Eu preciso de você, garoto
Por que eu me apaixono e
digo adeus sozinho?
Eu preciso de você, garoto
Por que eu preciso de você mesmo sabendo que eu vou me machucar?¹
Hoseok estava bem ali, ao meu lado, esparramado preguiçosamente sobre os lençóis emaranhados que serviam como um colchão improvisado. A barraca amarela, montada dentro da estrutura de madeira pregada à uma grande árvore, se encarregava de nos esconder dos convidados da festa de aniversário de Namjoon.
O segundo dia de comemoração se esvaía, aos poucos, conforme o sol se derretia atrás das montanhas esverdeadas que se viam ao longe. Na estrada de terra que dava acesso ao pequeno sítio em que nos encontrávamos o único movimento visível era o do pó se erguendo com a brisa fresca que o céu soprava. E, assim como a calmaria imperava do lado de fora, dentro daquele pequeno espaço que dividíamos, não havia nada a se ver além das nossas costelas, subindo e descendo, num passo ritmado e preguiçoso, conforme respirávamos.
Era uma dádiva vê-lo tão quieto.
O rapaz com as pálpebras fechadas, levemente embriagado pelo efeito do fumo que havíamos compartilhado minutos antes, parecia prestes a adormecer. E, eu, inquieto, tomado pela vergonha dos desejos que me invadiam a mente, somente o observava, pelo canto dos olhos. Pedindo, incessantemente, que os deuses me ajudassem a não o tocar.
Meus dedos, formigando em ansiedade, mais do que nunca, queriam se arrastar pela pele dourada da clavícula bem desenhada, exposta pela regata branca. Tremiam somente com a possibilidade de invadir os fios castanhos de seus cabelos, para assegurarem que a textura era tão macia quanto me lembrava.
O coração frágil, que implorava por coragem dentro do meu peito, mesmo que errando as batidas a cada segundo, era um lembrete dos sentimentos que não queria demonstrar. Sentimentos para os quais eu sequer deveria abrir espaço.
Hoseok tinha outra pessoa.
O anel prateado encaixado em seu anelar direito reafirmando o que ele me disse, silenciosamente, ao soltar minhas mãos quando a música que dançávamos chegou ao fim, há algumas noites atrás. Uma canção sobre um amor conturbado, assim como o nosso, na qual fiz de tudo para transmitir a ele, através do aperto firme, o que estava sentindo.
Não foi o suficiente. E, percebi isso assim que nossas mãos se desentrelaçaram e ele cruzou a entrada do clube, para minutos depois, retornar com os lábios manchados de vermelho.
Com a garganta fechada e os olhos molhados, eu o acompanhei de longe, pelo resto da madrugada, movimentando-se entre a plateia do show que assistíamos, segurando uma mão miúda, cheia de anéis, que pertencia à mulher que lhe roubava os pensamentos.
Ela era linda e, agora, se encontrava bem longe. Provavelmente deitada no sofá de sua sala, em algum apartamento perdido entre as ruas de Busan.
Esse era meu único acalento. Saber que o tinha só para mim, mesmo que somente por alguns instantes.
Tal constatação me levou a deixar escapar um suspiro longo, o que, por sua vez, chamou a atenção de Hoseok que levantou os orbes castanhos até o meu rosto.
一 O que você tem? 一 perguntou-me em voz baixa. Suas pupilas dilatadas aos poucos tomando conta de suas írises, levando-me a questionar internamente o que havia por trás daqueles olhos cansados, envolvidos por olheiras escuras.
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Todas as coisas que (não) aconteceram naquela barraca | Hopekook
FanfictionUm coração que arde não pode ser contido. Isso é o que Jungkook vai perceber ao dividir uma barraca com Hoseok, o homem por quem é apaixonado e com quem esteve por seis meses até que tudo terminasse silenciosamente, sem explicações, semanas antes. •...