O ônibus estava cheio, como em todos os outros dias nesse horário, mas por sorte consegui me sentar em um lugar perto da janela. Vasculhei minha bolsa a procura dos meus fones de ouvido e o achei todo enosado no fundo dela, eram poucas as vezes que o utilizava porque a preguiça me consumia na hora de tentar tirar seus nós para poder utiliza-lo, mas era a única coisa que poderia me ajudar a não morrer de tédio durante o longo caminho que seria até meu apartamento e o trânsito não ajudaria muito, já q estávamos parados no mesmo lugar a cinco minutos. Pluguei os fones no meu celular e entrei no aplicativo de músicas a procura de algo que me agradasse, a primeira sugestão foi um podcast e como não queria perder tanto tempo escolhendo algo, foi ele mesmo que escolhi para ouvir.
A voz da mulher invadiu meus ouvidos no momento que cliquei no play, ela falava sobre como havia sido o seu dia e algumas outras coisas aleatórias, mas foi a frase que ela disse para nós ouvintes depois disso tudo, que me chamou atenção "admire a beleza dos outros, mas sem diminuir a sua". Nesse momento eu encarava a janela do ônibus, cheia de gotas de água que eu duvidava que parariam de aparecer tão cedo, já que a chuva estava forte e era possível enxergar meu rosto na janela por causa da pouca luminosidade que as nuvens escuras causavam, olhando meu rosto era perceptível o cansaço em meus olhos e as olheiras abaixo dos mesmos tornavam isso mais visível. Eu consegui reparar também nas minhas sardas, que cobriam minhas bochechas e nariz, as mesmas que eu odiava desde os doze anos, quando comecei a me importar com ficar bonita e com o que as pessoas pensariam de mim: uma menina com nada extraordinário.
Quando criança sempre me preocupei em ser a melhor em tudo, mas acho que com o decorrer do tempo fui aceitando a ideia de que já que não era nada extraordinária não adiantava de nada tentar mudar isso e só me frustrar mais. Eu sabia que nunca seria como as outras garotas ao meu redor e muito menos como aquelas de capa de revista, nunca alcançarias os padrões impostos e muito menos estaria feliz comigo mesma, porque eu só estaria feliz quando estivesse tão bonita quanto as outras garotas. No fundo, eu sei que não devia me cobrar tanto, que não devia me comparar e que devia gostar de mim do jeito que sou, mas eu sinto que as outras pessoas não iram gostar de mim
A buzina do carro ao lado do ônibus que eu estava me fez voltar a realidade e perceber que tinha viajado longe em pensamentos e que o ônibus nem sequer tinha andado dois metros. A mulher do podcast já não falava mais no meu ouvido, agora ela dera lugar a outros dois homens que comentavam as roupas usadas em alguma premiação recente.
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Minha mente estrelada
PoetryAs vezes somente as palavras conseguem expressar tudo o que sentimos. Poesias, textos poéticos e crônicas de minha autoria. PLÁGIO É CRIME