margaridas

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Luz Noceda corria por entre os longos corredores da academia. Carregava consigo uma adorável e curta cesta, dentro dessa pequenas violetas exalavam o cheiro doce e refrescante. Tinham sido colhidas de seu pequeno quintal, não demorou tanto quanto da última vez para prepará-las e organizá-las.

Era dia dos namorados. Ah, o tão sonhado feriado dos amores e luxúria! Um dos melhores feriados de acordo com nossa pequena humana.

Todos os anos, Luz preparava-se para distribuir suas maravilhosas flores à aqueles que não possuíam um par. Só por não estar namorando, isso não a impedia de presentear cada uma das pessoas que aparentavam uma tristeza no olhar. Era um hábito que tomava como seu, era simples. E lindo. Fazia com coração e isso importava.

Enquanto andava pelos corredores, distribuiu cerca de doze violetas. As pessoas às vezes estranhavam, olhavam para ela em confusão. Cenho franzido e olhos arregalados. Alguns coravam e Luz se encantava. Era tão gratificante como uma pequena ação poderia mudar seu dia para sempre.

E foi assim. Durante o dia que se passava ela distribuía as flores, entregava e se deliciava com os agradecimentos e sorrisos tímidos. Ao final do dia, apenas uma única violeta pendia no cesto, a menor que provavelmente ficaria para si. Também merecia um pequeno presente. Riu sozinha enquanto caminhava pelo jardim da escola. Até que parou.

Arregalou os olhos.
Bochechas coradas.
Cheiro cítrico no ar.

Avistou uma garota. Madeixas verdes e pele clara como porcelana. Usava um moletom na cor azul e carregava consigo uma... cesta. Uma cesta com flores brancas como ela.

Margaridas. Luz sabia. O cheiro era inconfundível e amava. Uma de suas flores favoritas, junto com violetas e cravos. Porém, uma pergunta matutava em sua cabeça. Por que?. Nunca tinha visto esta garota na academia, era a primeira vez. Talvez fosse de outro campus. Não tinha certeza de nada mais.

Decidiu se aproximar mesmo receosa e nervosa. Não sabia direito o porquê. Sempre conversava com qualquer um que aparecia. Não se entendia. A garota se virou em direção a Luz curiosa. Logo se remexeu inquieta e deu um pequeno sobressalto:

– Oh! – exclamou, a voz era doce. – Aqui está. – falou estendendo uma pequena margarida na direção de Luz.

A pequena humana arregalou os olhos novamente. Corou fortemente. Sempre deu flores para tantas pessoas como uma forma de melhorar seu dia dos
namorados. Entretanto, nunca... Nunca mesmo, recebera flores de alguém além de si. Seu coração bateu forte e censurou a si mesma em seus pensamentos.

– Ah, não é necessário. – disse em um tom nervoso. – Tenho algumas em-

– Não, não, eu insisto. – respondeu cortando Luz no meio de sua frase e entregando a flor. – São margaridas, venho distribuindo há um tempo. – observou a cesta nas mãos da garota em sua frente. – Vejo que faz o mesmo.

– Faço sim, porém são violetas...

– Eu gosto de violetas também. – deu um sorriso em direção a latina.

Adorável. Luz pensou.

– Bem, ah. Eu distribuo aqui pela academia e... Bom. – atrapalhou-se e escutou uma pequena risada da menina de cabelos verdes. – Aqui. Para você.

Segurou com cuidado a última violeta de sua cesta e entregou. A garota sorriu e sentiu-se corar. Assentiu com a cabeça em forma de agradecimento e continuou a falar.

– A propósito me chamo Amity, Amity Blight. – voltou seu olhar para sua cesta. – E você é...?

– Oh! Luz Noceda.

– Bom, Luz. – olhou em seus olhos, as bochechas estavam mais vermelhas – Espero que lhe ver no próximo dia dos namorados.

Luz sentiu seu coração acelerar.

– Também espero, Amity. – conseguiu responder ao final. Uma pequena canção começou a tocar. Luz percebeu que era Blue Moon de Billie Holiday.

– Nossa! É meu celular tocando. – Amity justificou pegando o aparelho do bolso. – Meus irmãos. Tenho que ir! Acabei perdendo a hora. – ajeitou a pequena violeta em sua cesta e encarou Luz novamente. – Feliz dia dos namorados, violeta.

Luz riu. Um riso genuíno.

– Feliz dia dos namorados, margarida. – Luz falou entrando na brincadeira enquanto Amity se virava e corria em direção ao ponto de ônibus atendendo o celular.

Ela não olhou para trás.
Luz fez o mesmo.

retribuição | lumityOnde histórias criam vida. Descubra agora