de Arthur como rainha poderia muito bem ir para o inferno na opinião de Alfred, ele não deveria ficar se preocupando com algo tão fútil como reputação, ele era uma das melhores rainhas que espadas teve em séculos! Era isso! Era seu dever como rei dizer a sua rainha o quanto seu trabalho era apreciado e Alfred diria isso a Arthur imediatamente. Se ele soubesse aonde estava Arthur pelo menos. Arrancado de seus pensamentos, Jones não consegui localizar sua rainha no grande salão, ele não estava na mesa de jantar ou nos grupos que socializavam pelos cantos, nem em meio aos casais que rodopiavam pelo salão ou... Ou em qualquer outro lugar! Isso só poderia dizer que ele havia se retirado da festa por um momento enquanto Alfred estava distraído. Droga! Ele tinha que dizer o quanto Arthur era apreciado! Bom, parecia que não tinha remédio, ele teria que esperar seu adorável marido voltar e enquanto isso ele poderia pensar direitinho em tudo o que iria dizer como um homem adulto, sem divagações ou gaguejar. Passou algum tempo em meio a uma conversa ou outra, ele já havia pensado em seu discurso até o ponto de ficar sem ter o que dizer (algo que parecia impossível relacionado ao rei). Alfred puxou seu relógio do bolso, o relógio do rei surrupiado por baixo do nariz de todos de seu lugar de descanso junto ao relógio da rainha: ele gostava daquele relógio! Era quase um pecado manter ele no cofre, juntando poeira em suas belas engrenagens, ele devia pelo menos cumprir sua função de marcar o tempo, afinal inicialmente ele foi criado para isso antes de ser mergulhado em magia e Jones podia sentir que o relógio concordava com ele! Seus ponteiros indicavam que haviam se passado quase duas horas desde que Arthur sumiu. Alfred olhou por um momento para o assento vazio de seu jack. Yao sempre tinha bons conselhos, ele saberia o que fazer e onde encontrar Arthur, mas infelizmente o homem havia sofrido um tipo estranho de indigestão que o deixou acamado por uns dias. Seus olhos voltaram para o assento de sua rainha, a conversa alta que envolvia o salão e a música se tornando um mero ruído de fundo esquecido. A taça de Kirkland estava caída sobre a mesa, o vinho derramando pela beirada caindo na cadeira e depois fluindo para o chão passando despercebidos por toda a agitação. Um sentimento ruim embrulhou seu estômago, uma taça caída poderia ser um mero acidente, mas naquele momento aquilo deixava a atmosfera da sala pesada e estranha, era como se o vinho manchando seu caminho fosse um mau agouro, um sinal zombeteiro de que algo ruim havia acontecido. Algo estava errado. Alfred se levantou, esquecendo seu modos reais ensinados por diversos tutores e partindo sem uma palavra a mesa. Seus pés pereciam se mover sozinhos como se sua energia soubesse onde sua outra metade estava e o guiasse em sua inconsciência atrás dela, ele saiu pela porta interna do salão e segui pelo lado do corredor que não fluía com os serventes da cozinha. Em certo ponto do corredor a luz amarelada das tochas parecia mais fraca, as sombras criadas pelas paredes e móveis poderiam confundi-lo com espíritos esquecidos vindos atrás dele para reclamar vingança, mas sua consciência já não estava com ele. Ele segui anestesiado, seu corpo não parecia seu e ele se sentia um mero espectador, o sentimento ruim crescendo em seu interior parecia ter adquirido uma voz própria gritando terrivelmente consigo o fazendo estremecer. Não muito longe das enormes portas do salão ele avistou algo caído em meio à escuridão, um corpo vestido com o azul de espadas. Alfred se ajoelhou no chão ao lado dele, a falta de movimento do desconhecido era um grande contraste com suas mãos trêmulas que se aproximavam lentamente. Ele tocou a lateral do corpo, calor contra suas palmas frias pelo medo: o corpo estava quente, ele se perguntava se ainda estava vivo ou eram resquícios que logo desapareceriam, ele puxou, um movimento fluido e forte rolando de peito para cima o homem e revelando sua identidade. Arthur. Seus olhos verdes ainda estavam meio abertos, seu rosto pavorosamente branco e doentio, havia respingos de sangue saindo de seus lábios, seus olhos eram nebulosos e não pareciam reconhecer nada a sua volta, sem foco e desbotados. Alfred sentiu o pânico tentando romper a superfície, mas ele o empurrou firmemente para o fundo do estômago, aquele não era o momento. Jones não conseguia sentir a respiração, rapidamente puxando o relógio do rei do bolso ele abriu a tampa e o colocou próximo ao rosto da rainha, o vidro que protegia os ponteiros embaçou levemente. Fraco, mas ainda respirando. Após se chegar a essa conclusão ele deixou de lado o relógio e gritou por ajuda, sua voz ecoou e não demorou muito para eles serem cercados de servos e guardas exasperados. Haviam vozes, muitas vozes, algumas discutiam entre comandos tentando pensar em como ajudar, haviam gritos e pessoas correndo atrás de um médico, o corpo de Arthur havia sido removido do lugar que repousava sobre suas pernas para que mais pessoas pudessem tentar algo para salvá-lo, Alfred não podia dizer nada já que dificilmente ele estava ajudando. Sentado naquele corredor frio, todo aquele som não passava de um zumbido distante em seus ouvidos, ele ainda tinha a mão direita de Arthur que alguma bondosa alma havia erroneamente entregado em suas mãos na tentativa de conforta-lo. Alfred retirou a luva manchada de sangue e encarou a tinta de um azul profundo quase negro que formava uma marca nas costas pálidas daquela mão. Era a mão que a marca da rainha havia escolhido aparecer e as pessoas achavam que a ligação mágica entre rei, rainha e jack poderia ajudá-lo naquele momento, mas sua mão estava tão gelada entre as palmas de Jones que trouxe lágrimas aos seus olhos. Não havia muito o que ser feito, Alfred sabia disso, Arthur havia tossido sangue pelo que as marcas na luva e lábios indicavam, as extremidades de seu corpo estavam esfriando. Não havia algum corte ou ferimento para cuidar e estancar o sangue, ele foi envenenado bem na frente de todos e o idiota decidiu se afastar para não causar uma comoção, não sem antes virar seu copo para que nenhum desavisado acabasse tomando por acidente, deuses! Como Alfred não havia percebido todos os sinais! Arthur estava morrendo e o rei sabia que não daria para achar um antídoto a tempo. Alfred escolheu ignorar a razão mórbida de seus pensamentos e apertou firmemente a mão entre as suas palmas, ele esfregou os polegares naquele pele tentando trazer algum calor mesmo quando suas próprias mãos estavam geladas, talvez se ele apertasse com força suficiente ele poderia impedir a morte de levar Arthur, talvez ele pudesse o trazer de volta e convencer a ficar. Alfred apertou mais firmemente. Seus olhos azuis fitaram somente a marca de sua rainha, sua última esperança enquanto as lágrimas que escorriam por suas bochechas não ganhavam reconhecimento, ele não emitiu um barulho sequer, nem mesmo em pensamentos concentrando toda a sua energia naquele momento. A marca que durante anos permaneceu firme na pele de Arthur, uma nova parte que foi aceita em seu corpo, piscou tristemente uma vez perante os olhos de Alfred e seu coração parou de bater por um momento. Não,não,não,não,não,não! Isso não podia estar acontecendo! A marca piscou mais uma vez, lenta, como se estivesse se acostumando com a ideia, ela picou uma, duas, três vezes e na quarta vez ela sumiu e o mundo de Alfred desmoronou em ruínas. A rainha estava morta- Não. Arthur estava morto. Alfred puxou a mão que segurava para junto do peito e finalmente permitiu derramar todas as lágrimas que estava segurando, ele chorou tudo que tinha, as lágrimas salgadas fazendo seus olhos arderem mesmo fechados firmementes em sua dor e os soluços cortados e dolorosos escapando por seus lábios. Todo o corredor caiu em silêncio, os olhos se voltando para seu rei e a realização afundou atingindo a todos, ele que se manteve em silêncio enquanto todos corriam a sua volta agora derrama sua dor, nada poderia ser mais claro do que as lágrimas que escorriam pelo seu rosto. Eles nunca haviam visto seu rei chorar antes e até mesmo os responsáveis pelo veneno, em meio à multidão de nobres que havia se formado no corredor, sentiram como se houvessem lavado um soco no estômago. Mais lágrimas caíram sejam daqueles que gostavam de Arthur ou daqueles que simpatizavam com o rei em seu sofrimento, derramando seu coração partido sobre o cadáver da pessoa amada. O corpo, frio e sem vida, voltou a repousar pacificamente em seu colo. A cabeça de cabelos loiros areia descansando em seu ombro direito como se estivesse repousando de um dia de afazeres especialmente agitado, o braço direito estava enroscado em volta da cintura mantendo-o mais próximo possível com sua mão amassando o tecido da roupa em um aperto firme enquanto sua mão esquerda apertava a direita de Arthur contra o peito. As lágrimas quentes que manchavam as bochechas de Alfred eram um grande contraste contra o frio do metal que atravessa o tecido de sua camisa. Na escuridão de suas pálpebras apertadas o som dos tic-tac do passar do tempo de um relógio se tornava cada vez mais alto, ele jurava que consegui sentir as engrenagens se mexendo no local onde o relógio do rei era pressionado, ali estava ele, vibrando como ele nunca havia antes contra seu peito, entre seu corpo quente e a palma gelada da mão de Arthur que ele cobria firmemente com a sua. Ele havia o colocado lá? Alfred não se lembrava de pegar o objeto novamente e só se lembrava de agarrar as mãos do marido como a última tábua da salvação, não de colocar algo nelas. Nada disso importava, é claro, não quando o som do mecanismo e dos ponteiros ganhava força silenciando o barulho do corredor, tomando seu lugar de maneira reconfortantes. Alfred agarrou mais próximo o corpo contra si e ignorou o aumento de temperatura, a queimação familiar da marca do rei onde descansava na junção de seu pescoço com o peito. A luz azul iluminou fracamente o corredor e então, tudo parou. Alfred abriu os olhos. Não havia corpo, não havia corredores mau iluminados por tochas, não havia música, nobres e empregados agitados, não havia sangue ou vinho envenenado. Era final de tarde com os raios alaranjados do sol poente se estendendo pelo quarto, o colchão macio abaixo de seu corpo onde estava sentado e o calor da lareira emanando suavemente a distância. Alfred observou tudo em choque. Então houveram risadas divertidas vinda da entrada do banheiro. Seu choque foi trocado por um horror aliviado e se seu rosto não tinha perdido a cor antes, agora ele deveria parecer definitivamente doente: Arthur se escorava com o ombro contra a moldura da porta parecendo seu eu arrogante e orgulhoso de sempre, um sorriso alegre em seus lábios e uma paixão quente abaixo de seus cílios. Rindo suavemente, ele brincou pacificamente:-O que foi, querido? Com esse olhar e rosto pálido parece até que acabou de ver alguém ser assasinado.

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⏰ Última atualização: Sep 18, 2020 ⏰

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