Inebriated

...ou melhor...

Depois da descoberta um tanto chocante de Sero quanto aos sentimentos de seus colegas – estes que ele ainda custava a aceitar como a realidade que tanto desejou –, e da revelação chocante de certos hábitos do moreno que eram segredo até o presente momento, os três se puseram a ficar na cozinha. Denki e Hitoshi sentados de um lado da mesa onde estavam de costas para a parede e de frente para Hanta que se concentrava em cortar legumes e carne na pia, fazendo tudo com uma fluidez sem igual, junto a uma tranquilidade que era até mesmo contagiante para os dois nervosos pelo contexto inóspito.

A ideia era pedir algo para comer, facilitando assim que pudessem conversar logo sobre a série de questões que vieram à tona de uma só vez, mas tentando adiar um pouco o diálogo para pensar sobre o que pode mudar dali em diante, Sero decidiu que ele mesmo cozinharia, sua terapia não se designava apenas pelo consumo de cannabis. Seu corpo estava relaxado e ele sentia-se entorpecido pela erva, as pálpebras pesadas e escleras avermelhadas não eram nada anormal para sua condição, apenas os olhares insistentes que queimavam em suas costas eram um leve incomodo naquele cenário.

– Então... Sobre o que o Denki disse... – Shinsou começa pigarreando brevemente, tentando retomar o assunto por sentir a ansiedade o corroendo, tanto quanto Kaminari se remexia a todo momento sobre a cadeira, procurando diminuir sua hiperatividade que tornava o momento tão tenso quanto se mantinha.

Hanta para de cortar os legumes que tinha para fazer o yakisoba e vira-se na direção dos amigos, sorrindo levemente antes de suspirar e realizar um pedido.

– Eu sei que estão ansiosos para falar disso, pra falar a verdade eu também quero muito compreender, mas eu não vou conseguir me concentrar muito em mais de uma coisa ao mesmo tempo agora, então quando estivermos comendo podemos conversar, certo? – Ele pede com cautela e gentileza, olhando para Kaminari e Shinsou intensamente até receber um aceno de ambos que se remexem uma vez mais em seus assentos. Neste instante, Hanta se dá conta de que os dois vieram direto do trabalho e mal tiraram seus uniformes, levando-o ao pensamento de que talvez, isso aumente o desconforto deles. – Tirem os uniformes e peguem uma roupa no meu closet pra vocês, fiquem a vontade, sim?

O arroxeado olha para o loiro com incerteza, mas logo eles se levantam juntos, indo para o corredor para chegarem ao closet citado – que eles já sabiam exatamente onde ficava – para que fizessem o que foi sugerido. Não era segredo algum que estavam tensos pelo que podia vir a ocorrer nessa conversa, mas a voz calma e taciturna do moreno os proveu um pouco mais de paz, assim como a troca de roupa também os proporcionou comodidade.

Cada um pegou o que mais gostava, Hitoshi vestiu uma camisa cinza bem larga, com mangas longas já um tanto desgastadas, o tecido era macio por conta do tempo que já havia de uso, mas isso só a tornava mais confortável, assim como as calças de moletom pretas que arrastavam um pouco no chão por conta do comprimento, Sero sempre fora o mais alto dentre eles. Kaminari se contenta com uma camiseta amarela que tinha um desenho de batatas fritas no centro, divertida e alegre que sempre o fazia sorrir quando via o moreno vestindo-a, completando a vestimenta com um short largo de tecido leve que quase assemelhava-se a uma samba canção, cheia de nuvens brancas em meio a um azul claro. Denki estava colorido demais, Shinsou estava neutro demais, porém confortáveis, e apreciando o aroma característico do amaciante que parecia ser exclusivo de Sero. Agradável e, com toda a certeza, calmante para os dois corações aflitos.

O casal se entreolha e ri brevemente do contraste, mas logo tratam de tomarem seriedade em suas expressões para conversarem um pouco antes de voltarem para a cozinha.

– Kami, eu falei pra gente não ser tão precipitado, é muito chocante chegar falando daquele jeito – Shinsou declara com a voz monótona, porem levemente preocupado com a abordagem repentina que fora tomada no calor do momento.