Aconteceu de novo...
Suspirando fundo, abri os olhos, frustrada. Por que eu não conseguia deixar aquilo para trás?
― De novo, amiga? - Harumi me indagava pelo telefone ― Já fazem três meses! Você precisa superar.
― Eu sei, Haru, não é como se eu não estivesse tentando... - fiz uma pausa brusca ― mas não se preocupe, uma hora eu supero - menti.
Eu não sentia que ia acontecer. Que eu iria acordar um dia e simplesmente esquecer aquele momento, que eu iria conseguir parar de reviver aquilo continuamente na minha cabeça. E eu não sei nem mesmo se era o que eu queria...
― Mia, eu sei que você está tentando, eu só fico meio preocupada - ela prosseguiu, desconfiada ― bem, você já sabe que seria extremamente improvável reencontrá-lo. Só não quero que se machuque. - sorri, agraciada com a amiga que eu tinha.
― Eu sei amiga, eu sei - rebati, ainda sorrindo ― não vai acontecer. Talvez sejam só as férias, já que não ando ocupando minha cabeça com nada, mas pode ficar tranquila. Semana que vem eu já nem lembrarei mais de nada. - menti, novamente. Mentir é o que tem me restado, quando me lembro de absolutamente tudo; cada minúsculo detalhe do que vi, ouvi, pensei e senti. Embora não tenha soado firme, a fala pareceu ser convincente o suficiente para ela mudar de assunto e voltarmos para nossas habituais fofocas.
Amanhã as aulas já voltavam, e deixei Harumi me atualizar de tudo o que eu havia perdido neste período, tendo em vista que fiquei fora da cidade. Ela não deixava passar absolutamente nada, então eu pude me entreter o resto da tarde.
Quando finalmente terminamos, decidi ir tomar um banho, dos longos. Afinal, por mais que eu tenha conseguido me distrair um pouco, ela tinha razão: eu precisava dar um jeito de deixar o que houve no passado, e nada como um bom banho terapêutico para me ajudar com a tarefa.
Liguei o chuveiro e ajustei a temperatura morna que desejava. Assim que me despi, fui direto para de baixo d'água, passando a mão pelas raízes dos meus cabelos. É incrível como soa melodramático e clichê, mas afirmo com segurança: não há lugar e hora melhor para pensar do que no banho.
Ainda debaixo dos jatos de água, fechei os olhos e tentei me focar no meu objetivo: esquecê-lo. Eu precisava juntar motivação o suficiente para que meu cérebro pudesse convencer meus sentimentos. Precisava me reprimir, antes que de tornasse um empecilho. Eu sabia o que devia fazer, então por que não conseguia?
Por que era tão difícil deixar de lado uma pessoa com quem nem mesmo conversei? De quem não sei o nome, as feições? De quem eu só conheço os lábios?
Eu não sabia. Eu não tinha respostas, nem deduções. Com o tempo pensando, refletir se tornou uma tortura; era hora de desistir. No embalo de Zeca Pagodinho, eu assumi que o melhor a se fazer era deixar a vida me levar. Não adiantava tentar intervir. Uma hora ou outra eu havia de esquecer sozinha, certo?
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the dimple boy // kai
FanfictionUma hora ou outra eu havia de te esquecer sozinha, certo?