Encontro 4: Incrédulos também têm momentos de fraqueza

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Ele nem tinha planejado aquilo. Tinha ido para o parque apenas para aproveitar a visão noturna das árvores, a falta de pessoas e o movimento tranquilo da água na fonte. Ok, quem ele estava querendo enganar? Ninguém ficava voluntariamente em plena noite fria em um parque vazio. Mas naquele final de tarde, quando estava indo para o supermercado comprar algo para fazer o jantar, recebeu uma mensagem de um amigo avisando sobre um possível caso de traição de um ator não muito famoso de HolyWood. Sanji nem sabia se iria realmente ver algo comprometedor, mas resolveu arriscar.

Então lá estava ele, sentado em um dos bancos mais escondidos da área central do parque, esperando o tal ator passar. Numa pesquisa rápida na internet descobriu que ele geralmente fazia papel de vilão nos filmes e quando o dito cujo apareceu usando um sobretudo, supôs que ele parecia um vilão mesmo na vida real.

O ator parou próximo a fonte, batendo um dos pés no chão de modo ansioso. De tempo em tempo olhava para o relógio de pulso. A sua companhia devia estar atrasada. Sanji saiu lentamente de onde estava e deu uma volta por trás até chegar num ponto onde seria melhor de fotografar, mas que ainda pudesse se ocultar com um arbusto folhoso.

Ficou agachado por quase vinte minutos na mesma posição, apenas mudando o joelho com o qual se apoiava no chão irregular. Isso era tempo demais para ficar ocioso, assistindo o ator ficar cada vez mais ansioso próximo a fonte, então antes que tomasse consciência, pegou-se pensando no tatuador. Sempre que se reencontravam o sujeito acabava usando da situação para falar frases espertas e rir de Sanji. E por duas vezes tinha conseguido tomar beijos dele.

Quer dizer, tinha sido o próprio Sanji quem iniciara o beijo nas duas situações, mas isso era assunto para um outro momento. O que importava era que, do jeito que acabavam se reencontrando nos momentos mais imprevistos, não duvidava que ele surgisse a qualquer momento para rir de seu esconderijo atrás do mato. Ou quem sabe, viesse para roubar mais uns beijos. Sanji não iria achar isso tão ruim assim.

Pouco tempo depois, enquanto ainda pensava na possibilidade improvável do tatuador aparecer, Sanji viu uma mulher se aproximar também usando um sobretudo. Já tinha preparado a câmera pequena que levava para possíveis fotografias de emergência quando a mulher passou por um dos postes e seu rosto ficou mais visível. Era a esposa do ator!

Sanji não entendeu. Não era pra ser um caso de traição? Assistiu confuso quando os dois conversaram baixo entre si e depois, de mãos dadas, seguiram pra dentro da parte mais fechada do bosque. Será que estava planejando fazer coisas indecentes ao ar livre? Se fosse isso mesmo, ele não os julgaria. Afinal, ele também tinha essas vontades de vez em quando, embora nunca tivesse tido oportunidade de pô-las em prática. Seus ex-namorados e ex-namoradas tinham sido bem pudicos nessa questão.

Analisava se devia ou não seguir o casal bosque adentro para verificar se de fato não estavam envolvidos em algo mais escandaloso do que um simples sexo ao ar livre quando ouviu passadas apressadas se aproximando de onde estava. Só teve tempo de avistar um enorme cachorro marrom antes de ser derrubado e ter seu rosto lambido animadamente.

— Ei, o que é isso! — tentou afastar a língua do bicho de seu rosto, mas só o conteve brevemente quando suas mãos resvalaram na coleira.

As pessoas não costumavam caminhar com seus bichos àquela hora da noite. Seria esse o tal momento improvável que encontraria o tatuador? Sanji nem percebeu o quanto estava torcendo para isso acontecer até que, ao invés de surgir o homem de pele marcada e cabelo verde, quem apareceu foi uma mulher de cabelo preto e curto.

Ela correu em sua direção, já pedindo desculpas antes mesmo de Sanji poder ver seu rosto. O cachorro, agora mais calmo, estava sentado ainda perto de Sanji, com a cauda balançando animada.

— A guia rompeu de repente e ele correu como um louco! Desculpe! — ela arfava por ter corrido para acompanhar o cão. Não vestia roupas próprias de caminhada. — Sirius, você foi um menino muito mal! Não faça isso de novo. — ralhou ela com o cão.

Sanji sorriu, levantando-se e batendo na bermuda para tirar o excesso de areia e folhas.

— Ah, tudo bem, não precisa brigar com ele. Ele não me machucou.

— Tem certeza? Quer que eu te acompanhe em uma farmácia? Você pode ter se arranhado.

Negando a solicitude, Sanji deu um carinho na cabeça do cão e se ofereceu para acompanhá-la até a saída do parque, já que não sabia que tipo de pervertido poderia estar andando por aquelas redondezas.

A decepção por essa previsão falha de encontro com o tatuador duraria até sua própria chegada em casa, onde ficaria um pouco mais animado depois de ser recebido por suas amadas papagaias e por um suflê feito por Vivi e sua namorada, Nami. Um presente por seu empenho no trabalho e também um pedido para que ele relaxasse mais.

Depois até riria desse delírio sobre acreditar que o encontraria de modo tão improvável. Não era de seu feitio crer nesse tipo de coisa, muito menos se fosse para rever alguém que nem sabia o nome e que lhe irritava só de ver o sorrisinho prepotente dele. Por um breve momento aquele papo de Vivi sobre o deus do amor até lhe veio à mente, mas logo o dispensou.

Destino definitivamente não existia.

Casualidades e ConfluênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora