Para algumas pessoas a vida é dividida em momentos importantes, ou instantes marcantes. Para Garnar, esse poderia ser os dois, pois seu filho finalmente iria ganhar um totem. Ele ainda se lembrava o quão importante foi para seus pais quando seu irmão mais novo recebeu um. Para os Félia a cerimônia de amarração é considerada um rito de passagem e só após receber seu totem que os pequenos podem ser considerados parte da aldeia.
Enquanto Garnar andava por entre as barracas que eram feitas de um tecido grosso, passava por algumas pessoas que lhe olhavam com expectativa, mas ele apenas fazia sinal negativo com a cabeça, todos sabiam da situação de seu filho. Para ocupar sua mente ele foi a sua barraca buscar seu totem para a cerimônia, onde Gab, o esperava. O felino sempre ficava ansioso com a agitação de seu humano. O totem era um gato pálido com pequenas manchas escuras em sua pelagem, não seria tão cômico vê-lo inquieto se não fosse seu tamanho. Assim como os outros totens adultos, Gab era imenso, sendo possível cavalgar em suas costas, apesar de que Garnar fosse o único permitido a fazê-lo. A esposa de Garnar, Adalia, estava escolhendo o totem de seu filho. Juntamente com o leão de Afkar, o xamã da aldeia, que havia lhe explicado como escolher o filhote a ser amarrado a seu filho. Bety, o totem de Adalia estava deitada no chão com a criança de 2 anos brincando com suas orelhas. Cabia apenas a mãe sentir qual dos filhotes seria unido a seu filho. Ela não podia simplesmente escolher, ela precisava sentir. Foi exatamente como o xamã disse que seria. Um dos filhotes estava olhando em seus olhos, o pelo âmbar e a cor forte em sua íris fez com que a mulher sentisse seu coração se aquecer, e então ela disse:
- É aquele.
- Então que a grande lua os faça um - disse o velho xamã com sua voz rouca.
Quando retornaram a cabana do xamã, uma construção em barro, feita para imitar uma cúpula, maior que todas as outra tendas da aldeia. No exterior dessa possuía vários entalhes de homens, gatos gigantes e outros animais. Na entrada um único tecido preto com uma lua branca no meio. Dentro dela o totem do xamã, Kat, carregava uma cesta pequena na boca, o gato já não parecia tão jovem, seu pelo negro possuía alguns fiapos brancos, porém, seus olhos verdes continuavam tão assustadores quanto os de seu mestre. No centro da barraca havia uma espécie de mesa de mármore branco, grosseiramente entalhada e uma fogueira pequena com brasas abafadas. O xamã repousou o filhote sobre a mesa, que refletia a luz da lua em seus olhos índigos. O homem velho desenhava símbolos ao redor do calcanhar do pequeno felino, usando o líquido viscoso da cesta que pegou de Kat. Garnar e seu grande gato passaram pela abertura na barraca, com as mãos em forma de cuia, esperava a aprovação do velho, que apenas fez um sinal com a cabeça, permitido sua entrada.
- Você já escolheu o nome? - disse o marido com expectativa nos olhos.
- Sim, já tenho o nome perfeito - disse a mulher olhando para a criança que estava abraçando as pernas de sua mãe.
O xamã então fez um sinal com a mão para que o filho fosse colocado na mesa de mármore. Um símbolo idêntico ao do felino foi desenhado no calcanhar do pequeno, e então o xamã disse:
- Ó grande e benevolente lua, estamos aqui para unir estes dois pedaços em um alma completa, e a partir de agora eles serão - o xamã então ergueu a cesta em direção ao casal, fazendo o sinal.
- Adamor - disse a mulher passando o dedão no líquido e depois na testa da criança.
- Edy - disse o homem fazendo o mesmo porém sujando a testa do filhote desta vez.
- Agora serão um só - disse o xamã guiando as forças da lua para unir aqueles dois para toda a vida. A partir daquele momento, eles estariam amarrados com uma única alma irmã. Juntos até a morte, e talvez além dela.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A cúpula do xamã: a jornada para sacenak
AdventureAdamo cresceu em uma aldeia chamada siris. Sempre quis ser um curandeiro e agora com seu aniversário de desejos anos se aproximando ele precisa decidir se abraça o seu destino e segue uma jornada a capital dos acólitos. Uma jornada cheia de perigos...