Capítulo Único

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A porta do dormitório fecha com um clique, cortando as gargalhadas e o som de estudantes tagarelando no corredor, interrompendo também a forte luz fluorescente que entrava em seu quarto, revestindo as paredes e a mesa com um brilho amarelo. A porta se fecha e tudo fica escuro de novo, a memória muscular a guia para a cama onde ela joga sua mochila e portfólio, e então, caminha em direção a mesa onde acende a lâmpada. A cadeira range contra o piso laminado quando a puxa para se sentar.

Suas mãos agarram o caderno azul escuro no canto da mesa, pega sua caneta favorita, abre o caderno na página onde já tinha escrito metade da carta. Ela estava determinada a terminar de escrever a outra metade antes das férias de primavera.

Clica no botão prateado de sua caneta amarela e a apoia no papel para escrever. Quando ela começa, a caneta desliza sobre o papel com facilidade, como se tivesse sido criada com o único propósito de escrever aquela carta.

Querida Ellie,
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Querida Ellie,

Estamos em janeiro, a neve em Oregon está uma loucura. Meu professor de introdução à escultura acha que deveríamos ter uma competição de construção de bonecos de neve se ainda estiver nevando no meio do semestre. Esta é a primeira vez que desejei que o aquecimento global progredisse rápido. Eu sou muito melhor no papel, com minhas mãos e um pincel.

Tenho pensado muito em você recentemente.

Esse cara da minha aula de "Entendimento Abstrato" me convidou para tomar um café outro dia. Hoje, eu fui. Não foi nada como quando eu estava com você. Não havia aquela ... conexão. Ele não me viu. Eu não o vi.

Mas eu vi você. E você, eu.

Ver você foi como encontrar uma alma gêmea, uma oportunidade única na vida, uma chance que deixei escapar por minhas mãos como areia.
Talvez eu não seja tão boa com minhas mãos quanto pensava.

Com amor, Aster.
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Ela suspira depois de fechar o caderno, abotoando a capa de couro e colocando-o de volta no canto da mesa. Puxa seu laptop, coloca sua música e pega seu caderno de desenho. A música fica abafada, uma vez que ela está em seu espaço criativo, seu pincel cortando o caderno de desenho como uma mulher louca.

Em sua cabeça a música aumenta a intensidade enquanto ela está no auge de seu impulso criativo, e parece diminuir o volume da mesma à medida que adiciona os toques finais.

Aster espera um momento, antes de fechar seu caderno de desenho, para examinar o esboço. Tentando decidir se precisa acrescentar alguma coisa.

A pincelada ousada. Está faltando um traço ousado ou isso seria a morte de um bom desenho?

Ela morde o lábio inferior, pensando. A pergunta tem um peso muito grande. Vida e morte, começo ou fim.

Fecha o caderno de desenho.

Há tempo para adicionar um traço ousado, se precisar.
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O garoto da disciplina de arte abstrata a abordou em uma manhã muito fria de fevereiro no Starbucks do campus. Jason - esse é o nome dele, Aster tem certeza - interrompe o pedido dela no meio do pedido, para pedir seu próprio café, um macchiato ou algo assim, e faz um show ao estender o braço para entregar seu cartão American Express como se Aster se importasse com uma coisa tão fútil assim.

Jason é um cara que vem de uma família com dinheiro. A arte é um hobby para ele. O mesmo só está aqui porque não quer ainda administrar o negócio da família. O pai de Jason administra a própria empresa de arquitetura, sua mãe é médica e ele faz questão que todos saibam disso. Jason gosta de pensar que é a vida da festa. Ele tão "convencido" e arrogante que uma vez, depois que um professor criticou sua pintura por ter uma paleta de cores sem graça, ele saiu da classe bufando indignado.

Em que Não Existe Eu Nem Tu (The Half Of It)Onde histórias criam vida. Descubra agora