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"Precisamos ser tocados por quem amamos quase como precisamos do ar pra respirar. Mas eu só percebi a importância do toque... Do toque dele... depois que perdi."- a cinco passos de você

Sempre amei muito esse filme, e está frase sempre me marcou fortemente, porém nunca fez muito sentido. Mas quando Boun se foi da minha vida, foi quando eu realmente entendi o peso que ela carregava.

Para meu eterno amor: Boun Noppanut

Sei que você nunca irá ler está carta Boun, mas talvez contar o que senti para você me ajude a curar um pouco desta profunda cicatriz.

Você tinha o costume de dizer " a vida é um poema", mas talvez por você sempre dizer isso carregando um largo sorriso nos lábios eu achava que era uma forma de dizer que  a vida era bela, igual a um poema, mas quando você se foi, eu percebi o que você realmente queria dizer com está frase.

Ainda me lembro de todos os dias contar as horas para poder te ver. Ainda consigo me lembrar de que quando faltava 30 minutos para estar ao seu lado, a ansiedade já subia, e a alegria me dominava, pois eu sabia que você estaria me esperando em casa com seu belo sorriso que fazia todo o cansaço do meu dia ir embora.

Eu tinha a certeza de que você sempre estaria me esperando, mas não foi o que aconteceu naquela dia. Me lembro bem de cada detalhe ainda. As memórias me assombram igual ao bicho papão me assombrava quando eu era criança.

O relógio marcava 16:30, e como todos os dias, terminei meu trabalho antes, organizei minhas coisas e esperei dar o horário. A ansiedade já veio batendo na porta do meu peito. Você me contou que tinha comprado damasco, minha fruta preferida. Isso me deixou ainda mais animado.

Assim que bateu 17h em ponto, sem nem dizer tchau para qualquer colega, sai em disparada. Queria logo estar no aconchego de seus braços e me perder nas profundezas de seus olhos.

Cheguei na frente de nosso prédio, e tinha polícias rodeando o local. Confesso que minha curiosidade me mandava ir lá ver o que aconteceu, mas a outra parte dizia mais forte "Sobe logo, e vai ver seu amado". E foi o que fiz, subi na maior pressa, já me preparando para te ver.

Mas...... Quando entrei em casa, você não me recepcionou, procurei por todo o apartamento e nada, nenhum sinal seu, então imaginei que você saiu para ir ao mercado. Eu pensei isso até ver uma bandeja com os damascos e uma carta ao lado.

Ainda guardo sua carta, leio ela todos os dias, e me pergunto "como eu não notei?", Como eu não notei o peso que você carregava nas costas? Como eu não notei o brilho falso de seus olhos ou de seu sorriso? Como eu pude ser tão surdo e cego, ao ponto de não notar os seus pequenos pedidos de socorro todos os dias??? ME DIZZZ!!!! COMO EU NÃO NOTEI!?? Eu era a pessoa que mais te conhecia, que mais te amava, como eu não notei?

Assim que a brisa fresca da janela da cozinha bateu em meu rosto, secando minhas lágrimas, eu cai na realidade, e cai sem paraquedas...

Desci todos os degraus da escadaria correndo, corri como nunca achei que podia ser possível antes, e apesar de saber o que iria encontrar, eu ainda torcia para que você realmente tivesse ido ao mercado, e que os policiais estavam lá por outro motivo, ou então que tudo fosse um pesadelo, e que quando eu acordasse você estaria me abraçando e secando minhas lágrimas, dizendo "calma, já passou". Acontece que eu nunca acordei desse pesadelo, e você nunca secou as minhas lágrimas que caem até hoje.

Quando cheguei no térreo, continuei fazendo a única coisa que sabia naquele momento, chorar e correr. Meus parentes me viram e tentaram me segurar dizendo "Prem não vai lá, não vê o Boun", e eu devia ter escutado eles, pois até hoje sua face destruída no chão ainda vaga pela minha mente.

Eu te vi Boun, e desabei. A minha base emocional foi desmoronada, cai em um poço sem fim sem nenhum arbusto no qual eu pudesse me segurar. Não podia ser verdade, não era você naquele chão, não podia ser. O meu único desejo era que você se levantasse e me abraçasse.

Eu queria ouvir sua voz pela última vez. Eu queria ver seu sorriso pela última vez. Eu queria ver o brilho dos seu olhos uma última vez. Eu queria te abraçar pela última vez. Eu precisava, mas eu não tive nada do que eu desejei pela última vez.

Talvez se eu tivesse saido mais cedo do trabalho, isso não teria acontecido. Talvez se eu tivesse notado sua dor antes, você ainda poderia estar vivo. Talvez se eu tivesse percebido os seus gritos de socorro, eu poderia ter te ajudado.Talvez, talvez e talvez... Eu vivo de talvez, pois se talvez eu tivesse feito tudo diferente, eu ainda poderia ter o seu abraço, o seu sorriso, o seu calor, o seu amor...

"A vida é um poema", e você era um poeta, e em todos os seus poemas você escrevia sobre o quanto estava cansado de viver. E eu não notei, mas talvez, se eu tivesse notado, você ainda poderia estar ao meu lado.

              Ainda espero que você me acorde deste pesade-lo

De seu amor: Prem Warut
                

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