song to you • drarry

bruises

Inspirado na música Bruises — Lewis Capaldi

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Cicatrizes

//HPDM//

Dia 322.

Abro os olhos com esforço, mas a escuridão não me permite enxergar muito além do teto desgastado do quarto. Um pequeno feixe de luz entra pela fresta da cortina negra, e se observado atentamente revela as partículas de poeira ainda flutuando.

O tecido por sob minha pele é áspero, e os lençóis tem cheiro de mofo. Me viro de lado e a cama de madeira velha range. Havia uma época que alguém como eu jamais se rebaixaria a viver em um lugar tão precário. Mas já faz um tempo que o nome Malfoy não tem nenhum valor, nem nenhuma opção de escolha.

Desde que você se foi, todos os dias são iguais. Não vivo, sobrevivo nesse casebre, me arrasto pelos cantos, me afogo em minha própria melancolia. Vejo as mesmas pessoas todo dia, ouço as mesmas palavras, derramo as mesmas lágrimas.

Cada fôlego que eu respirei desde então soa como desperdício. Eu me agarro, desesperadamente, à esperança de que você vai voltar pra mim, quando encontrar alguma paz.

Mas já fazem 322 dias, 7 horas, 41 minutos e 13, 14, 15 segundos que você me deixou. E você não voltou ainda.

Levanto ao ouvir a movimentação no andar inferior e meus joelhos quase falham ao tentar suportar o peso de meu corpo. Faço o caminho mecânico pelos corredores sombrios da casa, cada sombra uma promessa vazia, cada quina uma memória que se desprende de mim. Tento me agarrar à elas, forçar minha mente a não esquecer tudo que vivemos, a não esquecer você. Mas são 322 dias sem vê-lo, e suas feições aos poucos desaparecem para mim. Já não consigo me lembrar com perfeição os detalhes do seu rosto ou do seu toque. Não consigo reviver o som da sua risada, que reverberava cada nervo do meu corpo. Não consigo sentir o toque macio dos seus cabelos rebeldes. Você tem escapado de mim, como areia escorrendo pelos meus dedos. Eu tento te segurar, tento manter guardado tudo que posso, mas o tempo é impiedoso e te arranca de mim. Até meus sonhos sobre você têm se tornado cada vez mais nublados e distantes. Você está desaparecendo, Harry Potter.

"Você deveria comer alguma coisa."
Ouço a voz severa me chamar atenção.

Minha mãe não se parece mais com o que ela foi um dia. Quem conheceu Narcisa Malfoy saberia descrevê-la como uma mulher altiva e esnobe, fria, arrogante e orgulhosa. Apesar de não ser de muita estatura, Narcisa sempre olhava para os outros do alto de ego, e seu olhar azul gelado conseguia petrificar quem quer que fosse a vítima.

No entanto, com o fim da guerra e Lucius em Askaban, todo o dinheiro e propriedades confiscados e com um filho que estampa a marca negra no antebraço, não sobrou muito para que ela pudesse se orgulhar. Você nos arranjou essa propriedade as margens de um vilarejo bruxo no sul da Escócia, deixou Kreatcher, o elfo doméstico e algum dinheiro junto com a promessa de voltar. Mas ao contrário de mim, minha mãe já não acredita que algum dia você vá cumprir.

Narcisa me olha com desprezo. Estou magro, doente. Ela confiscou todas as fotos suas que eu tinha, e não me deixa ler O Profeta Diário para que não veja você. Ela diz que estou viciado, e preciso desintoxicar.

"Não estou com fome." Estico o braço para alcançar o jornal em cima da bancada da cozinha mas com um aceno de varinha ela o convoca para perto de si, o tirando do meu alcance. Suspiro. Até quando serei privado até de ler sobre você?