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Aquele era um dia chuvoso mas mesmo assim eu precisa viajar, e dessa vez era sozinha. Eu amava viajar sozinha, amava exercer minha individualidade, era um prazer me sentar no ônibus e colocar os fones de ouvido, e curtir a paisagem ao som de uma música, e poder organizar meus pensamentos.

Antes de sair de casa conferi minha bolsa, meu celular, fones de ouvido, um casaco, um carregador pois a bateria do meu celular estava ruim e descarregava muito rápido, e a carteira com documentos com dinheiro que minha mãe havia me dado. Eu tinha me irritado com ela, uma vez que ela me deu mais que o dobro de dinheiro necessário para viagem, com a famosa frase "Você não sabe se vai precisar?", que por sinal me irritava uma vez que parecia que minha mãe sabia mais que o normal.

Fui para a rodoviária e peguei o ônibus, apreciei a viagem ida, escutei várias músicas e sonhei com dias melhores. Ao chegar na cidade de destino fui para a primeira consulta com o médico, que foi bem rápida, a segunda consulta demorou um pouco, e fui a última paciente atendida antes do horário do almoço.

Sai da consulta correndo pois sabia que não havia muitos horários de ônibus pra minha cidade, e não queria passar a tarde inteira lá. Não cheguei a tempo, mas havia um ônibus indo pra uma cidade após a minha, então liguei para minha mãe, ela falou para eu esperar o próximo mas como eu não quis, ela resolveu ligar para o meu padrasto e ver se ele podia me buscar no trevo de entrada da minha cidade. O meu padrasto aceitou, então peguei aquele ônibus.

Na hora entrar no ônibus senti um nervosismo estranho, mas mesmo assim entrei, e fui a viagem me sentindo mal, e nervosa. Tudo ficou pior quando chegamos na estrada e me lembrei que os trevos estavam em uma obra de padronização, eu simplesmente não reconhecia mais o meu, perguntei para as pessoas do ônibus, cada um dava uma resposta diferente. Até que em um todos afirmaram que provavelmente era aquele, então mesmo com medo desci do ônibus.

Assim que meus pés tocaram o solo, o ônibus partiu, e foi quando eu olhei em volta e percebi que não sabia onde eu estava, mas tinha toda certeza que aquele não era o trevo da minha cidade. Comecei a perguntar para os homens que trabalhavam na obra, e eles confirmaram a minha triste certeza.

Ali naquele trevo não havia ponto de ônibus, e nem lugar de parada, só paravam quando um passageiro pede pra descer. Os homens da obra começaram a me indicar para ir andando na estrada em direção a cidade, e nisso senti um grande aperto no coração. Parei e busquei meu celular, ele estava descarregado e foi quando comecei a chorar e pedir a Deus uma solução. Já estava escurecendo e a chuva estava ficando mais forte, eu sentia frio, medo, pânico, preocupação pois sabia que minha mãe e meu padrasto não sabiam onde eu estava. Não sei quantas vezes rezei naquela hora, só sei que nunca senti tanto medo da morte, eu uma jovem de 19 anos, só queria voltar para minha mãe.

De repente sou tirada da meu mais profundo pânico e reza, uma voz masculina me chamava. Um homem que nunca vi na minha vida me chamou, ele estava em um carro, perguntou se eu queria carona pois ele estava voltando para a cidade onde eu tinha feito minhas consultas, e naquele momento ouvi a voz da minha mãe falando sobre o dinheiro a mais me deu uma ideia. Pedi a Deus em silêncio, para que aquela pessoa fosse uma pessoa boa e não fizesse nada de ruim comigo, e então entrei no carro.

O homem era simples e simpático, e se chamava Elias, ele me explicou que trabalhava na minha cidade mas morava da cidade onde eu fazia as consultas. Eu estava nervosa mas me esforcei pra ser bem educada e agradecida, queria gerar um sentimento bom, pois sabia que mais difícil alguém matar uma pessoa que te trata bem, é o que dizem...

Ele disse que me deixaria na rodoviária da cidade, e para meu alívio, dirigiu até lá sem se desviar do trajeto. Quando chegamos na rodoviária perguntei o porquê dele ter me ajudado, ele apenas sorriu e olhou pra cima dizendo "Você sabe.", eu apenas tive tempo de dizer obrigada e sair do carro.

Entrei novamente na rodoviária e comprei a passagem com aquele dinheiro, o dinheiro que minha mãe tinha insistido tanto para eu levar. Peguei ônibus e voltei pra casa, em segurança, e durante a viagem de volta pensei em como eu lutava para ignorar aquilo que vinha forte comigo e minha família, aquele sentimento que minha mãe tinha e eu também. Eu realmente não poderia mais ignorar, principalmente quando pessoas ficavam em perigo ou até morriam, toda vez que eu a ignorava.


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⏰ Última atualização: Sep 27, 2020 ⏰

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