(2)

42 3 31
                                    

🍦

Janeiro de 2021, segunda-feira.

Ele me chamou de gatinho.
O que isso significava? Ele me acha um gato? Foi um flerte? Por que ele flertaria comigo?

Meus pensamentos rodeavam esse mesmo assunto desde o ocorrido e, pasmem, já era segunda-feira. Meu último primeiro dia de aula no ensino médio!

Tirando o fato de que eu repeti de ano, eu esperava que esse fosse realmente o último.

Aos 17 anos e com o psicólogico ruim, eu acabei repetindo o terceiro ano do ensino médio. Mas eu não me martirizei tanto por isso, certas coisas precisam acontecer por algum motivo. E agora com 18, fica mais fácil estudar com mais calma já que vou poder sair de casa em momentos de estresse.

Eu estava tão preocupado com o que rolou no sábado que nem liguei de ainda estar em casa, mesmo atrasado. Aliás, eu moro com meus avós. Eu vim morar com eles fazem 4 anos por conta de uns problemas com meus pais e afins.

Eu realmente amo aqui, eu só me sinto culpado por não conseguir sentir e demonstrar todo esse amor pela família que aparentemente todo mundo mundo tem, menos eu.

Já disse que não sou fã de abraços, mas não é só isso. Eu não acho que sou capaz de sentir todo esse amor por minha família. Não é natural pra mim e me sinto um monstro as vezes.

Ouço as pessoas dizendo que amam a família independente se os machucam e eu não entendo, pra mim o amor não significa ignorar a parte ruim. Pra mim, o amor é...

Não sei como é o amor.

Na verdade eu não sei como funciona a maioria dos sentimentos. Nunca sei o que fazer com eles.

Talvez o amor seja isso: saber o que fazer com os sentimentos para ninguém acabar se machucando.

— Ei, me responde! — disse minha avó, me tirando do transe.

— O que você disse? — Perguntei. Eu não tinha escutado nada, estava ocupado demais com meus próprios pensamentos.

— Eu falei que você está atrasado, filho! Já está pronto? — ela disse.

Eu sei que estou atrasado!

— Já indo— respondi simples. Peguei minhas chaves e me direcionei ao portão. — Tchau — Falei um pouco mais alto.

— Tchau, boa aula! Vovó te ama. — ela gritou.

— Obrigado, também te amo. — respondi pelo hábito. Não gosto muito de dizer que amo alguém, me sinto estranho. Pra mim não é certo dizer algo sendo que você não entende, mas é só por isso. Sou grato por tudo que ela fez e faz por mim.

Na escola, 07:10 am.

Já dentro da minha sala, eu pensava novamente sobre o novo sorveteiro ter me chamado de gatinho e me encarado. Por mais que seja vergonhosa a situação, eu gosto de repassá-la na minha cabeça até ficar mais confortável pensar sobre.

Tanto que eu nem mesmo fiquei nervoso ao entregar o dinheiro para o trocador do ônibus ou para procurar minha sala.

Às vezes os pensamentos ficam tão intensos que eu esqueço do mundo lá fora e faço tudo no automático. O que por vezes é bom, mas em outras ocasiões preciso tomar cuidado para não irritar as pessoas.

NEURODIVERSO; Jikook Onde histórias criam vida. Descubra agora