Alice & Olívia

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Música sugerida: 

You are my sunshine - Christina Perri.

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Desde que ela chegou, o que mais gosto de fazer é passar os meus dedinhos em seus cabelinhos.

Eles são lisinhos iguais aos meus, mas um pouquinho mais escuro - mesmo que eu seja mais moreninha do que ela. A vovó Ana diz que sou uma misturinha bonita, mas enquanto Olívia é igual à mamãe, sou parecida com o papai. E eu gosto disso, sabia? Porque ele é muito lindo. E muito alto também.

(A dinda Lica me deu até uma girafinha de pelúcia quando eu era bebê - com dois aninhos já sou mocinha, claro - e diz que é porque sou uma também, igual papai e mamãe. Acho isso bom, porque sou uma menina alta, como eles, e amo bichinhos. E a girafa é minha melhor amiga. Ou era, né? Agora, ela precisa me dividir.)

E é isso que estou fazendo, enquanto estamos deitadinhas uma do lado da outra: me dividindo entre a Olívia e a girafinha, porque não consigo ficar longe de nenhuma das duas. Mas chegar até aqui não foi fácil, tá? Precisei fingir que estava fazendo a soneca da tarde com a minha irmãzinha. E acho que fingi tão bem, que acabei cochilando mesmo ... afinal, como resistir aos carinhos da mamãe? Ela faz um cafuné tão gostoso, que nem o papai resiste.

(Nos últimos tempos, na verdade, o papai não resiste a muita coisa. Ele parece que tá sempre cansado para quase todos, principalmente quando chega do trabalho - acho que ele é um agente secreto, porque na TV é chamado por outro nome que não papai, amor ou Rod, como todo mundo que amamos o chama. Mas ele está sempre disposto para a mamãe e para Olívia. E para mim também, pois ele diz que sou sua princesa. Então, ainda fazemos a nossa vitamina colorida de manhã, ele pinta minhas unhas de vez em quando e, sempre que possível, nos aconchegamos juntinhos na minha cama à noite, para lermos algum livrinho antes de dormir. As historinhas que mais gosto são as de garotinhas espertas e guerreiras como eu).

Preciso dizer que só tem uma coisinha que a mamãe faz melhor do que o papai: cantar. Na verdade, ela só canta um pouquinho melhor, mas nunca vou dizer isso para ele. Até porque é bom ouvir as musiquinhas cheirando o seu pescoço. Esse lugar quentinho me acalma desde que eu era bem pequenininha. É como se tudo ficasse melhor quando estou ali, com o nariz enterrado naquela curvinha gostosa. Às vezes, ele tem o mesmo cheirinho do sabonete para meninas crescidas que uso ... porque além de parecidos, também ficamos cheirosinhos igual.

Gosto especialmente quando o papai ou a mamãe cantam a musiquinha do raio de sol para mim, porque os dois sempre dizem que sou um. E eu acredito, pois, me sinto mesmo uma girafinha brilhante ... não é engraçado? 

(Acho que me sentir assim, tão forte e cheia de luz, tem a ver com um negócio chamado signo, que não sei o que é, mas tia Yanna sabe e vive comentando por aí. Ela diz é porque sou de Aquário, e eu não entendo: se sou isso aí, cadê os peixinhos nadando pertinho de mim o tempo todo?).

Ah, assim que Olívia chegou em casa, também cantei a música do raio de sol para ela. Queria que ela entendesse que seria para sempre o meu solzinho e eu o dela.

"You are my sunshine

My only sunshine"

Acho que a mamãe gostou mais de me ouvir cantar do que a minha irmãzinha, porque Olívia continuou dormindo e ela chorou. Fiquei preocupada quando percebi, já que não gosto de ver aqueles olhinhos tristes, mas ela me prometeu que estava chorando de felicidade. E acho que estava mesmo, porque enquanto a aguinha salgada caía das duas bolinhas verdes que ela tem no rostinho, sua boca dava um daqueles sorrisões que fazem cosquinha na minha barriga. As borboletinhas que moram ali sempre ficam felizes quando ela sorri assim para mim.

