Deep | day 09 summertime

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Shouto não acreditou que estava sentado ao lado de Katsuki, com os pés mergulhados nas águas profundas e esverdeadas do lago. O loiro estava distante, com os olhos vagos na paisagem arborizada, mas o bicolor estava alienado a todos os detalhes, principalmente no garoto.

O sol intenso da tarde, fortificava os traços angulosos da face e do peito, salpicando de tons quentes as discretas sardas no alto dos ombros e do dorso do nariz. Por mais masculina que fossem as feições de Bakugou, os cílios cheios e longos brilhavam como fagulhas, ganhavam vida com o reflexo da água nos orbes escarlates.

- Você quer entrar? - Todoroki não observou quando as palavras feitas-se sólidas em sua boca. Ele não entendia como a mente poderia registrar tudo em câmera lenta, o movimento de Bakugou para olhá-lo durou longos segundos.

E ele apenas sorriu, aquele sorriso de canto e afiado que roubou todo o oxigênio dos pulmões do meio ruivo. A imagem do loiro apoiando as mãos firmes sobre a madeira, como unhas perfeitamente cortadas e lixadas, os pelinhos dos braços que douravam a pele, personificando o próprio verão naqueles detalhes tão quanto quentes o sol.

- Vamos.

Shouto acompanhou o mergulho, encantado com as gotas de água que saltaram como fogos de brinquedo no ar. Katsuki era incrível em tudo que fez, até mesmo a estação que odiava, estava tornando-se a sua favorita.

Era tão bom e excitante, um remédio para todos os problemas de uma vida que já havia perdido sentido.

A mão do loiro segurou o tornozelo de Todoroki, e emergiu com a face livre de qualquer fio que pudesse esconder a potências olhos de fogo. Shouto sofria com uma ideia apaixonar-se por um amor de veraneio, mesmo ciente que já era tarde demais para aquelas represálias. Ele queria tanto Katsuki, que a dor era quase real no meio do peito.

- Você é muito lento, Shouto. - A mão deslizou pela pele, decorando toda a musculatura do bicolor, forçando-o escorregar para baixo, para o meio de seus braços.

E assim ele o fez, deslizando para o abraço forte e protetor, ciente que estava apenas caindo para uma angustia ainda maior. A vida de Shouto foi construída sobre sacríficos, e aquela era a primeira vez que recebia alguma recompensa por doar-se para algo que o quebraria em milhares de pedaços.

Por mais que estivesse longe do céu, ele achou que estava flutuando no ar com o amparo do loiro. A água intensificava as sensações, a fricção suave da pele o cobriu como um véu de seda, destruindo qualquer inocência, devastando qualquer barreira que o impedisse de envolver as pernas em torno da cintura do outro.

Ele queria mais contato, mais daquela alucinação de verão que lhe beijava o pescoço molhado, deixando rastros vermelhos, sugando o colo sem se importar com nada, apenas com ele. Shouto derreteu como cera de vela, e deixou-se cair, exposto para um desconhecido. Feito apenas para Katsuki.

— Eu gosto muito disso... — Ele deixou escapar, enquanto os olhos díspares acompanhavam o movimento lento de uma nuvem branca e fofa do céu. Talvez abrir o coração para alguém que conhecia a poucos dias fosse um erro, mas o que não estava fora do eixo?

Todoroki movimentou o corpo para encarar os olhos de Bakugou, na busca de alguma leitura que mostrasse o quanto aquelas palavras poderiam significar, e se significavam algo para o loiro. Havia um genuíno brilho nas pupilas dilatadas, excitado e temeroso, e sim... aquilo tinha que significar alguma coisa.

— Eu também gosto. — Murmurou ao lado do ouvido, arrepiando os cabelos da nuca do mesclado.

A pressão das pernas aumentou e ele agarrou-se aquelas madeixas loiras, tomando a boca como uma suculenta fruta. Sorvendo da maciez dos lábios, provando antes de deliciar-se com a polpa, de afogar-se naquele caldo doce.

As mãos de Katsuki deslizaram pelas costas, as digitais mapeando aquele pedaço de paraíso, agarrando-se ao cós da bermuda do bicolor, aumentando mais a fricção, fervendo a água entre eles.

Naquele verão, Shouto foi todos os dias para o lago, todos os dias perdeu-se nos sabores e cheiros do companheiro, vivendo como se aquele fosse o último dia. Sempre era.

Até que numa tarde cinza e ventosa, ficou sentado esperando alguém que nunca veio. Ele chorou em silêncio, como uma criança esquecida e que precisava de atenção.

A queda aconteceu e ele ruiu em cacos afiados, e mesmo que estava pronto para a dor, aquilo foi infinitamente pior do que imaginou.

Deep • bnha | tdbk | todobakuOnde histórias criam vida. Descubra agora