Capítulo 1

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Amora

Bato no volante novamente e amaldiçoou o mapa aberto nas minhas pernas pela quinta,como posso não saber onde estou? Como posso não saber compreender um mapa? Não fui uma das melhores em geografia,mas não tive problemas com mapas nas minhas últimas viagens. Não tenho sinal no meu celular e olhando minuciosamente cada ângulo dessa estrada não vejo um traço de civilização.

Posso me culpar também,afinal estava tão desesperada para conseguir bonificações no meu salário que apenas aceitei a adição do trabalho e não me fixei em suprir todas as informações sobre aonde deveria ir. São José,cidade minúscula,uma população diminuta e um clima quente. É tudo que consigo lembrar. E também conto com um mapa,que eu poderia urinar em cima porque de qualquer modo ele não está servindo como deveria.

E veja bem,se o clima é uma indicação de como estou indo,eu realmente deveria estar preocupada. Há um frio alarmante fora do carro,são 3:57 hrs e o sol não está dando sinal de vida,diferente das nuvens escuras que enfeitam o céu e um vento que as vezes me assusta com seus ruídos,apesar da janela fechada. Digno de um filme de terror,estou ignorando esse pensamento porque não posso lidar com isso. Não agora sem sinal,em uma estrada solitária e sem informações suficientes. Agarro furiosa o mapa das minhas pernas e o amasso arremessado-o no banco de trás,verifico mais uma vez o meu celular e bufo irritada.

— Estúpida,estúpida e estúpida — esfrego as mãos nos olhos,indignada. Encaro meu reflexo no retrovisor.

Motivador. Minha maquiagem não foi afetada em meio ao meu surto,o batom vermelho não precisa ser retocado e o delineador está intacto.
"Então essas são as suas prioridades?" Amora racional está repreendendo-me no momento. O que posso fazer? Vaidade extrema é algo que tenho que resolver de vez em quando.

Relaxo minha cabeça no encosto do banco,buscando clarear meus pensamentos e encontrar uma escolha precisa para essa situação. Ser bibliotecária não parecia ser a profissão que me colocaria nessa enrascada,mas aqui estou. Abaixo o vidro da janela sendo recebida por um vento congelante,o que imediatamente me faz fecha-la novamente.

Tudo o que consigo supor é ficar no carro até amanhecer,continuar dirigindo sem direção alguma,com o anoitecer tão próximo não é seguro e não vou gastar gasolina com incertezas. Viro-me em direção aos bancos traseiros pegando minha maleta roxa,na qual preenchi com livros e revistas. Retiro um romance inacabado e assim - lendo - passo os 50 minutos em seguida.

Bocejo após virar mais uma página e minha atenção é focada na fumaça visível no meio da floresta do outro lado. É distante e não me parece seguro,porém nada aqui é certo. E soa como uma boa alternativa,a única. Pode ser um fogueira qualquer. Porém,é provável que seja uma família de lenhadores humildes,digo a minha mente,tranquilizando-me.

É incomum,no entanto,o que tenho a perder? Sufoco a voz que me diz "Sua vida,talvez?"

Pego minha bolsa e procuro meu spray de pimenta e meu choque elétrico,uma mulher sempre tem que estar preparada,infelizmente não trouxe meu canivete suíço,mas posso lidar com o que tenho comigo. Retiro um casaco vinho longo e luvas de minha outra maleta,ocupada com as roupas. E botas da mala reservada para os sapatos,me agradeço mentalmente por não ter colocado elas no porta-malas. Visto e saio do carro ajustando a alça da minha bolsa preta. Puxo as outras,repousando todas juntas em ordem - grande,média e pequena.

Meu carro está estacionado do lado direito da estrada e ficará aqui até eu conseguir ajuda para me localizar e caso alguém apareça - o que difícilmente acontecerá - vai encontrar um carro sem um único pertence. Estão todos na minha mala. Há somente um post-it preso ao volante,com o nome da empresa que trabalho e o número. Caso uma alma caridosa encontre e se prontifique a ligar. No fundo sei que essa é uma forma de me manter segura. Apesar de agora não ter tanto efeito quanto eu queria. Circunstâncias desesperadas exigem medidas desesperadas. É uma aposta cega.

Caminho em direção as árvores grandes e compridas que tornam essa floresta imensa e assustadora,não entraria aqui caso fosse noite,mas é dia e posso arriscar. Meus passos se tornam leves porque estou evitando atrair animais e problemas. Soou como uma lunática com a cabeça erguida acompanhando a fumaça que ainda se mantém distante,as copas das árvores atrapalham,porém não estou desistindo. Me pergunto se isso é um sinal. Não,não é,está tudo bem,não me alimento a algumas horas e estou divagando,somente.



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Amora não bate da cabeça né?

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