(O papai chegou depois e também ficou todo emocionado, enquanto tentava gravar com o celular, e me encheu dos beijos que só ele sabe dar. Bem, eu fiquei muito intrigada por algum tempo com tudo isso, afinal só choro se estiver com fome, com sono ou se levo um tombo sério. De alegria, só dou risadas mesmo. Enfim, achei essas pessoas grandes ainda mais estranhas, mas não disse isso para nenhum dos dois porque eles estavam muito felizes olhando para a gente).

Depois eu soube que essa reação foi porque todo mundo pensou que eu ficaria chateada com a chegada de Olívia. Não entendi. Por que eu me sentiria assim? Desde que nos conhecemos, naquele lugar bonito bem acima das nuvens, já nos entendíamos e nos amávamos. E eu não podia mais esperar para vê-la aqui também, pertinho de mim.

(Tá boooom, a barriga de bola da mamãe era muito boa para aconchegar, mas nadinha pode ser melhor que ter a minha irmãzinha aqui com a gente. Somos uma família de quatro agora. E quatro é maior que dois, que é a idade que tenho, né? Então, é muito amor. E muito amor é bom. Como ninguém entende? Isso só confirma o quanto essas pessoas grandes não sabem de nada e nós, crianças, somos mais inteligentes).

Agora que está maiorzinha, com quatro meses - como a mamãe me contou -, Olívia tenta cantar junto comigo. Só que ainda não consegue. O papai me disse que é porque ela ainda não sabe falar, enquanto eu sim. E tudo por quê? Isso mesmo, porque já sou grande. E especial – ele gosta de acrescentar isso, às vezes, o que faz meu coração explodir de amor e as borboletinhas dançarem até a ponta do meu dedinho do pé. Não consigo verbalizar os meus sentimentos direito ainda, porque sou crescida, mas nem tanto, só que ele também é especial para mim.

(E, desde que me disseram que eu seria sua filhinha, é meu favorito também. Não me entenda mal, eu amo a minha mamãe. Ela é linda, tem cheirinho de fada e faz o melhor mingau do mundo, mas o papai tem alma de criança. Muito parecida com a minha. Alma de quem será eternamente jovem, mesmo quando ficar velhinho e de cabelos branquinhos como a neve, igual ao vovô Antônio. Na verdade, não sei o que deve ser essa tal de experiência, mas deve ser algo bom ... tão bom quanto brincar com os meu priminhos ou comer o bolo de chocolate que a tia Mari prepara quando vou passear na casa dela e do dindo Fi).

Olívia abriu os olhinhos.

E agora olha diretamente para mim.

Fico um pouquinho surpresa sempre que estamos, assim, olhando uma para a outra, pois temos os mesmos olhos gigantes da mamãe. Só que todas as nossas semelhanças acabam aí - e isso vai ficar mais claro em algo que chamam de adolescência, pois o tempo será o responsável por revelar que, em termos de personalidade, enquanto eu sou uma tempestade feroz, de proporções gigantescas, ela é maré mansa. Meu espírito é feito de raios e ventanias, e o de Olívia de mar calmo e conchinhas perdidas à beira da praia.

Mas não vamos pensar no futuro, né? Isso é coisa dos grandes, a gente não tem essas preocupações ainda.

Quero mesmo é cheirar a sua mãozinha e beijar o seu rostinho, porque já estou ficando com sono outra vez. Pode?

Acho que você me diz sim, então me inclino e te beijo.

Logo, deito de novo. Dessa vez, mais pertinho de você.

Fecho os olhos. Vamos dormir?

Não sei o que você responde, porque bebês ainda não falam e já comecei a cochilar.

Só sei de uma coisa: estou feliz por finalmente você ter chegado. Te amo muito, Olívia.

Sua irmãzinha,

Alice.

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É difícil não imaginar Morimas com bebês, né? A criação desse conto veio exatamente disso e de nada mais - ok, talvez do fato de que sou apaixonada por bebês também rs.

Obrigada por ler,

Anna.

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⏰ Última atualização: Oct 10, 2020 ⏰

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