Dia das bruxas. A primeira frase que me veio a mente assim que acordei. E você, sorrindo de lado com seus olhos cansados, levando o cigarro a boca e concordando com a cabeça. Dia das bruxas apareceu novamente, em letras escorrendo sangue, na minha cabeça. Mais uma das vidas que eu tenho com você.
Me levantei e abri a janela. O céu estava nublado, pássaros saindo de árvores secas e voando em conjunto no céu. O dia estava vazio, misterioso, quieto.
Tirei uma camiseta preta de dentro do guarda roupa, tinha um desenho de uma bruxa com uma marca vermelha na bunda em forma de mão, e a única coisa que ela usava era o chapéu. Coloquei junto com um short preto e tênis vans. Me olhei no espelho. Minha pele estava mais pálida que nunca, o cabelo bagunçado e os olhos vermelhos. Legal, ótimo dia, ótima aparência.
Respirei fundo e desci as escadas.
Um bilhete na bancada junto com um prato com uma tampa por cima. Seu café da manhã, querida. Senti o cheiro, cheirava a fritura. Meu estomago embrulhou.
Ouvi batidas na porta. Meu coração acelerou. Corri para abrir e ver seu rostinho, me olhando como se pensasse e sentisse ¨Caramba, vivos de novo, juntos. Estamos aqui.¨Sorri assim que ele me olhou.
Dylan: Achei que estaria de fantasia.- Eu o olhei de cima a baixo. Ele estava com uma camiseta branca toda suja de sangue que escorria de seu pescoço, uma calça preta com uma corrente pendurada e tênis brancos. Sorri.
Calina: Minha fantasia de diabinha é muito curta, mas se esperar alguns minutos eu posso colocar.- Ele morde a boca e puxa meu braço. Enquanto ele me puxa eu seguro a porta e a fecho.
Paro com o rosto próximo dele e tento o beijar, mas ele afasta a cabeça olhando pra minha boca e ri, faço cara de brava e tento me afastar, mas ele finalmente me beija.
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Estava de noite. A ruas enfeitadas com caveiras, aboboras e papel higiênico. Era mágico, do lado dele, era incrível. Ele segurava minha mão e as vezes me rodava, nós andamos pedindo doces e as vezes não recebíamos. Dylan sempre xingava e tacava molho de tomate na frente das casas.
Calina: Por que molho de tomate?- Ele deu ombros.
Dylan: Por que é ruim. Mas pensando bem, deveria ter trago cogumelos.- Eu balancei a cabeça e olhei para o chão.
Mais a frente estava uma senhora, que olhava para o chão, procurando por algo. Olhei para Dylan e ele para mim. Eu não gosto de velhinhas no dia das bruxas, ele leu minha mente e sorriu, me puxando para que a gente se aproximasse dela.
Dylan: Está tudo bem senhora?- ela sobe o olhar e arregala os olhos.
Xxx: Oh meu filho, que susto!- Ela passou a mão ao longo do cumprimento do vestido de pano fino.- Está tudo bem sim, mas preciso de ajuda para achar meu anel. Caiu pela grama...- ela continua olhando em volta dela.
Dylan: Tudo bem.- ele me olha por alguns instantes e começa a procurar pelo chão. Eu suspiro e procuro por algo que brilhe.
Calina: Como é o anel?- a senhora me olha e abre um sorriso estranho. Não é de felicidade, ou de tentando ser gentil, é de surpresa e satisfação como se eu tivesse feito a pergunta certa.
Xxx: Ele é de madeira escura, com uma pedra verde. Ele me permite enxergar no escuro.- ela mexe no dedo em que provavelmente ele estava.
Dylan: Enxergar no escuro? Você? Por causa do anel?- Ele concorda.
Xxx: Eu costumava não precisar dele quando era viva, mas os tempos mudam em segundas chances.- Eu parei imediatamente. Estava inclinada para o chão, e tudo o que eu consegui fazer foi subir os olhos para o Dylan.
Dylan: Viva?- Ela sorri.
Xxx: Vocês também não estão?- Ela enfia a mão em seu decote e pega o anel que estava dentro da sua roupa, quieta ela sobe para a varanda da casa em que estamos em frente e entra.