A luz entrava no quarto, os meus olhos abriam, olharam para ti automaticamente, maravilhei-me com a tua beleza, como sempre. Levei-te o pequeno-almoço à cama, o café ainda ia quente, as torradas estavam quentinhas, aposto que gostarias de saber que acordei a pensar em fazer-tas, só porque gosto do teu sorriso e sei que vais sorrir ao ver o que te fiz, dei-te um beijo, com jeitinho para não te acordar, claro. O miúdo já estava acordado quando fechei a porta do quarto, ainda bem que as panquecas já estavam feitas. Deixei-te um recado na minha almofada, "sei que estás cansada do trabalho, levei o miúdo à escola, dorme descansada, espero que as torradas ainda estejam quentinhas, cuidado, se ainda estiverem significa que o café está quente, amo-te".
Ia a pé, de mão dada com o miúdo, deixava-me levar pelo som do vento, quando cheguei à escola deixei lá a única pessoa que amo tanto como te amo a ti, ele deu-me um abraço tão forte, deve ter ficado feliz por lhe ter feito as panquecas, ele gosta tanto daquilo. Ou talvez tenha sido pelo mesmo motivo que o levou a levantar-se sem ninguém o chamar, é o primeiro dia de escola dele, quem diria, o nosso menino já anda no primeiro ano. Ele estava tão entusiasmado, "quando for grande quero ser como tu, pai" disse ele, pelo caminho, olhando para cima, que felicidade, aposto que quando chegar a casa me vai contar como foi o dia de uma ponta à outra.
Voltei a casa, já tinhas acordado e estavas vestida, já pronta para o trabalho, estavas tão linda, reparei que tinhas calçado os sapatos que te comprei no outro dia, tive de os comprar, ficaste apaixonada por eles a primeira vez que os viste na montra, ia ficando com ciúmes.
-"Bom dia"- digo eu, como sempre disse e direi
-"Bom dia"- retribuis, com a mesma voz e o mesmo sorriso de sempre, ai, esse sorriso, fico parado no tempo a olhar para ele
-"Bom dia"- repito, apenas para dar a entender que estou à espera que me beijes
-"Bom dia, amor"- voltas a sorrir ao dizê-lo e eu volto a ficar parado no tempo, adoro estas paragens
Vou ter contigo e puxo-te para mim, voltas a sorrir, mais uma paragem, digo-te que te amo e beijo-te antes de te deixar sequer retribuir e, como sempre, sorrio a meio do beijo, fazes-me feliz, fazes-me sorrir, obrigado por isso.
Amanhã fazemos dez anos, ainda te lembras das promessas que te fiz? E de todos os medos que tinha? E do quanto te amava? Tudo se mantém, menos uma coisa, já não te amo o mesmo que te amava à dez anos atrás...amo-te muitíssimo mais!, tal como sempre disse que aconteceria, e continuo a dizer, cada vez te vou amar mais. Lembras-te do que combinámos quando estávamos quase a fazer apenas 5 meses? Eu ainda me lembro, por muito estranho que pareça, não, não é nada estranho, eu lembro-me das coisas mais importantes, podes crer que sim, aos 70 anos vamos ler todas as mensagens que enviámos um ao outro, tal como te prometi, tal como me prometeste, tal como prometemos os dois.
A nossa vida mudou, mas nós não, continuamos a ser os mesmos adolescentes de 2014, ainda te agarro ao colo, ainda te mordo, ainda te babo, ainda andamos de mãos dadas pela rua.
Amanhã vamos visitar a tua mãe, eu prometi-lhe, ela diz que me gosta de ter por lá, palavras simples mas que me tocam cá dentro, bem dentro do coração, quem diria, ainda me lembro de dizer que ela me odiava, lembras-te? Lembro-me tão bem. Também me lembro de dizer que tudo ficaria bem entre vocês, tinha ou não tinha razão? Claro que tinha, sempre tive tanta certeza disso, tinha quase tanta certeza disso como tinha a certeza de te amar, e acredita que nunca na vida tive tanta certeza de nada.
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O futuro do passado
RomanceUm adulto recorda os tempos de adolescência que passou com a sua namorada, que agora é sua mulher.