A manhã estava fria apesar do sol estar brilhando no céu. Também pudera, era inverno e mesmo com o frio que estava, Aninha acordou logo cedo. Como não ia ter aula, foi logo sentar na frente de sua casa. O objetivo era analisar todos que haviam acordado no mesmo horário.
Ela sentia prazer em reparar no modo como as pessoas se comportavam, nas roupas que usavam, em seus defeitos físicos. Tudo pra poder rir enquanto imitava cada um deles.
A mulher de cabelos compridos , amarrados num rabo de cavalo, era muito bonita, mas enquanto caminhava, balançava o cabelo pra lá e pra cá. Ela imaginava que no futuro iria ser como aquela mulher.
Aninha sempre cumprimentava a todos com um "bom dia", mesmo sabendo que depois iria rir de todos.
Com 9 anos apenas, tinha uma imaginação e uma inteligência além do normal. Nem sua irmã Ivete, nem seus primos e primas poderiam ser comparados a ela. Por isso todos a respeitavam, afinal, ninguém contava histórias como ela.
Naquela manhã, viu algo que a surpreendeu. Alguém vinha caminhando apressadamente em sua direção. Era pequena e magra, muito magra, pele e ossos. Seus cabelos curtos, brancos e encaracolados, chacoalhavam enquanto ela caminhava. Sua pele branca e enrugada, deixava claro que não se tratava de uma outra criança, mas sim de uma idosa.
Aninha estava arregalada com a aparência daquela mulher, que apesar de feia, era simpática. Bom dia, senhora!- Aninha cumprimentou depois de superar o susto.
ㅡ Bom dia, menininha!- a velhinha respondeu abrindo um enorme sorriso, mostrando seus grandes dentes quadrados.
Aninha estava de boca aberta, por ver uma pessoa tão estranha e assustadora. Como sua curiosidade era maior que seu medo, permaneceu ali sentada, esperando que ela voltasse por ali novamente.
"Provavelmente ela deve ter ido comprar pão para o café da manhã", pensou Aninha.
Não demorou muito para que ela voltasse e Aninha foi logo dizendo:
ㅡ Bom dia!- repetiu o cumprimento.
ㅡ Bom dia!- respondeu a velha senhora.
Depois disso, Aninha correu para dentro de sua casa, eufórica.
ㅡ Mãe, mãe, mãe!
ㅡ O que é guria?- perguntou sua mãe.
ㅡ A senhora nem sabe o que eu vi! Uma velha bruxa, seca, os ossos dela apareciam todos por baixo da pele transparente.
ㅡ Vai embora sua mentirosa!ㅡ É verdade, amanhã vou chamar a mãe pra ver.
Durante a tarde quando seus primos vieram até sua casa, Aninha contou tudo o que viu e seus primos ficaram admirados. Depois ela foi brincar com eles subindo nas árvores, no pé de laranja, depois no de ameixa, comendo enquanto brincavam.
As seis horas da tarde, era a hora de espantar os morcegos que vinham comer as ameixas, antes que eles virassem vampiros.
ㅡ Aninha, vem logo pra casa tomar banho!
ㅡ Saco, logo agora que eu estava brincando.- resmungou baixinho- Ah mãe, só mais um pouquinho?
ㅡ Não! É tarde. Amanhã você brinca mais.
Depois do banho tomado e ter jantado, era a hora de ver televisão. Sua mãe via novelas, então durante esse período, ela e sua irmã Ivete, brincavam de bonecas. As duas brincavam, mas acabavam fazendo barulho.
ㅡ Vocês fiquem quietas, porque vai começar "Pai Herói".
Essa era a novela de horário nobre. Mesmo com a televisão preto e branco, sua mãe não perdia um capítulo.
Após isso, sua mãe ia para a cama e Aninha corria para a tevê. Sua irmã, que era mais jovem, ia para a cama dormir, já Aninha só desligava a tevê de madrugada, depois de ver todos os filmes, principalmente os de lobisomem, vampiros, dráculas, bruxas etc.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Ossos de parafusos.
Historia CortaAninha morava em uma rua bastante movimentada e em frente da sua casa ela sentava todas as manhãs para analisar as pessoas . Uma doce velhinha sempre a cumprimentava, mas Aninha ficava arrepiada com sua aparência. Por isso, ria muito da pobre velha...