Era verão quando vi seu rosto

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Oi, eu sou a Drica e Além de Irmandade é uma história que já dura anos no meu coração e nos três computadores que eu tive desde o seu primeiro rascunho. Eu comecei a escrevê-la sem pretensão, porque eu queria fugir das aulas chatas de química. Depois, continuei a escrever porque queria fugir da sensação estranha de não me sentir completa na faculdade. Parei de escrever por alguns anos porque (e aqui caberia um textão) eu me vi em um trabalho exaustivo e, mais tarde, em um relacionamento abusivo, do qual eu me livrei no mundo físico, mas que ainda borda pesadelos e dias de pura tristeza dentro do meu mundo emocional.

Além de Irmandade voltou como um resgate de mim mesma e dos personagens que me chamam quase todos os dias para me contar algo novo sobre eles. Eu amo isso. E por isso vou reescrever toda essa aventura sobre amor e autoconhecimento e, no processo, espero tocar o coração de alguém que precisa disso tanto quanto eu.

Obrigada aos leitores que me acharam até nos confins do Instagram para perguntar se tava tudo bem. Obrigada ao meu melhor amigo, Higgor, o primeiro e o último leitor de Além de Irmandade, que me apoiou incondicionalmente. E ao Daniel, que fez essa linda capa que um dia, quem sabe, vai estar na prateleira de alguma livraria famosa.

Cortada a faixa de reinauguração, podem entrar. Boa leitura :)

(a playlist deste capítulo está disponível no Spotify com o nome de "era verão quando vi seu rosto")


Verão, 2014.

A mudança drástica chega para todo mundo, em algum momento. Ninguém é imune à vontade absurda que o Universo parece ter de nos ferrar. Meu pai costuma dizer que se ferrar é crescer, e, querendo ou não, não dá para não crescer. Ou seja: não dá para não se ferrar.

E para estar ferrado basta um instante. Em um dia como qualquer outro, seu pai pode entrar no seu quarto e dizer que está de casamento marcado e um contrato de compra de imóvel assinado. E o imóvel pode ficar em outra cidade, bem longe da escola ou da casa do seu melhor amigo.

É, esse era o novo roteiro que o Universo resolveu colocar no lugar do anterior, no qual eu era uma criança sem mãe e com dificuldade para socializar e expressar as próprias emoções. Era verdade que agora eu teria uma mãe. Mas, sei lá, será que para isso eu precisava perder todo o resto?

Geralmente, esse tipo de coisa acontece para que a gente resolva um problema que não tem solução porque, geralmente de novo, esse problema tem a ver com um padrão emocional esquisito, sobre um trauma obscuro que na verdade é bem comum, mas que vai nos ferrar pelo resto da vida.

O meu padrão certamente era algo entre me sentir deixado de lado e não fazer nada quanto a isso. Sobre não conseguir manter amigos na escola, sobre as decisões que meu pai tomava por nós dois e sobre as razões pelas quais minha mãe nos abandonou. Talvez o Universo só quisesse me fazer sentir tudo isso de novo, mas em um lugar diferente.

— É bem ali. Nossa casa nova. — Como se estivesse só esperando meu pai falar primeiro, logo depois a voz feminina do GPS anunciou o destino à nossa direita.

Meu pai deu a seta e endireitou o carro em frente a um portão cor de chumbo. Olhei pela janela. Por trás do ferro vazado do portão, e sob a forte chuva que nos perseguiu durante as quatro horas de viagem, a imagem da casa de dois andares parecia um sonho. Não exatamente um sonho bom. Estava mais para um daqueles que beiram o pesadelo, em que você se vê em um lugar estranho e tudo está meio azul e melancólico. Será que mais alguém sonhava azul?

— O que achou, Luca?

Olhei para o meu pai, que aparentemente estava procurando o controle remoto do portão nos bolsos da sua mala de mão. Quando seus olhos alcançaram os meus por um breve instante, eu soube que não poderia decepcioná-lo. Meus olhos miraram a casa outra vez. Era...

Além de IrmandadeOnde histórias criam vida. Descubra agora