Único

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Ranmaru Kageyama se considerava uma pessoa comum. Sua vida era chata e pacata, tirava notas medianas e fazia nada demais. Tudo de diferente era sua paixão platônica por Sara Chidouin. Para ele, Sara nem sabia de sua existência — embora ambos fossem da mesma classe. O motivo disso era que Sara passava o tempo todo com Joe Tazuna, amigo dela.

— Ranmaruuuu! — Anzu, melhor amiga de Ranmaru, o chamou.

— O que foi? — Parou de pensar. Normalmente, não prestava atenção nas aulas.

— É aula de artes!

— E daí?

— Nossa! Você realmente não presta atenção. — Anzu cruzou os braços. — Mishima disse que iremos ter uma aula prática!

— Prática…?

— Sim! E trouxe uma ex-aluna dele! Ele disse que ela iria auxiliar!

— Ele falou isso tudo…?

— Sim.

— ...Eu… eu tenho que prestar mais atenção nas coisas…

— Não me diga! — Ironizou.

Ranmaru suspirou aliviado. As aulas do Mishima geralmente eram as últimas, e, nesse dia, não era diferente — ou seja, ele logo iria para casa para depois dormir.

Mishima entrou na sala com várias telas de pintura. Ele vinha acompanhado de uma mulher ruiva que carregava várias tintas.

— Aí está bom, senhorita Nao. — Mishima pediu que Nao colocasse as tintas em cima da mesa. — Vamos começar essa aula, classe! Essa é a senhorita Nao Egokoro. — Apontou para a ruiva. — Ela é uma ex-aluna minha e vai me auxiliar hoje.

Joe levantou a mão.

— O que foi, senhor Tazuna?

— Por que está repetindo o que disse antes de pegar as telas e as tintas?

— Por que certas pessoas dessa sala não estavam prestando atenção. — respondeu Mishima. Ranmaru percebeu a indireta. — Mas voltando, Nao está na faculdade de artes. Nao, o que os alunos vão fazer hoje?

— E-eh… Vamos fazer duplas… e vocês terão que desenhar a sua dupla. — explicou.

— Só que tem um porém, — disse Mishima — vocês terão que desenhar a sua dupla da forma que você vê essa pessoa. Um desenho lindo significa que você vê essa pessoa como uma pessoa bonita, e o mesmo serve para desenhos feios, divertidos, esquisitos e assim vai. Entenderam? — Todos responderam um sim. — Ótimo! Eu farei as duplas!

A partir daí, Ranmaru parou de prestar atenção. Não se importava com quem iria ficar. Era sempre a Anzu, afinal.

Sentindo uma cutucada, Ranmaru parou de se distrair e olhou quem era: Sara.

— Eh… Ranmaru…

— S-sim…?

— Você e eu somos uma dupla… — disse Sara.

— Sério…?

— Sim. Pensava que seria a Anzu, certo?

— Sim… Geralmente eu faço com ela.

— Teremos um problema?

— N-nada disso! — respondeu, corado. — Não será um problema.

— Fico feliz! — Sorriu, derretendo Ranmaru com aquele belo sorriso.

Cada um dos alunos pegou uma tela e começou a desenhar. Spour acabou se juntando a sua própria irmã, Akaire. Enquanto Akaire desenhava Spour com o maior amor e carinho, Spour fazia o desenho mais feio daquela sala. Curiosamente, Joe pegou Anzu, e fazia um desenho dela vestida de palhaça. Já Anzu, desenhava Joe brincando com um cachorro.

Ranmaru olhou para Sara e começou a desenhá-la. Cada detalhe, cada tom. Era um desenho lindo.

Nao passou por perto de Ranmaru e, ao ver aquele desenho, se surpreendeu tanto com a beleza que derrubou as tintas que carregava. Por sorte, os potes estavam fechados.

Sara, por outro lado, desenhava Ranmaru o mais básico o possível. Ela não era tão próxima dele, ela não o conhecia bem. Então, fez ele… normal.

Mishima anunciou que o tempo havia acabado. Spour mostrou o desenho dele, o mais feio. Akaire não demonstrou tristeza, ela apenas mostrou o dela, um desenho bastante bonito — Spour até se gabou. Joe e Anzu mostraram os deles, Anzu riu do de Joe, achou bastante legal e divertido. Já Joe, amou o desenho de Anzu.

Sara mostrou o dela, bem básico. Ranmaru não a julgou, afinal, ela mal o conhecia, não sabia de nada dele.

Ele mostrou seu desenho, e Mishima finalmente entendeu o motivo de Nao ter derrubado as tintas. Era o desenho mais lindo da sala, cheio de detalhes, cheio de cores. E não era só Mishima, todos acharam o desenho surpreendentemente perfeito, até Spour admitiu tal coisa.

Sara se impressionou com aquilo. Então, ela se lembrou do que Mishima disse. Se o desenho de Ranmaru era lindo, então Ranmaru a achava linda. Era corou em pensar nisso.

Os sinos tocaram, a aula do Mishima tinha acabado. Anzu e Joe saíram, queriam pedir ao diretor que colocasse os desenhos em uma galeria. Spour e Akaire saíram depressa, Kai — irmão mais velho deles — iria buscá-los hoje e não gostava de atrasos.

Quando Ranmaru estava arrumando suas coisas, sentiu outro cutucão. Pensava que era Anzu, mas, na verdade, era a Sara.

— Desenho… lindo… muito lindo… — disse.

— Obrigado… o seu não estava tão ruim… — Ranmaru coçou a nuca.

— ... Você me acha tão bonita…?

— Ahn…?

— Digo, Mishima pediu para a gente desenhar o nosso parceiro ao nosso ver. Eu desenhei você normal porque não te conheço muito bem, mas você fez um desenho tão lindo…

— É que eu… admiro você de longe… — disse.

Sara deu um sorriso e entregou um papel para Ranmaru.

— O que é isso? — perguntou.

— Meu número. Quero sair com você, Ranmaru! Quero te conhecer melhor! — falava enquanto se aproximava mais e mais de Ranmaru.

— O-o-ok… — respondeu, nervoso.

— Então, tchau! Até amanhã! — Sara saiu da sala.

Ranmaru começou a encarar o número que acabara de receber. No fim, ele pensou no seu amor platônico por Sara. Teve esperança de que, se aproximando, ele teria chances com ela. Sorrindo, saiu da sala e foi para casa, todo feliz.

Desenhando vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora