Uma dose

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Foi em uma festa qualquer que eu te conheci. Você é três anos mais novo e parecia perdido sem seu amigo baixinho do lado. Você parecia fácil, mas provou ser o contrário. Você era complicado demais. Pelo menos para alguém como eu, que admira e gosta da simplicidade. Eu não conseguia te desvendar com um olhar, nem te fazer quebrar com um sussurro no ouvido. E eu queria isso. Eu quero isso. Te ver desmoronar foi algo que quis desde a primeira vez que te vi. Mas isso parecia inalcançável, impossível. E isso me irritou. Porra!, como isso me irritou. Qual era o problema de vocês simplesmente se desmanchar ao meu toque? Tremer com o meu sorriso? Aos meus olhos isso era algo tão simples, tão fácil. Mas você, você Felix, conseguiu me mostrar que não seria assim dessa vez. Que eu não poderia te beijar e tocar por uma noite, para depois sumir lhe destruindo e voltar como se não tivesse feito nada.

Beberiquei sem vontade alguma o copo em minha mão. Estava realmente entediado naquela festa. Normalmente eu estaria beijando a boca de algum qualquer, mas todos ali já me conheciam o suficiente para saber que não valeria tanto a pena assim. Desviei o olhar para um canto qualquer, fixando meu olhar em uma pessoa em específico. Sorri contido. Era ele quem eu queria. Aos poucos, fui me aproximando. Sabia que ele já havia notado que eu estava chegando. Mas o fato de sequer se mover me fez sorrir de lado. E o irritante era que ainda assim sua expressão impassível ficou intacta. Fiz uma careta. Parei em sua frente e sorri, aquele meu sorriso de derreter. Me inclinei:

– Oi, posso saber seu nome? – sussurrei em seu ouvido

– Não – você me respondeu duro e firme

Me afastei assustado e te observei sair para longe. Me deixando ali, sem um beijo ou um toque. Apenas com o ego e o orgulhos feridos. Revirei os olhos e resmunguei algum palavrão. Fui em direção ao bar e decidi me encher de bebida o suficiente para perder boa parte dos meu sentidos. Após algumas horas de festa a abandonei, cambaleando. Escorreguei em algo e me corpo quase foi de encontro ao chão. Mas senti alguém me segurar. Ao lhe reconhecer, ri. Gargalhei na verdade. Você passou a me guiar enquanto eu tentava lhe dar instruções atrapalhadas sobre o caminho

– Felix – disse de repente. O olhei confuso – Meu nome é Felix

– Meu nome é BangChan – respondi embolado – Não posso falar prazer, pois ainda não mostrei nada do que posso causar em você

Soltei uma cantada qualquer. Minha mente embriagada se orgulhou, mas notei que ela havia sido uma merda quando você apenas revirou os olhos

Por um tempo, você me fez crer que eu sequer poderia ir embora! Que eu não conseguiria te deixar. E durante uma época isso era realmente uma verdade. Uma verdade inegável. Ainda consigo ouvir a risada debochada de ChangBin no meu ouvido quando me pegou lhe encarando por tempo demais, por algo bobo demais — vamos lá! Você estava apenas lendo um livro qualquer. Eu deveria ter desviado o olhar e procurado alguém com uma roupa insinuante o suficiente para uma rodada de sexo as duas da tarde! —. Eu queria apenas uma boa dose de sexo com você. Mas você me enganou, sim, foi culpa sua! Você me entregou seu pior veneno. Ele veio acompanhado de risadas baixas, belas sardas, um sorriso encantador e uma rebolada de tirar o fôlego. Você, Lee Felix, me entregou uma maldita dose de amor. E quando eu dei por mim, eu já havia bebidos garrafas e garrafas da bebida doce no início e amargurada no fim. Sabia que deveria ter desviado o olhar do seus olhos, para notar o que me servia.

– Quando você vai? – você me perguntou, se aconchegando no casaco alguns números maiores

– Ir a onde Felix? – ri

– Não sei. E você não vai me contar – deu de ombros – Quando você vai partir?

– Partir? Eu não vou partir Felix – respondi, ainda em um ar risonho

– Não precisar mentir para mim. Você vai partir – resmungou logo depois, em uma reclamação pelo vento cortante

– Não vou – me irritei levemente

– Não foi uma pergunta, foi uma afirmação – você retrucou, com aquele maldito sorriso vitorioso no rosto

Suspirei

– Meu amor.... – chamei – Eu não vou partir. É uma promessa

Você me olhou. Desviou o olhar e sorriu de leve, deixando-o morrer logo em seguida. Creio eu que, por um milésimo de tempo, você acreditou nessa promessa. E eu também

Mas vamos lá! Como você mesmo disse, eu não nasci para uma vida de compromisso. Não. E você sabia disso. Sabia sim e não adianta jogar a culpa em cima de mim. Sabia que um dia eu iria embora, e ainda assim decidiu colocar na sua cabeça que você me mudaria. Felix, meu querido! Se uma boa surra por parte de namorados chifrados não me mudou, um maldito sorriso perfeito e viciante o faria? Poupe-me. E, talvez, você substitua todo esse afeto que sente por mim em uma raiva corrosiva. Em um rancor desagradável. Talvez, você mantenha toda sua essência e me deixe guardado em um canto de si, ainda nutrindo um carinho ou até mesmo pena por mim. E com toda minha sinceridade, torço para que você me odeie. Ao mesmo tempo, torço para que você continue me amando. Torço para um dia esbarrar em você na rua e você me dar um belo soco no nariz. Para logo depois, termos uma das várias rodadas quentes de sexo.

Acho que estou louco....

Você me fez escrever mais em uma maldita carta de despedida do que em todos os meus trabalhos na faculdade. Melhor!, você me fez escrever uma maldita carta. Acho que ainda estou meio embriagado de você. Mas tudo bem.!Já me acostumei a cambalear bêbado pelos cantos. Será que outro rostinho bonito irá me ajudar como você fez da primeira vez, naquela primeira festa?  Ou será que ele se aproveitará do meu estado e me dará uma noite agitada?

Sinceramente, isso não importa. Já me estendi o suficiente. Eu deveria ter apenas pego um post-it e avisado que não voltaria mais — não propositalmente pelo menos —. Enfim, adeus.

– Chan – me chamou – Por que você age assim?

– Assim como Felix? – perguntei

– Age tão....cafajeste – respondeu e eu ri alto

– Eu não pertenço a ninguém Felix, é por isso – lhe olhei no fundo dos olhos e sorri

– A ninguém? – perguntou, como quem quer ter certeza de algo

– A ninguém, nem a lugar nenhum.....

Do seu (não tão) eterno amor, BangChan






Foi de repente eu não faço a MÍNIMA ideia do porque, mas ela veio na minha mente e eu só ajustei e coloquei pra fora. Espero que tenham gostado!

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