00 • Love To Hate It

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"Não quero que você saibaEu realmente amo odiar issoEu nunca vou deixar transparecer
Mas você me faz ficar louco."

(Off Bloom)

Lib estava com sono. Ela sempre estava com sono.

Suas férias acabariam em algumas semanas.

Lib gostava de sua cama e de dormir.

Seus olhos estavam inchados, e ela só queria matar a irmã por estar gritando àquela hora da madrugada — tudo bem, não era tão cedo assim, mas ela estava de férias e era uma mulher adulta que não tinha compromissos com ninguém.

— LIBANESCA! — Ingryd batia na porta com pressa; batidas constantes, altas e irritantes.

— O que é, porcaria? — Lib finalmente respondeu, arrastando os pés no chão enquanto esfregava os olhos. Abriu a porta, dando de cara com a figura da irmã mais nova pulando empolgada com dois papéis na mão. Parecia uma criança quando a mãe dá doce demais.

— Eu ganhei dois ingressos para o jogo do Dämmerung Dortmund! — A ruiva fechou a porta na cara da irmã, já refazendo seu caminho para seu quarto. — Mas é área VIP. E contra o Mainz 05! Nós podemos conhecer os jogadores!

— Vai dormir, Ingryd! — Lib saiu andando.

— Papai vai estar lá! — De imediato, os pés da ruiva travaram. — Foi ele que pediu pra te chamar.

Ingryd Roberstkün Everlat — ela abriu a porta novamente, olhando de forma ameaçadora para a irmã —, se você estiver mentindo, eu juro que arranco sua cabeça e deixo ela espetada em frente à casa dele.

— Eu juro que é verdade! — Ingryd sorria, e a ruiva a analisava. — Vai ser em algumas horas.

— Ok. — Fechou a porta, dessa vez com a irmã do lado de dentro. — Você vai me pagar um café da manhã.

Dentro de meia hora, Libanesca estava pronta. Uma calça de moletom e um suéter vermelho. Sem maquiagem, sem paciência, sem um humor significantemente bom.

— Você vai usar vermelho? — Ingryd perguntou engolindo em seco. Não queria deixar claro que aquela era a cor do time rival, não quando a irmã mais velha poderia simplesmente colocar também sapatos e calças daquela cor. — Não tem nada amarelo aí não?

Libanesca a mediu da cabeça aos pés, torcendo o nariz para o ponto amarelo que era Ingryd.

— Se eu trocar de roupa, vai ser de volta para meu pijama.

Vermelho é ótimo! Não tem problema algum, tá lindo. Amei. Ficou super na moda.

Só porque queria, muitas vezes ela agia como alguém insuportável. Lib não era assim metade das vezes, mas revirou os olhos e vestiu um casaco branco por cima da roupa.

Foram tomar café e ficaram na rua por muito tempo. Visitaram lojas, e, enquanto isso, Ingryd tentava explicar futebol para a irmã. Disse que o time oposto ao dela estava em uma colocação mais baixa e que o tal Dämmerung precisava ganhar o jogo para subir uma posição no placar da Bundesliga — que tipo de nome é esse?

Não que Lib ligasse, ela não dava a mínima.

Chegaram mais cedo no estádio e o pai não estava lá. Muito menos chegou durante o jogo. Ingryd se desculpava a cada cinco segundos, mesmo enfezada com o empate e com a posição atual do time. Libanesca pediu para ir embora, mas a irmã queria conhecer os jogadores mesmo sabendo que eles deveriam estar com um puta mau humor.

Os passes foram apresentados aos seguranças, e, em questão de instantes, ambas já estavam lá dentro. Havia um burburinho irritante e muito movimento. Os jogadores se fingiram de felizes assim que viram as duas e mais outros fãs.

Lib viu um bebedouro mais adiante e seguiu em sua direção, se distraindo com sua própria sede. Virou para voltar para junto da sua irmã com seu copo ainda na mão.

Ombros se encontraram, e um pouco de água caiu na direção do homem.

Cabelo loiro, muitas tatuagens, barba de Papai Noel, um nariz estranho e olhos pequenos.

— Talvez você devesse olhar por onde anda. — Foi o que Lib ouviu. Ela comprimiu os lábios e riu em seguida.

— Talvez você — ela apontou o dedo para o homem, quase espetando-o com a unha comprida —, devesse abrir os olhos e descobrir o que é educação!

O homem a olhou com raiva; os olhos pareciam ainda menores e mais escuros pelo ódio que sentia até o momento. Ele soltou o ar lentamente e virou os pés em direção à ruiva.

— Cuidado por onde anda, pode acabar com mais que só um pouquinho de água em si. — Foi tudo o que ele disse.

Libanesca fechou a cara, não pensando duas vezes antes de pegar o copo de água e jogar inteiro na cara do homem.

Todos naquele momento pararam para olhar na direção dos dois.

— Parece que você tem que olhar por onde anda, tem um pouquinho de água aqui. — Lib fingiu limpar o ombro do homem, voltando para a irmã com a cara mais fechada do mundo.

— O que você fez? — Ingryd quase gritou. — Aquele é Hensel Becker!

— Eu não ligo — Lib respondeu, nem sabendo de quem se tratava. — Quero ir embora. — E mesmo sem ouvir a resposta da irmã, saiu andando em direção ao lugar por onde haviam entrado.

Hensel estava todo molhado. No entanto, enquanto tentava se enxugar com uma toalha de rosto que alguém da organização lhe dera, percebeu que, por incrível que parecesse, alguém estava com um humor pior que o dele.

Mas Lib não se importava com quem ele era ou deixava de ser, pois ela não havia gostado nem um pouquinho de Hensel Becker.

As Pernas da Cobra (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora