"Querido Dan,
Estou aqui infinitas vezes, remoendo e rebobinando as fitas das minhas memórias, assistindo tudo novamente, me perguntando onde errei, onde pisei em falso para estar aqui nesse penhasco, o fim foi o começo de tudo, e o meio se perdeu entre o presente e o futuro. Estou prestes a seguir em frente, mas para onde eu não sei. Deixe-me explica-lo melhor. Morrer nem sempre foi uma opção, mas foi a única saída, e eu não tive outra alternativa. Então Dan, deixe te explicar ..."
Suas mãos suavam, e tremiam lendo a carta deixada por Azura, Era manhã, a grama ainda exalava o cheiro de chuva, havia um círculo de sangue, uma moça caída e dois corações partidos. Um por sua amada estar morta. E outro por seu amado está desesperado olhando pra ela. Eram jovens, porém já haviam vivido muito e adquirido experiências ruins, e o crepúsculo se fora. As vestes ensanguentada, a dor e o desespero nos olhos dela. Nos lábios, as últimas palavras pronunciadas: "eu te...a..mo!".
Um ciclo se fechando e outro se abrindo.
Ele não sabia o que estava acontecendo, porque ela fizera isso consigo mesma, e o punhal, onde ela o arrumará? Era um emaranhado de coisas que se passavam na cabeça dele, que ele precisou juntar o resto de suas forças pra suportar aquela perda. Ele a agarrou com todas as forças que lhe restavam e seu corpo caiu com o peso de suas angustias, e ele permaneceu ali por horas, chorando e agarrado ao corpo dela.Daniel acordou em uma cama, sua cabeça doía, estava zonzo, e confuso. Afinal que lugar era esse? Paredes de um cinza quase branco, uma TV de 32'' polegadas a sua frente, uma escrivaninha, uma estante cheia de livros, e uma parte de uma carta rasgada, ele se levantou meio zonzo, estava sem camiseta, e uma calça de um pijama azul claro, no seu braço uma etiqueta de hospital, com as seguintes escritas:
" PACIENTE ESPECIAL - COD. 1515627 "
Ele se assustou. Onde estava? O que havia acontecido? Sua mente estava branca. Estava angustiado, e não sabia o que era aquilo tudo. Lembrou de Azura. Sua pele pálida e gélida sem vida. Teve flashs de idas e vindas. Lembrou da sua tonalidade vivida, ela era morena, de cabelos castanhos avermelhados, porém, os cabelos eram tingidos com frequência de preto. Seus olhos castanhos, eram expressivos e profundos. Aquilo o deixou desnorteado. Sentou novamente na cama, estava tonto. Olhou a pulseira. Tentou lembrar mais de algo. E quando mais tentava, mais sua cabeça doía. Lembrou do sangue, do punhal, da carta. Por que ela tinha feito isso? Eles estavam tão perto. Perto de ficarem para sempre juntos e ela fez isso. Ele ficou com raiva, e começou a andar de um lado para o outro do quarto. Suas lágrimas embaçavam sua visão e ele não pode conte-las. Parou em frente a escrivaninha. e deu um soco. A escrivaninha estalou, era velha, cor amadeirada escura. A mão doía, mas não tanto como o coração. Percebeu arranhões no punho, nos pulsos, uma coisa que não tinha percebido.