Prólogo.

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➳ O COMEÇO DO FIM , ou mais ou menos isso.

Toronto, Colônia Britânica ━ Canadá. 4 de Abril de 2020.

Era uma manhã chuvosa, como tipicamente já era esperado levando em conta o clima e a região daquele país. O barulho da chuva era quase terapêutico, o único som que ecoava pela casa tão cedo naquela manhã, isso e a máquina de café que cumpria o mesmo rigoroso ritual de preparo durante os últimos sete anos.

Deixar New York não estava em seus planos. Na verdade, deixar a única cidade que algum dia lhe proporcionou a mínima sensação de casa e família nunca esteve nos planos dele. Uma mudança drástica. Drástica, porém necessária.

Mas ele não era o único sentindo falta de casa, dos amigos... da família. Não precisava ser nenhum super detetive para enxergar o quão a mudança repentina de New York para Toronto tinha afetado sua filha, por mais que Lian fosse muito esperta ao tentar disfarçar, não poderia culpá-la por sentir falta dos tios, tias, amigos e o resto da família que ainda residia naquela região.

A mãe de sua filha era uma constante problemática em sua vida, uma constante que nunca escondeu o verdadeiro motivo de manter uma espécie de casamento forçado até o dia de sua morte, sempre usando a filha como uma justificativa, ou simplesmente por puro desejo de vingança nas veias. Um traço que carregava em seu DNA muito antes de seus caminhos se esbarrarem e a vida dele ir por água abaixo.

Se arrependimento matasse, Roy Harper tinha certeza de que estaria enterrado a sete palmos abaixo da terra há muito tempo. Era mais fácil viver parcialmente isolado em outro país do que ter que encarar a cara de amigos e familiares.

O líquido quente e amargo desceu queimando em sua garganta, fazendo com que ele mordesse a própria língua. Lian ainda dormia, e não estava nos planos dele ter uma princesa enérgica de dez anos acordada em plenas sete e meia da matina.

Roy aprendeu há um certo tempo que a vida nem sempre seria como ele queria que fosse, e o soar gritante da campainha com toda a certeza confirmava todas as suspeitas restantes (se é que ainda havia alguma).

Ao abrir a porta, a primeira surpresa do dia era revelada. Dick Grayson-Wayne. Seu melhor amigo, ou ao menos esse era o posto que ele costumava ocupar; Roy ainda não tinha certeza em que pé aquele relacionamento estava. Afinal, qual havia sido a última vez que eles haviam entrado em contato? No último aniversário de Lian, meses atrás?

Não importava quando ou onde, no momento que seus olhos caíram sobre Dick, ele sabia que alguma coisa estava MUITO errada, ou ele não teria feito a viagem inteira para trazer a notícia pessoalmente. Século vinte-e-um, nada que um simples telefonema não pudesse resolver. A não ser que fosse algo tão desesperador e assustador para ser informado pessoalmente.

Roy... Posso entrar?

Aquilo definitivamente não significava nada de bom. O tom carregado na voz de Grayson era preocupante o suficiente para que Roy simplesmente desse espaço para que o moreno passasse para dentro da casa.

Ele não se importava do amigo estar encharcando todo o carpete da sala de estar, ou do jeito um tanto desesperado com o qual ele manuseava a média caixa de papelão que retirou do bolso de sua jaqueta impermeável.

━ Roy, a Donna -- Houve um acidente.

Poucas palavras podiam aterrorizar Roy tão rapidamente e profundamente, e aquela sentença com toda a certeza era uma delas. Só aquele nome tão familiar fazia seu coração automaticamente explodir dentro do peito e quase sair pela boca, um efeito que só uma única mulher era capaz de ativar. Aquele era um dos poderes que DONNA TROY tinha sobre ele desde seus quatorze anos.

Afinal, como esquecer a mulher que sempre teria seu coração?

Grayson... Ela... ?

Cogitar a possibilidade de sua morte criava um nó em sua garganta, tão sufocante quanto os poucos segundos que pareciam horas até Dick continuar.

O quê?! Não, não. A situação é grave. Tiveram que a colocar em coma induzido depois de uma longa cirurgia... ela vai ficar bem, mas esse não é o único motivo.

Muita informação tão cedo nunca resultava em algo bom. Um misto de sentimentos tomava conta de seu corpo, precisava vê-la antes de qualquer coisa. Mas antes Dick pacientemente explicou a situação, o acidente, como seria a recuperação. E então finalmente o entregou a pequena caixa em mãos, tão desnorteado que havia esquecido a existência daquela embalagem nas mãos do amigo.

━ Ela teve alguns minutos consciente no hospital antes da cirurgia, queria que te entregasse isso. Aparentemente você precisa ouvir.

Íris verdes analisam a caixa atentamente e uma dúvida cresce cada vez mais em sua mente. Donna Troy nunca fazia ou pedia coisas por um acaso ou por delírio, ela sempre tinha um motivo plausível (e regularmente certo) pra tudo.

Não demorou muito tempo até Dick ir embora, deixando o endereço do hotel que estava hospedado e a data de quando estaria retornando para NY, daqui dois dias, o tempo que foi dado a Roy para decidir se voltaria com ele ou não.

O que era uma pergunta extremamente idiota, quando o assunto em questão era Donna Troy. Sua Donna Troy.

Ao desembrulhar a caixa ele logo descobriu do que se tratava. Reconhecia aquele pequeno aparelho de anos atrás, uma viagem visual e mental para os dias como um estudante da escola e faculdade particular Titã. Era o velho celular de Donna, um dos primeiros modelos daquela época e definitivamente uma sensação entre os adolescentes. Mal tirava fotos ou era capaz de armazenar vídeo, mas era um ótimo gravador de áudio.

Apertou o botão gasto onde o aparelho era ligado, retirando de dentro da caixa os fones de ouvido que funcionavam com o modelo. Você realmente pensou em tudo, garota maravilha. Com os fones em seus ouvidos e conectados ao celular, a única coisa que lhe restava era apertar o play.

" Tudo bem, acredito que isso esteja funcionando. A data é treze de Fevereiro, o ano é 2011. " um sorriso automático tomou seus lábios assim que a voz que era música para seus ouvidos soou calmamente, não espantando a tamanha curiosidade que aquilo tudo despertava em si. Mas o que viria a seguir tiraria o sorriso daqueles lábios. " E, basicamente... Isso parece tão inútil, mas não tenho ninguém mais pra contar a verdade e o que está acontecendo comigo. Obviamente deveria estar contando para Roy. Então, Roy... Se você estiver ouvindo, é porque não me importo mais com a existência da Jade na sua vida. Ou porque não consigo mais guardar isso pra mim. Num resumo? Enquanto você provavelmente está cuidando da sua filha, eu estou na casa da minha irmã, Diana, com o nosso filho recém nascido nos braços."

Listen Back, uma au donnaroy.Onde histórias criam vida. Descubra agora