Estou atualmente com 16 anos, tenho muitas lembranças de quando eu era uma criança e prezo muito isso. Minha maior preocupação é registar momentos suficientes pra mostrar as futuras gerações. No ano passado encontrei a filmadora antiga da minha mãe, tinha algumas fitas k7 junto, assisti uma por uma pelo visor dela(ainda não tinha como ver no computador)foi tão nostálgico e empolgante...desde então minha paixão por capturar momentos para sempre não cessou. No começo desse ano adquiri uma câmera 35mm, ainda não registrei nada porque estamos em quarentena e estou esperando o "momento certo" pra gastar as 36 chances que tenho, bom...não estamos aqui pra falar de objetos, mas sim das memórias que já aconteceram e as que ainda vão acontecer.
Em meados de 2019, comecei a postar mais no meu canal(Bruna's planet)e pensei:"porque não fazer um compilado dos vídeos antigos da filmadora?" fui atrás do cabo que capturava a tela e comecei a seleção da música perfeita pra essas lembranças. Nos vídeos aparecem pessoas que já se foram e deixaram muitas saudades, mas também mostra a felicidade de estar em família, queria uma música boa, que deixasse a pessoa com um sentimento de melancolia (não tristeza) por essas pessoas que partiram, mesmo não as conhecendo.
No vídeo aparece o Marquinhos(ele era sobrinho do pai do meu primo, meio confuso, mas minha tia de sangue se casou com meu tio, e eles eram tios do Marquinhos) ele morreu no dia 26 de Março de 2005, com 16 anos, estavam todos se divertindo na praia quando ele desapareceu em meio à imensidão do mar, meu primo Everton e meu tio Isaías tentaram salvá-lo, mas não adiantou, algumas horas depois o corpo foi encontrado. Ele sempre gravava as festas e encontros familiares pra minha mãe, e como todos dizem, ele era um garoto muito querido e educado, gostava muito de mim e do meu primo, que na época não tínhamos nem 2 anos de vida. Esse fato me deixou muito sentimental e triste, pois ele sempre gravava tudo e sempre quis bem eu e meu primo. Mesmo não tendo " o conhecido", e mesmo após tanto tempo, ele ainda me ensina coisas, ele que me inspira a gravar meus priminhos bebês e gravar a família inteira, e ser sempre querida pela família. Obrigada, Marquinhos, creio que você está num lugar melhor e está vendo esse momento.
Outra pessoa que aparece no vídeo é o Jair, o meu segundo avô. Depois que meu avô de verdade morreu em 13 de Junho de 1989, minha vó não teve outro marido até 1995 quando ela conheceu o Jair. As únicas e poucas lembranças que tenho dele é: que eu morria de vergonha de chegar perto dele e uma vez em que estávamos eu, meus pais, minha avó e ele no carro, ele estava no passageiro e eu logo atrás, estávamos passando em frente a rodoviária e eu dei dois tapas(de criança de 4 anos) na cabeça dele. Não falamos muito dele porque minha vó fica muito triste, ele morreu em 2008(se não me engano, domingo eu vejo no cemitério)atropelado no country club(um bairro da minha cidade), segundo coisas que ouvi ele estava meio bêbado. Não me lembro de ir no enterro, só sei que foi muito triste.
E por fim, minha avó paterna também estava no vídeo, ela não aparece muito porque não gostava de fotos, mas nas poucas vezes que aparece, está muito bonita e sorrindo. Isso de fato mexe muito comigo, ela era muito querida. Ela morreu no dia 21 de Abril de 2010 de câncer no organismo. Não vou citar muitas lembranças que tenho dela aqui porque são muitas e está destinada a outro "livro" do meu perfil, mas uma delas é a vez que ela estava em casa, e já estava doente, ela tinha feito um pão caseiro e ele estava descansando antes de ir ao forno, fui até a cozinha e furei o pão com o dedo. Ela ficou um pouco brava e sua sonda prendeu no puxador da gaveta, quando ela se virou a sonda soltou do nariz e estava saindo sangue. Tenho muito remorso, mesmo sendo uma criança na época. E a parte feliz é de que ela cozinhava muito bem e sempre cuidou de mim. Foi muito dolorido para o meu pai, foram meses de angústia e felicidade, meu irmão nasceu na mesma época,
A música perfeita pra esse sentimento de melancolia com nostalgia foi "De tanto amor" do Nando Reis, o clipe dele tem vários trechos de gravações antigas da família dele, o contexto foi a separação com a esposa, e estão juntos novamente até hoje. E assim nasceu o clipe não oficial que fiz com filmagens minhas. Desde o momento que encontrei a filmadora antiga, até agora com as filosofias que criei, continuo me dedicando à construção de memórias e anotando elas em meu caderno de memórias(sim, não tenho criatividade pra nomear cadernos).
Estou criando um grande acervo secreto(UOOOOOOOOOOW), anoto as coisas mais loucas e diferentes que acontecem comigo, os sentimentos, filosofias, lembranças da infância e coisas do tipo(tipo um diário que não acontece todos os dias). Tento sempre gravar os churrascos, bebês e idosos. Dessa maneira seremos eternos, ninguém morre e nossas vidas talvez nunca terão um fim(inspirado numa música dos mutantes).
Quando os idosos morrerem, as crianças poderão ver o quanto eles eram legais, e assim vão descobrir suas raízes e quem sabe não despertará um sentimento chamado nostalgia nelas, igual despertou em mim nos últimos anos. Espero que alguém da minha família veja isso um dia, pra eles poderem ver o quanto são importantes pra caralho na minha vida.
Vejo que estou envelhecendo, todos envelhecem, mas perceber isso me deixa triste. Percebo que meus priminhos estão crescendo igual eu cresci(fico comparando fotos minhas de criança com a deles), percebo que minha avó materna está ficando velhinha e não a terei pra sempre, percebo que meu vô paterno está mais distante e isso me mata, percebo que a vida está cada dia mais escorregando por entre meus dedos e eu sou apenas mais uma engrenagem pra que a existência emocional do homo sapiens sapiens continue eternamente até o mundo acabar, assim como todos os outros humanos-engrenagens.
Quero dedicar minha vida inteira à isso e à arte, quero poder ser lembrada pra sempre, se fosse possível preferiria que ninguém morresse, assim não sofreria a dor mais sofrível: a perda. Infelizmente, a morte é inevitável, e é a única certeza que tenho na vida, é bem confortante ter consciência disso na verdade. No fim do fim, seremos apenas memórias de alguém, restos mortais em decomposição e almas vagando no destino das almas de acordo com cada crença.
Enfim, sou muito redundante mesmo, mas vou fazer questão de criar um acervo memorial para cada integrante da minha família e amigos próximos pra que não seja esquecidos nunca.
É, acho que descobri minha nova paixão além da arte. Obrigada por ler até aqui, beijos no seu queixo <3
créditos ao Marquinhos e Edna que estão
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tempo atemporal
De Todoalgumas lamentações e admirações sobre o tempo e sua atemporalidade, vida e morte