O céu está azul e o sol brilhando
Então, você pode ver, claramente, minhas lágrimas
Por que eu amo você? Por que você?
Por que eu não consigo te deixar?¹
Estar com Jung Hoseok era uma loucura.
Ele tinha gosto de erva, e eu sentia sede. O torpor tomando conta do meu corpo conforme suas mãos passeavam em minha pele.
Era muito para assimilar. Todas as sensações extasiantes combinadas com a saudade que eu sentia de tê-lo por perto me deixavam completamente inebriado. Prestes a derreter em suas palmas.
Seus lábios pintaram selos cuidadosos por minhas bochechas e eu senti que estava a um passo de chorar.
Era tão bom. Tão íntimo. Mas tão errado.
— Jungkook — ele me chamou em um sussurro — eu preciso que você se acalme. Por favor.
Eu iria quebrar, a qualquer momento. Ele sabia, ou deveria saber pela forma que eu continuava tremendo sob seu toque.
Meu coração? Ah, ele queimava como nunca. E eu já não sabia dizer se era por estar tão apaixonado por Hoseok ou por não ser capaz de ignorar as possíveis consequências daquele ato.
A culpa, presente em cada aspecto daquele pequeno momento descolado da realidade, ardia. E preenchia todos os espaços da minha mente, em um aviso de que o mundo ainda estava do outro lado, nos esperando, e que lá as coisas não seriam tão bonitas quanto pareciam naquele momento.
Ainda assim, o ruído das conversas continuava se afastando e eu só queria me certificar de ter guardado na memória qual era a sensação de estar nos braços dele.
Outro beijo, tão quente quanto o sol que nos cobriu pela manhã, e eu não pude sustentar o peso que puxava meu peito em direção ao chão. Acabando por quebrar nosso contato. Afastando-me apenas o suficiente para encostar a testa em seu ombro, em busca de apoio, engolindo um soluço e torcendo para que as lágrimas que ameaçavam cair se mantivessem firmes. Que elas fossem mais fortes do que o Jungkook que se desmanchava naquele instante.
Era demais.
Hoseok era demais.
Beijá-lo novamente era a materialização de todas as minhas fantasias românticas, mas também era doloroso como o inferno. Porque, naquele ato, havia um pouco de um passado próximo e muito de um futuro improvável, inexistente. Uma verdadeira faca de dois gumes que me atingia de forma impiedosa.
Desesperada sobre meu ombro, minha consciência implorava aos gritos para que eu parasse de ter esperanças. Para que entendesse de uma vez que eu não passava de um garoto perseguindo um amor sem perspectiva.
Nós havíamos começado com uma brincadeira. Uma simples troca de carícias influenciada por álcool barato em uma noite de outono que eu não fui capaz de arrancar da memória.
Hoseok impregnou-se em mim e, por duas estações inteiras, eu tentei desgrudá-lo dos meus sentidos, dos meus pensamentos. Apesar de meus esforços, ele continuou se arrastando por cada fresta, contaminando meu corpo com algo que só me permitia descansar quando ele estava por perto.
Era quase um vício. Uma necessidade descabida que me apertava as entranhas, mas que estranhamente só atingia a mim.
Porque, lá no fundo, Hoseok não sentia o mesmo. Era claro, a partir de suas ações, que ele só precisava de alguém para estar ao seu lado quando os dias se tornassem muito escuros.
E eu, bem, me tornei a pessoa que dormia com a porta destrancada. Pronta para que ele entrasse a qualquer momento e ficasse ali pelo tempo necessário. Mesmo sabendo que talvez, no dia seguinte, não houvesse sequer um rastro de sua presença pelos cômodos. Permiti-lo entrar, tantas vezes, era um pecado pelo qual eu assumiria a culpa quando fosse julgado.
Não havia outro jeito, e eu sequer seria capaz de evitar estender meus dedos em sua direção. Não quando seus passos se tornavam frágeis e sua voz se tornava um fio rouco de lamúrias.
Por outro lado, apesar dessa insistência de minha parte, ainda machucava. Segurá-lo era o mesmo que depender de uma corda de espinhos para não cair de um precipício e minhas mãos já se encontravam repletas de cortes e feridas, respingando aquela dor amarga que fedia à ferro.
— Kookie, o que foi? — ele questionou cuidadosamente, abraçando meu tronco como podia, afagando minhas costas em um carinho gentil enquanto meus soluços molhavam suas roupas. Completamente alheio ao caos que se passava em minha mente. — Está tudo bem, eu não vou fazer mais. Me desculpe. Eu não deveria ter te beijado.
Escutá-lo dizer em voz alta que não me tocaria novamente me deixou em estado de alerta.
Como eu poderia suportar vê-lo, sem tocá-lo? Como eu seria capaz de viver sabendo que minhas lágrimas o levaram para longe? Eu perderia tudo por um mal entendido? Por não colocar em palavras aquilo que meu coração sussurrava enquanto ele dormia?
— Não! — exclamei rapidamente, deixando que a verdade tomasse seu caminho, porque a mera possibilidade de ele pensar que eu não o queria era assustadora demais para que eu apenas deixasse passar. — Hyung, não. Eu preciso de você — acrescentei, encaixando o rosto na curva de seu pescoço, enquanto apertava os dedos em volta da regata que ele vestia. Me certificando de que ele ainda estava ali, de que aquilo era real. — Eu ainda preciso de você, por favor fique comigo.
Eu estava implorando como uma criança assustada. E Hoseok calou-se pelo o que pareceram horas depois da minha breve, porém sincera declaração.
Ele provavelmente estava pensando.
Pensando que não deveria ter me beijado pela primeira vez com tanta vontade. Pensando que pedir meu número de celular havia sido um erro. Pensando que deveria ter ido embora quando eu me ajoelhei diante de seus pés e cantei com os braços abertos e o sorriso largo a música que ele mais gostava de ouvir.
"Se eu me deitar aqui, se eu simplesmente me deitar aqui, você deitaria comigo e esqueceria do mundo?"² eu havia lhe perguntado junto à voz que saía das caixas de som do show em que estávamos. Rindo como um bobo por estar completamente embriagado, assistindo encantado sua boca desenhar-se em um sorriso enorme.
Hoseok se arrependia de ter me puxado pelos braços naquele momento para beijá-lo logo em seguida?
Eu não sabia dizer.
— Hyung? — arrisquei chamá-lo mais uma vez, enfrentando o bolo que se formava em minha garganta.
Ele moveu a cabeça para me encarar. Os olhos me observando de cima com uma expressão angustiada, enquanto eu engolia em seco, tentando me convencer de que estava preparado para ouvi-lo dizer que havia chegado ao fim, definitivamente.
Mas, contrariando minhas expectativas de forma cruel após tantos segundos de tortura, Hoseok secou uma das lágrimas que eu havia deixado escapar com a ponta do polegar, beijando a cicatriz sobre minha bochecha em seguida.
— Só por hoje — declarou, erguendo meu rosto para beijar-me os lábios. — Eu também preciso de você, Jungkook.
◆
1. I Need You. BTS, 2016.
2. Chasing Cars. Snow Patrol, 2006.
Notas da autora:
E aí? O que acharam? Vocês tem alguma teoria sobre a relação deles?
Essa fic está comigo já tem um tempinho, foi feita de presente de aniversário para uma autora que gosto muito e espero que tenha sido do agrado de quem está lendo.
Como disse no capítulo anterior, estou voltando aos pouquinhos, mas vou tentar manter um ritmo de escrita.
Por enquanto é isso, obrigada por ler.
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Todas as coisas que (não) aconteceram naquela barraca | Hopekook
FanfictionUm coração que arde não pode ser contido. Isso é o que Jungkook vai perceber ao dividir uma barraca com Hoseok, o homem por quem é apaixonado e com quem esteve por seis meses até que tudo terminasse silenciosamente, sem explicações, semanas antes. •...