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A prisão escura , sem alma . Os suspiros da noite suave e tranquila . As folhas encarnadas a esvoaçarem para depois serem espancadas contra as portas ásperas e vazias , sem pensamentos . As gotas da chuva tremenda a dispersaram-se pela terra , a darem-lhe a felicidade da vida há tanto tempo esquecida .

O exterior tão conturbado para os ouvidos do homem solitário que se encontrava dentro da sua caverna . A " caverna " era o seu espaço de conforto . Ele sentia que o melhor era não manter contacto com a sociedade . As diferenças eram sempre mal vistas por outros olhos .

Ele sentia-se triste e sozinho .

Escrevia muito , algo que ele amava fazer . Esta sua forma de liberdade era tão refrescante à sua mente tão fechada e reservada dos outros . Escondido dos seus olhares , ele estava protegido , agradecendo à divindade que o deixou desfrutar este período pleno de paz . Muitas vezes o seu cabelo andava numa bagunça pois não se interessava pelo seu aspeto exterior , ninguém o via e ninguém o podia julgar sem essa habilidade .

O seu cabelo servia como cortina para os seus olhos azuis profundos , quão grande ele era . Infelizmente perdeu o seu brilho depois de tantos acontecimentos que o desapontaram profundamente .

Ao começar a sua escrita , dispunha sempre um lápis seguro na sua orelha esquerda . Assobiava para as folhas quando o pó tomava controle delas . Assim ele saía e as suas amadas folhas ficavam só para ele .

Enquanto realizava o seu ritual na escritura a mesa fica cada vez mais suja devido aos materiais usados . Ao ver isso o seu lábio contraia de desgosto e de tristeza .

Aquela imagem lembrava-lhe cicatrizes do seu passado , guerras sem fim . Com as suas mãos agarradas ao seu cabelo , começava a puxar com força por estar tão nervoso .

No final , desistia da escrita e ficava especado a olhar para uma das suas paredes preenchida por numerosos papéis . Os seus livros estavam lá escritos . Nas paredes da sua complexidade .

Porém havia algo que não estava certo naquele dia . Ele sentia algo à sua volta , uma presença desconhecida . Mesmo que o espaço ao seu redor não mudasse ele ficava sempre a espreitar os cantos . A sua respiração acalmava-se e depois descontrolava-se ao sentir aquela presença . O homem não sabia o que se passava fora daquele refúgio .

Para ele qualquer novidade , mesmo que fosse simples , era uma surpresa . Fora-lhe dado um novo brilho aos olhos . Aqueles olhos cegos e tristes . Mordeu o seu lábio com força ao observar a barafunda causada pelas suas mãos naquela mesa que anteriormente fora mais limpa , mais clara . Agora estava cheia de rabiscos devido à sua tinta . A tinta enganava a sua dor . O passado atormentava-o , para ele eram chamas infernais que não o deixavam descansar .

Para acalmar os seus nervos ele decidiu esticar-se no chão . Passeou o seu olhar pelos seus escritos novamente , respirava calmamente agora . Refletia novamente como sempre fazia . Ele queria explicar o motivo por estar ali . Queria sair da sua prisão , mas esta só o puxava mais para dentro e o homem sabia muito bem que a culpa era sua e não doutro ser humano . Só restava ele naquele espaço .

No final suspirou e levantou-se num ápice na direção à porta . A porta estava velha mas ele precisava de caçar . Abriu-a num movimento brusco e eficaz .

O homem acabava de sair da sua casa apressado enquanto olhava ao seu redor constantemente . Respirava fundo , parou para descansar o seu coração desconcertado . Houve um momento que só o ouvia , até que se acalmou e os sons da respiração voltaram a ser escutados .

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